Capítulo 18

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Kamélia Sorthur

Ela estava contente com aquilo quando entrou em casa.

Um pouco apreensiva, é claro, afinal de contas ele não parecia o melhor cuidador do mundo para aquele gatinho preto, mas sentia que ao menos, tirá-lo da rua e lhe dar  um teto temporário, naquela situação de desespero, era melhor que nada.

Além do mais, mesmo que não recebesse todo o carinho necessário, não lhe faltaria comida, poderia garantir. Principalmente se fosse Marta a responsável pela sua alimentação.

Agora, tudo o que precisava fazer era encontrar um lar que lhe acolhesse definitivamente. E essa era a parte mais difícil.

— Definitivamente não — Hajun falou, negando com a cabeça.

Ele passou por ela apressadamente, segurando algumas tintas em tons pastéis e indo em direção ao seu próprio quadro inacabado.

— Fala sério! — Kamélia o acompanhou apressada, subindo as escadas com cuidado para não tropeçar. — Não foi você quem disse que precisava de companhia na semana passada?

Por ser segunda- feira, a galeria estava fechada para visitas, entretanto, os pintores, como ela e Hajun, recém contratados, podiam entrar e pintar seus quadros tranquilamente no segundo andar.

Era um ambiente completamente claro, com incontáveis janelas e poucos móveis, mas incontáveis pinturas em seus processos criativos. Alguns no chão, outros encostados na parede, em cima de bancos, mesas. 

Nas primeiras semanas, a jovem costumava pintar ali. Observava a vista e deixava a imaginação inspirar-lhe. Com o tempo, começou a levar suas artes para casa e entregá-las somente quando terminadas, igual ao dia da inauguração.

Hoje em específico, como sabia que Hajun estava aqui e queria muito conversar com ele, ela apareceu, fingindo não ter segundas intenções.

Mas ele não era idiota, ele sabia disso.

— Sim — concordou. — Mas eu me referia ao calor humano.

— Um animal é bem melhor que isso.

— Um animal dá muito trabalho.

— Mas compensa, no final.

Hajun a encarou desconfiado enquanto sentava-se em um banco frente a tela rabiscada. O cabelo desgrenhado recém platinado, mas a raiz marrom clara aos poucos se tornavam visíveis.

Aquele tom sereno combinava bastante com ele. Com a sua essência iluminada.

— Por que está tão interessada em me fazer adotar um gato? — ele indagou curioso.

Cruzando os braços, Kamélia procurou  uma frase que fosse capaz de convencê-lo.

— Porque encontrei um na rua ontem.

— E?

— E eu ainda não conheço muitas pessoas por aqui. Um amigo meu se disponibilizou para cuidar temporariamente, mas se eu não conseguir alguém para ficar com ele em menos de um mês, o gato vai parar na rua.

Ele pareceu pensativo, quase como se fosse capaz de ceder e isso deu à jovem um pouco de esperanças. Porém, virando-se para o seu próprio trabalho, seu amigo soltou:

— Bem, boa sorte na sua busca, então.

— Hajun! — Kamélia soltou uma cara triste. — Você não sabe de ninguém que queira adotar um bichinho de estimação?

— Ultimamente não.

— Caramba.

— Mas posso te avisar se eu souber.

The Demon:  heaven or hell? ❄ Kwon JiyongOnde histórias criam vida. Descubra agora