• Mon Père •

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Coloco Maria em seu cadeirão e me sento ao seu lado, recebendo um sorriso de apenas seis dentinhos. Ela bate as mãozinhas na mesa, sabendo que chegou sua segunda hora preferida do dia.

- Você tá com fome, filha? - pergunto sorrindo. - Você quer papar? - falo pausadamente, tentando com que ela repita algumas sílabas.

Mas tudo o que ela faz é levantar as mãozinhas as abrindo e fechando em direção ao prato que eu segurava. O coloco finalmente em sua frente, ele tem legumes cozidos e alguns pedacinhos de carne. Havíamos começado a introdução alimentar já e a médica dela mandou irmos tentando tudo, pra saber o que ela gostava mais e o que repugnava mais.

Eu a observo brincar com a comida, antes de pega-la em suas mãozinhas gordas e levar os pedaços na boca, soltando pequenos "hummm" enquanto mastiga.

- Tá gostoso filha?

- hmmmmmm - ela abre um sorriso não mais banguela cheio de beterraba.

- Filha, fala assim: " hmmmmmmm maaaaaaa-mãaaaaaae" - ela abre ainda mais seu sorriso, apertando os olhinhos

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- Filha, fala assim: " hmmmmmmm maaaaaaa-mãaaaaaae" - ela abre ainda mais seu sorriso, apertando os olhinhos. - Maaaaa-mãaaae ... fala filha! Aprende a falar mamãe por favor! - ela olha pra mim com uma concentração e abre a boquinha, como se tivesse entendido o que estou falando. - Maaaaaaa-mãaaaae! Vai filha.

Ela já falava algumas coisas. Mas era muito frustrante que as primeiras palavras da sua filha fossem: copo, pato, vovó, dá. Claro que não eram certinhas assim, era em sua linguagem própria, mas tanto eu quanto Selton haviamos perdido, e Maria não falava nem papai ou mamãe. As vezes eu achava que era pra nos pirraçar. Porque a danada ria da nossa cara quando pediamos isso pra ela.

- Maa-mãe!

- Dá! - ela me estende um pedaço de carne.

- Não Maria! Mamãe! - repito, no que ela me ignora. - Ok, já entendi! Sem mamãe pra mim! 

Me dou por rendida e aceito a comida que ela me dá na boca.
Carne ao molho de baba.
Era a maternidade.

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Depois de Maria acabar seu almoço, e eu conseguir comer o meu. Tomamos um banho juntas, e agora estavamos ali, na sala, jogadas no tapete. Ela mordendo algum brinquedo, enquanto eu procurava por algo pra ver na tv naquele domingo frio.

Estávamos só nos duas, Selton estava gravando uma série pra Globo. As gravações haviam começado há alguns dias. Ele não gravava domingo, mas hoje era uma externa, e devido ao lugar tinha que ser justamente no domingo, porque era mais vazio e fácil pra cena correr bem.

Eu ainda não havia voltado ao trabalho, por opção minha. Maria tinha apenas 10 meses, e eu esperei muito pelo meu momento mãe e queria aproveitar cada primeira coisinha dela.

Sei que não seria possível vet todas mas queria me dedicar pelo menos no primeiro ano dela, de corpo e alma pra maternidade. Eu havia trabalho muito a minha vida toda, de forma que me dei esse mimo. 

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