Capítulo 5

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Sirenes tocavam por todos os lados e a terra tremia quando Yuhan acordou de um sonho colorido em tons de púrpura, rosa e azul turquesa. Geralmente ele não parava para dormir, mas quando ele tinha contato com muitas almas de uma vez ele precisava desse repouso para poder descansar sua aura e assumir a ponte sem cometer erros durante as travessias. Durante sua ausência havia outros atravessadores que o substituíam, mas por serem mais novos na função podiam cometer erros e o barulho daquelas sirenes era típico de algum possível erro grave de um substituto.

-TONY!! –Ele gritou da sua porta.

Tony veio correndo e estava com o semblante totalmente pálido e desesperado.

-O que aconteceu garoto!? Conte logo! –Exclamava Yuhan impaciente.

-Senhor... não sei explicar. Como posso explicar? Céus é o Caos! Ninguém disse que o apocalipse se aplicava a nós.

-PLAFT! –Era Yuhan dando um tapa na cara de Tony. –Se concentra garoto! Você trabalha no Reino dos mortos não tem motivo para entrar em pânico.

-Senhor... A ponte caiu! A PONTE CAIU SENHOR! COMO NÃO ENTRAR EM PÂNICO?  A PONTE DESABOU.

Yuhan olhou confuso para seu subordinado e revisou mentalmente, em segundos, possíveis hipóteses do que poderia ocasionar algo tão grave e que nunca havia ocorrido antes.

-Yuhan saiu correndo de seu escritório e encontrou o caos no pátio. Grifos voavam pelos céus rubros e grasnavam em coro. As almas penadas trombavam umas nas outras e muitas delas tomaram aspectos sombrios. Algumas manifestavam as chagas de suas mortes de tanto pânico que sentiam. Devido a turbulência de energia, ocorreram pequenos terremotos na região central, mas foi o suficiente para que as algumas construções desmoronassem. Muitas casas caíram, principalmente os chalés que eram destinadas a almas recém-chegadas. Os prédios se mantinham de pé, mas janelas estavam estilhaçadas e podia-se ver rachaduras preocupantes em suas paredes. Os funcionários estavam em mutirão tentando acalmar as almas em pânico enquanto outros precisavam algemar aquelas que ficaram agressivas e tentavam achar uma oportunidade de fugir pensando que poderiam voltar ao mundo mortal.

Ele subiu em sua moto e partiu em direção à ponte, ou melhor, ao local onde tinha uma ponte.
O único vestígio que restara naquele local era a estrutura  que sustentava toda a construção. O mar engoliu todo o resto.

-Que droga! –Eçe resmungou sem conseguir reunir muita emoção para o acontecido

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-Que droga! –Eçe resmungou sem conseguir reunir muita emoção para o acontecido.

"Trimmmm Triiimmmm" –tocava seu celular.

Suspirando bem fundo ele atendeu a ligação ao olhar o nome de quem ligava:

-Senhor? –Ele esperou pelos xingos.

-Yuhan... – Iniciou de maneira fria Supervisor do outro lado da linha.

-(...) Bem, é óbvio que o Senhor já foi informado da situação. Eu não tenho certeza do que aconteceu, mas vou localizar o problema e retorno a ligação com a solução. - Yuhan respondeu antes que seu chefe perguntasse.

-Tudo bem. Resolva o mais rápido possível. A alfândega está quase no limite. Vou ter que recolher minha equipe de ceifeiros para que pessoas não morram tanto durante esse tempo, mas vai ser um transtorno bem grande. Você sabe como os hospitais e humanos perversos são.

-Não precisa deixar de executar seu trabalho Senhor. Acredito que o Reino Temporal possui albergues para casos de emergência. É só os entreter com memórias boas que não irão se rebelar. Nosso caos não precisa refletir na Terra.

-Ok. Gostei da solução. Aguardo notícias. Boa sorte.

-Não existe sorte. –Resmungou Yuhan após desligar o celular.

Sentado em sua moto e pensando no que podia ter acontecido, ele enfiou as mãos nos bolsos de seu sobretudo e sentiu o relevo de uma carteira. Retirando o objeto, percebeu que era o documento de passaporte da última alma recebida por ele na ponte: Yuná.

Ele abriu o documento despretensiosamente para ler as informações ali contidas:

"Nome: Sem pré nome.
Código de existência: 174562-28.
Graduação: Pré-Vida.
Residência: Reino Temporal.
Situação: Aprovada/Validada.
Destino: Terra"

Yuhan encarou aquele documento apenas por alguns minutos, mas sentiu o peso de cinco mil anos terrenos voltar ao dia em que ele próprio esteve pela primeira vez na rodoviária do Reino Temporal.

-Você recebeu algum nome para deixar registrado rapaz? Saiba que seu nome na terra será diferente e ainda assim não é seu nome de existência. –Dizia o funcionário com cara de cansado atrás do balcão de madeira velha.

-Ah.... Não me importo com nome. Eu não vou nascer. Só quero deixar a documentação organizada para minha efetivação. Pretendo me candidatar ao Reino dos Mortos. –Respondeu aquela alma quase sem brilho.

-Particularmente eu louvo sua decisão rapaz, mas uma alma tão nova como a sua? O que lhe ocorreu para não desejar o nascimento?

-Basicamente fui mal na escola. Rsrsrs. A vida lá fora me parece um estorvo. Tenho um fluxo de energia livre, para que me prender no tempo e em um corpo? Não me parece tão interessante assim. Prefiro ficar como estou. Existir já me basta.

O funcionário olhou com pena para o rapaz e assentiu com pesar.

-Se você se sente assim, é melhor que não conheça a vida sob o aspecto humano, provavelmente seria um humano infeliz. –Ele finalizou carimbando o documento: Não validado.

-Aaah... Como pude me esquecer dessas coisas? –Yuhan murmurou para si espalmando um tapa na própria testa. –Aquela garota... Droga! Como não reconheci que ela está para nascer?

Yuhan guardou o documento, que brilhava com as cores da aura da alma brilhante, de volta em seu bolso, colocou o capacete e acelerou a moto de volta ao caos da cidade principal do Reino dos mortos.


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