Capítulo 4

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Kamélia Sorthur

O pavor tomou conta de Kamélia com tamanhos olhares. Por minutos, a coragem na qual havia feito a garota andar com seu quadro até o salão havia sumido, deixando-a sozinha com as atitudes impensadas e suas consequências.

Ainda assim, estaria mentindo se falasse que estava arrependida. Não estava.

Por maior que fosse o pânico em seu interior, ao menos poderia voltar para casa depois que tudo finalmente fosse encerrado e dizer para si "eu tentei, dei o meu melhor".

E o simples elogio a si mesma a fazia se sentir bem. E sem arrependimentos.

— Quando isso acabar, nós duas vamos ter uma conversa séria — ouviu a voz da diretora Bae dizer ao se aproximar.

A mulher soltou um grande sorriso, obviamente fingido e pegou o quadro de Kamélia. Inicialmente pensou em negar aquele ato, com medo, mas logo o soltou ao notar que Bae iria colocá-lo ao lado de sua obra anterior. A que estava pendurada na parede.

Algumas pessoas então começaram a se aproximar. Curiosidade emanando de seus olhos brilhosos. Pareciam mais elétricos que os burburios vindos de suas taças de champanhe e Kamélia gostou daquilo. Os olhares. Porque sentiu, pela primeira vez desde que começara a pintar, a valorização.

Claro que estavam curiosos por sua atitude, mas também pareciam gostar de seus quadros. Ambos, embora contemplassem por  mais tempo o segundo. A garota não os culpava. Também havia o amado.

Traços simples com preto, branco e vermelho. As cores intercalando-se em surrealidade e beleza... era diferente de seu primeiro quadro. Era mais intenso. Cortante.

Porque essa fora a sensação que teve ao observar aquele homem.

Parecia feroz. Parecia triste. Parecia o vermelho do sangue, o preto da escuridão e o branco da neutralidade, já que não conseguia considerá-lo alguém bom. Kamélia não conhecia.

Manteve-se sorridente enquanto perguntas eram feitas para ela, simples, com sorrisos admirados e atrativos. Nunca vira aquilo antes.

— Mas então, o que aconteceu? — um homem perguntou.

Cabelos grisalhos, sorriso amável e olhos penetrantes. Julgatórios.

Provavelmente fosse um expert na arte.

— Como? — Kamélia murmurou, tentando soar educada.

Sua postura não falhou, mas era um fato que havia se sentido um pouco confusa com a indagação.

— Seus quadros, querida — começou a explicar. — Observei todas as obras ao nosso redor, muito belas por sinal, mas posso sentir algo diferente em relação ao seu. Ambos se contrastam. Como o bem e mal. Não sei se estou certo, mas essa foi minha visão. E queria saber o que incentivou você pintar algo tão pulcro e profundo.

Pensou em várias maneiras de explicar ao homem quais os vários significados e motivos por pelos quais pintara ambos os quadros, mas não conseguiu formar uma frase digna.

Quando se tratava de arte, Kamélia sempre soltava frases soltas ou desenhava quadro soltos pois a interpretação em si era a melhor parte. Ela amava isso. Era como criar teorias de livros ou filmes com finais monótonos. Entretanto, o monótono, se observado melhor, se analisado mais a fundo, era algo incrível.

— Pessoas — disse, com um sorriso no rosto.

— Pessoas?

— Sim, isso mesmo.

— Mas como essas pessoas mexeram na sua vida ao ponto de fazê-la pintar algo assim?

O homem parecia transtornado. Não do tipo ruim, apenas tentava entender o que Kamélia acabara de dizer. Apenas tentava assimilar suas palavras com a arte da bela garota.

The Demon:  heaven or hell? ❄ Kwon JiyongOnde histórias criam vida. Descubra agora