Capítulo 20

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Kamélia Sorthur

Duas semanas. 

Faziam exatas duas semanas desde o beijo com Kang, e a lembrança daquele momento ainda queimava em sua mente como um fogo indomável. 

Kamélia se viu revisitando cada detalhe, cada segundo da intensidade que haviam compartilhado. A confusão de emoções a cercava como uma neblina espessa, tornando difícil discernir o que realmente sentia.

Naquela manhã, enquanto caminhava pela sala, seus olhos percorriam os quadros inacabados que adornavam as paredes. A luz suave do sol penetrava pelas janelas, iluminando as pinceladas vibrantes que davam vida a suas criações. 

Mas, por mais que tentasse se concentrar na arte, sua mente sempre voltava para ele. Para o jeito como a olhara, a intensidade do toque que enviava ondas de calor por seu corpo e, principalmente, para a incerteza que a permeava.

Kamélia suspirou e se afastou de sua tela, passando a mão pelos cabelos, tentando afastar os pensamentos indesejados. Ela sabia que precisava de espaço, mas cada vez que se lembrava da proposta do homem de passar a noite juntos, sentia um misto de temor e desejo. 

O que significava estar com alguém como ele? 

Era um mundo de sombras e riscos que ela tinha certeza que ele estava envolto, embora tentasse manter as aparências, e não estava pronta para se aventurar nesse território desconhecido. Nunca esteve. 

Relacionamentos, por si só, já eram complicados. E o que vinha acompanhado daquele homem era muito, muito pior.

Enquanto olhava para um dos quadros, um retrato de uma cidade iluminada à noite em tons avermelhados, sua mente flutuava entre o que era seguro e o que era atraente. 

Sua casa, embora pequena, com suas paredes cobertas de arte e suas cores vibrantes, representava seu refúgio. Mas havia uma parte dela que ansiava por mais, por experiências que a tirassem da sua zona de conforto.

E tentou fazer isso nos últimos dias. Tentou mesmo.

Mas uma sensação de inquietação começou a tomar conta dela sempre que colocava os pés para fora de casa e até mesmo dentro, pois, ultimamente, ela sentia que estava sendo seguida, vigiada, analisada, como se olhares invisíveis pesassem em cada passo que dava. 

A princípio, atribuiu isso à sua própria ansiedade; talvez fosse apenas o efeito do beijo, a intensidade daquele momento que a deixara com os sentidos em alerta. Mas à medida que os dias passavam, o incômodo se tornava mais real, impossível de ignorar.

Enquanto continuava a caminhar pela sala, o som do telefone a trouxe de volta à realidade. 

Ao pegar o aparelho, viu que era seu amigo e colega de arte.

— Você vem para a galeria hoje? — a voz de Hajun a questionou do outro lado da linha.

— Não sei, estou meio ocupada esses últimos dias — respondeu Kamélia, hesitante. 

A ideia de se misturar com as pessoas que a observavam com olhares curiosos a deixava nervosa.

— Está tudo bem, Kamélia? Você tem andado estranha — Hajun insistiu, a preocupação transparecendo em seu tom.

Kamélia hesitou, mordendo o lábio. 

O que poderia dizer? 

Que um beijo inesperado havia desestabilizado seu mundo? Que a presença de um homem de influência incontestável a fazia sentir um turbilhão de emoções, mesmo  que isso não fizesse o menor sentido e sequer devesse acontecer? 

The Demon:  heaven or hell? ❄ Kwon JiyongOnde histórias criam vida. Descubra agora