VIII - Sentenças

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- Madara.

A feição tristonha de Kaoru estava guardada pela máscara, mas o olhar caído o magoou, pois ele não queria que aquele sorriso escondido dela desaparecesse, principalmente por sua culpa. Ela o abraçou apertando, precisando garantir que ele ainda estava lá e não se tratava apenas de uma lembrança, e ocupou a cadeira vaga, que até então o Uchiha tinha certeza de que não seria usada por ninguém além de Viktor.

- O que aconteceu? Foi repentino?

- Ao que parece estava ligado com aquela fraqueza que eu vinha sentindo. – Sua própria voz denotava um estado de cansaço permanente. – Têm mais ou menos umas duas semanas, mas o médico disse que para esse tipo de leucemia é normal que os sintomas sejam rápidos entre começarem e a doença surgir.

- Ah. – Ela estendeu a mão, e seus dedos se uniram. – Foi tão repentino, eu ainda nem me recuperei do piano na terça-feira.

Naquela terça-feira seguinte se completava uma semana desde o momento com "She". Madara até mesmo conseguiu sorrir um tanto com a lembrança.

- É um bom momento para você guardar na memória.

- Pode ser, mas eu espero que não tenha sido o último. Não entendo muito da área da saúde, mas quero falar com o médico para saber se posso ajudar de algum jeito.

- Pode.

A voz de Viktor se fez soar assim que ele apareceu. Estava acompanhando Madara de perto, e o colocando a par dos resultados faltantes para confirmação do subtipo da leucemia e o início do tratamento. Por enquanto a anemia e as outras deficiências estavam sendo controladas para que ele estivesse com o organismo um tanto mais fortalecido para o início do ciclo com a quimioterapia, que seria intenso.

- Eu vou fazer o cadastro no banco de doação de medula, então pessoas conhecidas que possam fazer o teste para compatibilidade vão ajudar muito.

- Quero. – Kaoru se adiantou e se pudesse já estaria estendendo o braço. – Assim que puder eu já faço o teste, é só me avisar.

- Tudo bem. Eu vou esperar apenas o início do tratamento e aí nós poderemos dar andamento na pesquisa por uma nova medula, porque ela só pode ser transplantada depois de eliminar as células tumorais. O transplante é extremamente importante para a busca da cura, por isso eu te perguntei sobre a sua família. – Viktor tinha um jeito carinhoso de agir, e um cuidado além do humano para seus pacientes. – Eu já percebi que não gosta de falar sobre eles, e respeito suas decisões, quero que entenda isso. Mas eu estou aqui para te ajudar com o tratamento, e preciso recorrer as pessoas próximas para tentar encontrar um doador de medula, que infelizmente ainda é uma realidade difícil, porque as pessoas têm medo, ou preconceito com a doação. Não por agora, mas você consegue entender isso?

- Mais do que eu gostaria, devo admitir. - Madara respirou fundo, sentindo o rosto ser esbofeteado pelo passado. - Aconteceu muita coisa lá atrás que me fez mudar de cidade e não querer contato com a minha família. Ao ponto de eu abrir mão de tentar saber com eles se existe alguém que possa ser compatível comigo, porque não quero voltar ao passado.

- Vou te dar o tempo que for necessário para pensar sobre isso, mas quero que saiba que eu respeito as suas decisões. Se achar que esse é o melhor caminho, a gente procura novas alternativas.

- Eu preciso de tempo para pensar. - Viktor anuiu. - Mas te aviso assim que minha mente estiver um pouco mais limpa com tudo isso.

- Fique à vontade. Eu estou controlando os seus pontos de maior fraqueza enquanto não recebo o resultado, mas não deve demorar mais do que entre hoje ou amanhã, já que pedi urgência para ter o diagnóstico mais preciso.

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