Kamélia Sorthur
Kamélia disse a si mesma que não. Não iria fazer aquilo, por mais que seu coração estivesse quebrado e ela sentisse com todas as forças que devesse.
Mas a cada passo que dava, o miado antes longe se aproximava, e ao olhar para trás, de soslaio, aquele gatinho preto cujo a pintora havia alimentado com um pouco de leite a seguia desesperadamente.
— Não sou sua mãe — ela disse, mantendo os passos firmes, embora lentos. Tinha parado duas ruas antes da galeria para tirá-lo do meio da rua e isso havia lhe custado minutos preciosos. — Vá procurá-la.
Mesmo falando aquela curta frase, ela sabia que a mãe dele não estava por ali.
Na calçada, perto de onde o animalzinho se encontrava perdido, Kamélia tinha visto uma caixa com alguns panos sujos, comida velha e uma caixa escrito "grátis".
É possível que tivessem o abandonado ali. Não só ele, como outros, sortudos o suficiente para serem adotados primeiro, e isso a revoltava.
Quando criança, sempre teve vontade de ter um bichinho de estimação que não fosse um peixe. Era apaixonada por lobos e panteras negras pois achava-os fofos, e isso tirava a paciência de qualquer pessoa que estivesse perto.
"Você viu como eles são gigantes? E lindos? Olhe a forma como eles andam e correm, posso ganhar um? Prometo ser uma boa garota o ano todo!", costumava pedir à mãe, ou ao papai noel, às vezes desejava em seus aniversários antes de soprar as velas.
Lembrar disso agora era engraçado.
Com o tempo, felizmente, aprendeu o motivo de não poder criá-los e se contentou com o Bemo. Até que ele morreu, cinco meses depois, por causas desconhecidas, e nunca mais nenhum outro animal entrou em seu lar. Um cachorrinho, coelhos, talvez um possível gato...
Ela parou de andar abruptamente e encarou o bichinho. Pequenino, os olhos verdes, intensos. Não tinha mais que um mês e estava magrelo, precisava de vitaminas e um bom veterinário.
E, caso ousasse deixá-lo ali... tinha certeza que iria morrer.
— Não sou uma pessoa responsável, você precisa saber disso — falou, pensando que estava maluca por conversar com uma animal que sequer lhe entendia. — Então se você quiser ir embora, é melhor ir agora.
Mas o gato não se moveu. Apenas se esgueirou entre as pernas dela e miou novamente.
— Ela vai me matar — disse para si, a voz saiu alta. — Vai fazer pedacinho de mim e seja lá o que for acontecer hoje, eu estou ferrada. E a culpa é sua — manteve os olhos julgadores nele.
Abaixando-o para segurá-lo, sorriu, enfim rendendo-se.
Era tão fofo. Amigável demais para alguém que tinha sido desamparado e isso definitivamente a venceu. Só precisava acrescentar um banho para a lista de cuidados também.
Já em pé, com a criaturinha no braço, uma movimentação estranha lhe assustou. Olhou para trás, para o fraco movimento, para os carros passando apressados, e parou de sorrir.
Tinha tentado apagar da mente o rosto daquele homem da boate, tinha tentado ignorar o medo, mas ainda sentia-se fraca.
Aqueles olhos malvados não haviam aceitado trégua, mesmo ele saindo do estabelecimento por conta própria. E Kalémia tinha receio de algo acontecer com ela.
Quando chegou na galeria com a respiração agitada, pensou na possibilidade de entrar pela frente. Estava tão linda, vestida para ser notada por todos. Mas o miado, contínuo, lhe fez dar a volta, e ela optou pela porta dos fundos. Ou tentou.
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The Demon: heaven or hell? ❄ Kwon Jiyong
FanficO demônio. É assim que um dos maiores traficantes da Coréia do Sul é chamado pelos policiais e detetives que o procuram. Ninguém sabe quem ele é. Ninguém sabe onde ele se esconde. Ninguém sabe como tudo verdadeiramente começou. A única coisa que de...