CLOSER

- Capítulo 42 -

No outro dia, Sheilla acordou super tarde. Estava ainda no fuso da Itália e precisava repor as energias. Sua vó segurou o almoço para que a neta pudesse almoçar com eles, de jeito nenhum ela almoçaria sozinha. Victor estava impaciente pela fome, mas entendeu o cansaço da irmã. Dona Tereza não sabia, mas eles foram dormir com o dia quase raiando.

Durante o almoço pra lá de familiar e calmo, Sheilla e Victor se olhavam com cumplicidade. Terezinha percebeu, praticamente nada passava desapercebido por aquela senhora. Não é à toa que diferente das outras vezes, ela não pediu pra que a família fosse a sua casa recepcionar Sheilla em sua chegada e muito menos os convidou para o almoço daquele dia, ela sabia que precisavam de um tempo sozinhos para que a neta soltasse seja lá o que tinha pra soltar. Queria que Sheilla se sentisse num ambiente confortável, discreto e de confiança. A mulher com anos e anos muito bem vividos, sabia que a oposto estava passando por um momento novo e de mudanças na vida. Não era boba.

O almoço foi divertido. A senhora atualizou a neta de tudo que acontecia na família, o que era prazeroso pra morena, fazia com que Sheilla se sentisse mais próxima e parte integrante das suas vidas. Querendo ou não, estar há tantas temporadas morando fora acabava influenciando na relação com sua família, principalmente nos últimos meses. A morena tinha Mari e um relacionamento para construir e cuidar. Era difícil fazer isso e incluir sua família quando escondia deles o seu namoro.

Muito trabalho pra pouco resultado. Pelo que Victor disse naquela madrugada, mesmo tentando esconder, ela já deixava meio óbvio o que sentia pela loira. Imagina se incluísse sua família nisso tudo? Não teria conseguido esconder deles sequer por um mês. Mas agora podia ser diferente. Sheilla finalmente teria a chance de integrar as pessoas que ela mais amava na vida. Depois da conversa com o irmão ficou esperançosa de que esse sonho seria uma realidade em breve.

Terezinha achou que a neta aproveitaria o momento descontraído e calmo para conversarem, mas além dos cochichos com o irmão, a senhora não percebeu qualquer movimento da morena pra isso. Será que Sheilla a achava tão conservadora assim? Ou pior, será que Sheilla se recriminava por ter se apaixonado por alguém do mesmo sexo? Dona Tereza achava divertidas as tentativas inúteis da neta em esconder seus sentimentos por aquela mulher, mas de repente a senhora sentiu medo desse amor ser um tormento na cabeça da neta.

Finalmente, no começo da noite, Sheilla e Victor apareceram na sala. Estavam com expressões tensas e a avó olhou pra eles de um jeito engraçado. Ela não nega que sua vontade era rir por todo o clima estranho e tenso que a atitude dos dois estava causando no ambiente, mas resolveu permanecer como uma boa senhora boba, que provavelmente é o que esses dois acham que ela é.

-- Vó? - chamou. -- Preciso conversar uma coisa com a senhora... - a neta estava insegura e a tensão era perceptível em sua voz.

Terezinha percebeu os dois olhando para ela com uma cara de "e agora?" e mordeu o lábio disfarçando. Ela deixaria eles conduzirem isso e veria até onde achavam que ela era besta.

-- Conheço bem vocês dois...- espremeu os olhos. -- Passaram o dia todo fofocando pelos cantos...- e cruzou os braços em uma falsa irritação. -- Vão me deixar muito tempo aqui esperando vocês falarem? - os dois sorriram, mas estavam tão nervosos que pareceu mais uma careta. Dona Tereza soltou uma risadinha e ambos se olharam sem entender.

A morena suspirou parecendo carregar o peso do mundo nas costas e andou passos incertos, sentando próxima da avó. Pela sua cara, ela contaria uma das piores coisas do mundo. -- É que...bem...- coçou a nuca um tanto envergonhada. -- Tô namorando...- disse de uma vez para não desistir no meio do caminho, mas estava tão nervosa que a garganta queimava como se dizer aquelas palavras tivesse o poder de machucá-la fisicamente.