- Capítulo 63 -

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Mari ligou o carro e saiu acelerando da casa de Adriana, mas parou alguns quarteirões depois e começou a chorar. O peso da situação parecia se fixar permanentemente nela, como uma sombra impossível de apagar. Ela temia encontrar para sempre em seu reflexo no espelho os traços borrados dos sorrisos que nasceram apenas para Sheilla. Temia que cada parte do seu corpo, esculpido pelas mãos dela, fosse um lembrete constante do que compartilhavam.

Sheilla parecia ter deixado uma marca indelével na vida da loira, uma marca que afastava qualquer um que tentasse substituir sua presença. Era como se o gosto de Sheilla tivesse tingido o destino de Mari, incrustando o sal de sua língua em todos os seus dias.

A loira se recuperou e continuou dirigindo, sem saber ao certo o que pensar. Aquilo nunca havia acontecido com ela antes. Nunca travou, nunca teve esse problema, nunca se sentiu tão culpada. O gosto de outra pessoa nunca foi forte o suficiente para fazê-la parar assim. Mari nunca pensou em alguém com tanta intensidade a ponto de sentir quase fisicamente sua presença.

Ela teve a certeza, naquele momento, de que Sheilla havia pisado em um lugar dentro dela onde ninguém mais pisou. Sheilla a mudou, e isso a assustava ainda mais, fazendo-a pensar no que seria de si mesma se elas não dessem certo. Mari temia o quanto aquilo iria doer, como se acabaria se elas se separassem.

A loira tinha medo do poder de Sheilla sobre ela, do poder do que sentia por ela. Para Mari, amar sempre foi como mergulhar do mais alto trampolim sem se perguntar se iria encontrar água ou o duro ladrilho. Naquele momento, ela sentia mais medo do que nunca; temia saltar e encontrar o ladrilho.

Mesmo após tomar banho, ela estava agitada, andando de um lado para outro do seu apartamento sem conseguir parar quieta. A mente fervilhava de pensamentos conflitantes. Ela pegou o celular e ligou para Geanne.

-- Mar? Aconteceu alguma coisa? - a voz sonolenta e preocupada da amiga soou em seu ouvido.

-- Aconteceu. - suspirou profundamente, tentando organizar as palavras em meio ao caos que era sua mente. -- Eu fui com as meninas para uma boate, mas estava tão chato que resolvemos ir até a casa da Adriana para beber e ficar conversando.

A loira começou a narrar a noite com uma voz trêmula, como se revivesse cada detalhe.

-- Fui pegar vinho na cozinha e quando me virei, ela estava lá, quase colada em mim. Ela perguntou por que eu parecia tão aérea e eu expliquei que não estava bem com a Sheilla. Então ela simplesmente me beijou. - disse, a voz se quebrando.

-- A Adriana? - ela estava espantada.

-- Sim! - murmurou, o tom envergonhado.

-- E você beijou de volta? - Geanne perguntou, uma mistura de curiosidade e preocupação na voz.

-- Não, quer dizer, no primeiro momento, não. - e suspirou novamente, a mente voltando ao momento confuso. -- Fui pega de surpresa, entende? Não imaginei que ela fosse fazer isso completamente do nada. Me afastei um pouco, travei toda, meu coração estava tão acelerado que eu parecia estar à beira de um infarto, mas não de um jeito bom. - explicou, encolhendo os ombros. -- Acho que ela entendeu errado a minha atitude, porque assim que me afastei e fiquei lá parada, olhando para ela... ela deu um sorrisinho vitorioso e me beijou de novo. - Geanne arregalou os olhos. -- E eu meio que correspondi por uns dois segundos, por força do hábito, eu acho, não sei, mas logo me afastei, juro por Deus! Geanne, eu só conseguia ver a Sheilla na minha frente, até senti o cheiro e o gosto dela.

A fala de Mari era frenética, a amiga tentando acompanhar o ritmo rápido de suas palavras.

-- Tentei sair, e ela me segurou mais forte. Comecei a tremer de tanto nervoso. Nunca aconteceu algo assim comigo. Ela começou a rir quando percebeu que eu tava surtando, bem na minha cara, e eu só saí de lá sem dizer nada pra ninguém... - continuou, a voz embargada.

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⏰ Última atualização: Sep 11 ⏰

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