- Capítulo 52 -

1.2K 42 62
                                    

Sheilla pensou em dizer que não queria conversar, mas percebeu a expressão de Mari e viu algo diferente, então balançou a cabeça, concordando. Pra tudo há um limite. Ela sabia que estava forçando a loira à beira dos seus e algo precisava ser feito. A oposta só tinha que entender o que poderia revelar sem que Mari perdesse as estribeiras e colocasse tudo a perder. A morena conhecia demais a outra mulher pra saber que a timidez e o jeito de quem aceitava tudo poderiam rapidamente se transformar em pura impulsividade. Era uma linha difícil de encontrar, um limítrofe delicado, e a morena sabia que já havia passado da hora de acalmar os ânimos da loira. Mari tentava não demonstrar tão explicitamente seus sentimentos, mas Sheilla sabia que a de olhos azuis estava completamente chateada com toda a situação e bem perto de explodir.

Ambas saíram lado a lado e foram em direção ao quarto que compartilhavam. Os olhares não tão disfarçados as acompanharam até que desapareceram. Durante todo o caminho, não trocaram uma só palavra. Cada uma dentro dos seus próprios pensamentos, preparando mentalmente o terreno e o espírito para uma conversa que ambas não tinham certeza do resultado.

Ao entrarem no quarto o silêncio permaneceu, o que causou ainda mais aflição na morena. Sheilla não era lá uma pessoa paciente. Nunca foi. Ainda assim, ela aguardou a loira. Mari sentou na cama, olhou para a morena como se não a encontrasse há tempos. A tensão crescendo no ambiente, mas principalmente em Sheilla.

-- Mari? - suspirou um tanto aflita. -- Já estamos aqui...você pediu pra falar comigo, então fala, pelo amor de Deus!

A loira suspirou profundamente. Um gesto claro de preparação. Ela estava tomando ar ou coragem para dizer o que estava preso nos últimos dias.

-- Só queria dizer que eu errei em ter escondido de você sobre dormir na Fabi. Quero pedir desculpas, Sheilla - a voz era tão baixa que surpreendeu a morena. Mari realmente parecia arrependida e Sheilla quase não conseguiu levar a situação à diante. A morena sentiu balançar a certeza inabalável de estar fazendo a coisa certa. -- Eu não deveria ter omitido qualquer coisa de você, ainda mais depois de todas as coisas que passamos nos últimos tempos, e sabendo que isso te magoaria, que você não iria gostar. Você me desculpa, She? - aquele tom triste e o olhar culpado tocaram o coração da morena com força. Sempre seria um pouco perturbador ver Mari tão submissa nesses momentos mais emocionais.

Foi a vez da morena respirar como se um peso estivesse sobre seus pulmões. Que difícil era sustentar a decisão que tomou. A questão que rondava por sua cabeça agora era diferente de ter ou não escolhido o melhor caminho. Sheilla, pela primeira vez de fato, se perguntava se agiu corretamente em tomar essa decisão pelas duas. Até onde isso afetaria a relação delas? A morena sabia que deveria dizer alguma coisa além do mais do mesmo. Mari precisava de um alívio.

-- Eu juro que queria só te desculpar como das outras vezes, mas agora, nesse exato momento, eu não posso...

A loira sentiu uma espécie de dor ao ouvir aquelas palavras. Algo parecia não bater em toda essa história. Os conselhos de Paula indo e vindo em sua memória. O que a ponteira sabia que ela não? Porque diabos Sheilla estava levando essa situação tão longe?

M: Não? - disse tentando forçar uma explicação. Mari não sabia o que dizer, pra ser bem sincera, ela sentia um misto de cansaço emocional com uma ponta de mágoa.

Sheilla viu que começou muito mal quando o propósito era aliviar a tensão entre as duas e dar algum conforto para a loira. Ela pensava em como prosseguir com a conversa e tudo o que passava por sua cabeça era o que viu na câmera de Carol, na vontade de deixar toda essa briga pra trás. A morena sabia muito bem que foi imaturidade da loira não ter dito que dormiu na Fabi, sabia que não foi uma omissão por maldade, não foi com o objetivo de trair ou enganar. Ela queria tanto colocar uma pedra nesse assunto, mas não podia, certo? Havia toda a questão que envolvia a CBV.

CLOSEROnde histórias criam vida. Descubra agora