Capítulo 2

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Kamélia Sorthur

A primeira coisa que Kamélia recebeu ao chegar na galeria foi uma bronca. Uma terrível bronca vinda exclusivamente da diretora do local, que antes havia lhe recebido tão bem.

— Por que está vestida assim, menina? — a diretora indagou.

Os olhos quase saltando de tamanho horror, como se Kamélia fosse uma fodida aberração na qual a assustaria pelo resto da vida.

— Me desculpe, de verdade, a exposição ainda está acontecendo?

— É claro que sim, encerrará somente às onze.

— Que alívio!

Kamélia começou a andar para o salão, já que havia entrado pelos fundos, mas antes de ser capaz de adentrar o mesmo, foi impedida.

— Para onde pensa que está indo?

— Preciso trocar o quadro.

— O quê?

Bae a encarou confusa, então observou algo nas mãos da garota. Grande demais para ser escondido, entretanto, por conta da aparição repentina de seu melhor colaborador, deixando-a atônita, não foi capaz de notar.

— Preciso trocar o quadro — repetiu.

— Mas por que?

— Porque criei outro novo. Estava pintando. Desculpe chegar atrasada e repleta de tinta, mas não pude ir embora e perder a inspiração. Vi algo interessante e quis desenhar. Foi mais forte que eu.

— Querida, não é assim que as coisas funcionam...

— Eu sei, eu sei, mas... sei lá, pensei que fosse possível.

— Eu sinto muito — a diretora falou, com um semblante triste.

Mas o interior de Kamélia sabia que isso poderia acontecer. Até mesmo na arte haviam regras.

— Tudo bem... — pronunciou,  rendendo-se. — Então devo ir ao menos pedir desculpas pela demora. Todos estão dando o seu melhor, enquanto eu desperdicei minha oportunidade.

— Sim, você merece. Houve muitos elogios sobre seu quadro hoje, todos estavam curiosos com sua pintura. As pessoas querem conhecer você, até lhe deram um apelido.

— Apelido? Qual?

— Autora desconhecida.

De algum modo, sentiu vontade de rir.

Não era bem um apelido mas sim um fato.

Desde pequena, era assim que se considerava. Uma autora desconhecida, na qual nunca foi devidamente valorizada pelos demais.

Quando recebeu a oportunidade de viajar do Canadá para Coréia do Sul e participar de uma exposição de artes com artistas recém formados e desconhecidos... sentiu que era sua chance. A chance de mudar isso.

Quão irônico era? Parecia regredir até mesmo na evolução.

— Bem, acho que agora está na hora de ser conhecida — falou, com um pequeno sorriso.

— Com certeza, mas não assim — ela impediu Kamélia outra vez.

— O quê?

— Vá trocar de roupa.

A garota tinha saído de seu apartamento com tamanha pressa que sequer tinha pensado em sua vestimenta. Apenas entrou no carro, deixando o quadro posicionado de maneira que não o estragasse e foi para a galeria. Estava péssima, sabia. E seria vergonhoso adentrar daquele jeito.

The Demon:  heaven or hell? ❄ Kwon JiyongOnde histórias criam vida. Descubra agora