XXV - Desespero

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Madara foi dispensado durante a tarde, e voltou para casa apenas para passar a noite com Izuna. Ele tocou piano para o irmão, jantaram sobre o balcão de mármore da sacada que ficava próximo à churrasqueira recebendo a brisa fresca da noite, enquanto tinham o porto ao longe como bonito cartão-postal, Madara falou com os pais explicando que tinha ido bem na primeira parte do tratamento e estava apenas esperando a medula, dando a oportunidade de saberem que logo poderiam lhe visitar.

Depois ele e Izuna correram para a sala e ficaram assistindo qualquer coisa enquanto tomavam sorvete. O calor vinha em peso, mas quando a noite estava quase cedendo seu espaço para a madrugada, uma chuva torrencial varreu Yokohama, e diminuiu as temperaturas.

Madara se deitou para dormir e convenceu Izuna de ficar consigo, algo que o irmão vinha se recusando para lhe preservar enquanto descansava.

- Eu estou melhor.

- Sim, eu sei. Peguei o resultado do hemograma, o seu sistema imunológico tá meio balançado, mas é melhor do que antes. Só que eu ainda tenho os meus receios.

- Você é médico, eu não estou surpreso.

- Não esteja. - Ele passou a mão sobre a cabeça de Madara. - É muito estranho te ver sem cabelo.

- Faça o favor de não se meter com a minha autoestima senão eu te coloco pra fora daqui!

Ele bradou, arrancando uma risada de Izuna.

- Eu não disse para ofender. Na verdade não é que você tenha ficado feio, mas parece muito frágil, isso é estranho vindo de você.

- Eu estou horrível, cala a boca. - Foi assim que Izuna sentiu qual era o ponto fraco do irmão. - Vai demorar anos até ficar bom de novo, e não quero falar sobre isso.

- Eu vou te comprar um monte de lenço de seda daqueles bem caros e cheios de detalhes pra você fazer de cabelo. Assim vai se incomodar menos.

- Vou ficar horrível do mesmo jeito. - O mais novo revirou os olhos. - Finja que nada aconteceu na minha cabeça.

- Claro que sim, o cabelo continua aí, pintado de transparente.

Madara reclamou de alguma coisa que saiu sem se fazer entender muito, e se cobriu até os ombros. A queda brusca da temperatura o fez sentir mais frio, então Izuna preferiu garantir que ele ficasse bem aquecido para evitar algum resfriado. E o próprio cansaço fazia com que adormecesse rápido, então com o silêncio ele acabou dormindo primeiro que o irmão.

Izuna o ficou observando um tempo, prestando atenção até mesmo no movimento de seu corpo ao respirar. Ele cuidava do cateter para Madara, e o tinha ensinado algumas coisas, agia como médico e irmão, e encontrou nisso uma maneira de não ficar tão maluco enquanto acompanhava a evolução do quadro. Em verdade Madara também transmitia muita calma mesmo estando tão doente então isso deixava Izuna melhor.

Ele sabia que o outro havia passado por muita coisa, então não julgava sua cautela. Tobirama insistia em dizer alguma coisa sobre Madara ser orgulhoso e arrogante, e acabar machucando Hashirama se eles tornassem a se encontrar, mas Izuna conhecia o irmão, sabia que ia além do que as palavras frias poderiam mostrar.

Não acreditava que ele pudesse aceitar o Senju em sua vida como se nada tivesse acontecido, mas podendo saber da verdade, ele se colocaria a ouvir, e até mesmo repensar seus sentimentos. E talvez fosse ao descobrir que havia sido enganado não por Hashirama, mas pelo pai dele e o Uzumaki, que houvesse uma chance mínima de que não fosse tudo um grande desastre.

Mas os pensamentos de Izuna ficaram consigo até ele adormecer, mais uma vez sem respostas.

...

- Basicamente a consolidação é um tratamento complementar da indução, que dá certo quando a doença sofre a remissão e não encontramos mais células doentes na corrente sanguínea, e cinco por cento ou menos na medula. Por isso você fez os dois exames de novo, para que tivesse essa confirmação. - Madara estava de volta ao hospital, mas dessa vez internado, o que mudou drasticamente da primeira fase, quando poderia ir para casa. Enquanto isso a quimioterapia era acoplada no soro, e então em seu cateter. - A consolidação serve para destruir qualquer célula doente que sobrou, e prevenir que haja a recidiva da doença.

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