- Capítulo 60 -

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Mari caminhou até sua família para o jantar com um sorriso forçado no rosto, sentindo o peso das emoções em si e na mesa. Seus pais e David percebiam o abatimento da loira, mas a dinâmica familiar que eles nutriram ao longo de toda a vida permitia que respeitassem o espaço um do outro, sem a necessidade de perguntas imediatas, eles não a queriam constrangida. Mari sabia que devia a eles uma explicação, mas sentia que teria o momento certo para compartilhar o que estava acontecendo.

Todos os quatro se conheciam bem e cada membro da família tinha sua própria forma de lidar com as situações difíceis, e naquele momento, o respeito pelas emoções de Mari era evidente. David, Armin e Gisela sabiam bem como a loira precisava processar os acontecimentos para só então entender o que estava sentindo. Para eles, era óbvio que ela ainda estava na fase de entender o que sentia.

Durante o jantar, a loira tentou parecer menos triste, engajando-se nas conversas sobre o que aconteceu com sua família nesses meses separados. Era uma tradição. Mesmo que ela já soubesse dos acontecimentos mais importantes, eles deveriam conversar pessoalmente sobre cada um deles quando tinham a chance. Certamente, os assuntos se estenderam mais do que o normal. Sua família não falaria sobre tantas coisas durante o jantar se a situação atual não pedisse por distração e um pouco de leveza.

Acontece que por mais respeitosos que fossem, o peso do "não dito" pairava no ar, de forma quase palpável. Ao final da refeição, Mari sentiu que era o momento de abrir o coração e puxou o assunto. Ela sabia que além dos acontecimentos recentes, precisava conversar com sua família sobre ela e Sheilla e como tudo aconteceu, dessa vez cara a cara, como eles sempre fizeram.

A narrativa começou a se desenrolar. Mari contou, em detalhes, sobre o relacionamento com Sheilla. Desde o início, antes mesmo de decidir ir jogar para o Pesaro.

Aquele assunto não era fácil para abordar com sua família. Apesar de não esconder sua sexualidade, ainda era difícil que seus pais encarassem a questão com naturalidade, mas eles sempre tentaram, e para a loira aquilo era o suficiente. Mari sempre evitou conflito com os pais, e deixar o assunto subentendido virou uma especialidade para ela, mas não mais, ali ela teria de contar tudo, e é o que estava tentando fazer, com todo o tato possível e com a ajuda do irmão.

--... então tá me dizendo que vocês se apaixonaram à primeira vista? - Armin questionou com um tom de dúvida.

-- Não, pai... - encolheu os ombros, pensando em como explicar melhor. -- Nós duas jogamos uma contra a outra na Superliga quando a Sheilla ainda tava no Minas e eu no Osasco... então não conta como primeira vista, nós já nos conhecíamos e chegamos a conversar algumas vezes. Pra ser sincera, sempre a achei bonita, mas nada além disso. - riu ao lembrar. -- Eu nem pensava sobre a possibilidade de termos algo quando a conheci.

-- Mas acabou pensando e agindo, e logo durante os treinos para a seleção. O que mudou? - Gisela questionou em um misto de curiosidade e chateação. Ela sabia que Mari ainda namorava Dani na época.

-- Acho que foi um conjunto de coisas... não tem uma explicação simples pra isso. - refletiu. -- Dani e eu já estávamos no final da linha; e a Sheilla, por mais que ela insistisse em não ver, estava infeliz no noivado. - Gisela fechou o semblante e Mari resolveu ignorar. -- O clima da seleção era de descontração e construção de amizades naquela época e, bem... ela começou a me olhar diferente. - revelou enquanto lembrava com um sorriso saudoso no rosto.

-- Diferente? - David estava um tanto intrigado. Ele e a irmã não tiveram a oportunidade de conversar sobre isso pessoalmente ainda.

-- Sim, era nítido para qualquer um. - deu de ombros. -- Mas eu, no começo, não via qualquer chance de nada entre a gente acontecer, não até que comecei a notar uma mudança grande no jeito dela comigo. Foi aí que comecei a pensar muito sobre a possibilidade de rolar alguma coisa e isso não saiu mais da minha cabeça, ficava sempre martelando como uma real possibilidade. - confessou. -- Eu fiquei muito curiosa no começo, depois comecei até achar graça da situação... mas acabei alimentando esse encantamento dela por mim, e quando percebi eu já estava enredada também... de um jeito bastante novo.

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