A moça de olhar triste e cabeleira vermelha chamava a atenção na pequena vila de pescadores. Todos os dias de manhã ela saia para caminhar na orla marítima. O forte vento bagunçava ainda mais seus cabelos e as ondas lambiam seus pés jogando água até os joelhos. O mar sereno e esverdeado acalmava seus pensamentos. O barulho das ondas quebrando num rochedo não muito longe dali chamou sua atenção. Algumas crianças brincavam correndo despreocupadamente no sol da manhã. Como não tinha nada para fazer, ela resolveu visitar umas casas e se oferecer para ajudar na lida com o pescado. Pelo menos assim, conversaria com alguém e manteria a sua cabeça ocupada. Ela foi muito bem recebida na comunidade e logo deram uma pequena faca para ela descascar camarões. Ela foi avisada de que suas mãos ficariam com um forte odor, mas ela não se importou. Ela aprenderia mais um oficio: limpar e preparar camarões. Pela manhã ela caminhava. Às vezes algumas crianças corriam com ela na areia e no final da manhã, quando os barcos chegavam, ela ia até a comunidade para ajudar no preparo do pescado. No final da tarde, as mulheres da vila preparavam um delicioso jantar. Ela nunca comeu tanto camarão em sua vida. Frito, na moranga, assado. E assim os dias passavam. Ela já sorria e a tristeza nos olhos parece que sumiu. Apenas parece, porque todos os dias ela perguntava no escritório dos pescadores se havia algum recado para ela. A resposta era sempre a mesma: "não".
No dia trinta de dezembro, os barcos tinham acabado de chegar e ela ajudava a descarregar quando um dos homens a chamou dizendo que havia uma moça ao telefone. Clara correu até o escritório.
- Clara! Como você tá? – Perguntou Rosana preocupada.
- Oi, Rosana, que saudades. Eu tô bem. Fui bem recebida aqui e tô até trabalhando. – Elas ficaram conversando algum tempo. Clara contou a Rosana a sua rotina e o tom descontraído da voz de Clara fez com que Rosana se despreocupasse. Rosana falou sobre a loja. Muitas vendas por causa de algumas novidades na área da informática. Todos estavam trabalhando muito, mas estava tudo bem. Em alguns momentos Clara sentiu vontade de perguntar sobre Paulo, mas não teve coragem, não queria ouvir a mesma resposta da outra vez e Rosana também não falou nada. Ela desligou e ficou imaginando como ele estaria.
(...)
Paulo se arrependera de dar recesso a todos, seu humor não tinha como estar pior. Passaria a semana entre o Natal e o ano novo sem fazer nada. Desesperado para saber onde Clara se metera, mas orgulhoso demais para ligar. A pedido de Rosana, Antônio ligou para ele, mas o mau humor dele espantou qualquer tentativa de convidá-lo para sair. Ele passava de carro pela loja inúmeras vezes na esperança de ver Clara, mas por mais devagar que ele passasse, não avistara nenhum sinal dela. Às vezes ele ia lá no começo da manhã para ver se ela estava indo trabalhar, mas só via Rosana chegando. Tentou ligar, mas as ligações só caiam na caixa postal. A tarde ele bebia até cair. Ele dispensou as funcionarias e seu apartamento estava dando medo de tanta garrafa de vinho pelo chão, em cima das mesas ou jogadas no sofá. Mal se alimentara e sua barba estava sem fazer já há alguns dias. Na véspera de ano novo Antônio foi até sua casa logo após o almoço. Ele bateu na porta. Paulo abriu mecanicamente.
- O que você quer aqui? – Perguntou mal humorado e já alterado pelo vinho. Antônio entrou e ficou assustado com a bagunça e sujeira da sala.
- Paulo, você ficou louco? – Perguntou sério.
- Vá embora, não te chamei aqui! – Vociferou.
- Eu não tenho medo dos seus gritos! O que você tá fazendo com sua vida? Você virou porco para viver desse jeito? – Antônio gritava para dar um choque de realidade nele. – Esse lugar tá fedendo. Você vai adoecer se ficar nessa imundice. Cadê suas funcionárias? – Paulo não respondeu. Parece que os gritos de Antônio surtiram efeito. – Já pensou se a Clara chega e vê esse chiqueiro que você tá vivendo? Quem aguenta esse seu humor horrível? Você conseguiu afastar a única pessoa na sua vida que verdadeiramente te ama. Até quando você pretende viver assim?
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Contrato de casamento
RomanceO que você faria pra realizar o sonho da sua vida? Clara aceitou casar-se com o excêntrico Paulo Matsumoto para conseguir dinheiro e ampliar a sua loja em um shopping. Mas até que ponto os negócios não serão afetados por sentimentos nobres que começ...