• I Do •

259 12 181
                                    

[ Mari ]

Me debrucei no parapeito do hotel aspirando a brisa fresca da tarde. Lá em baixo, pessoas aproveitavam sua praia da melhor maneira carioca possível. Eu via os carros passando, as pessoas chegando e as ondas quebrando na areia. Também ouvia o murmurinho de conversas, gritinhos animados das crianças ou os vendedores gritando pra anunciar os produtos.

Era um dia típico, exceto por um detalhe. Suspirei mais uma vez e meus olhos fitaram o chão, tão longe dos meus pés que uma pequena tontura atravessou meu corpo e então, me afastei. Eu estava quase entrando no quarto mês de gestação e os incômodos apesar de brandos, ainda estavam lá.

Empurrei as cortinas finas pra voltar ao quarto onde um verdadeiro exército havia sido montado. Maletas de maquiagem tomavam conta da penteadeira, cabides e mais cabides ornavam o ambiente, um carrinho intocado de frutas e sucos aguardava minha fome ao canto e na janela, meu vestido branco e rendado contrastava com a luz do sol naquele fim de dia.

Um frio cortou minha espinha em imaginar que dali há algumas horas, eu entraria de braços dados com meu pai e diria sim a alguém. Um misto de sentimentos tomava meus pensamentos, eu não sabia nem mesmo o que dizer. Todos me perguntavam sobre o nervosismo e ansiedade, mas eu só conseguia pensar em emoção e no quanto nosso amor cresceu. Cresceu e multiplicou. Levei as mãos na pequena barriga e acariciei com as pontas dos dedos, aquela criança que crescia em meu ventre era a prova que tudo que fiz até aqui em toda a minha vida, deu certo.

Escolhemos aquele sábado pra trocar nossas alianças e promessas de amor em frente a um pequeno e seleto grupo de pessoas. Acho que nunca se correu tanto com um casamento. Apenas, Selton, minha mãe e minha sogra sabiam da minha gravidez. Esperamos o terceiro mês passar pra contar pras vovós, no caso da minha mãe, confirmar. E quanto aos demais familiares, optamos por aguardar o casamento passar. Não queriamos dar satisfação pra ninguém e também porque queriamos que os primieros meses fossem nosso.

Foram dias escolhendo local, porque a única certeza que tínhamos era, não queríamos realizar a cerimômia em uma igreja. Tanto eu, quanto Selton e nossas familias éramos muito religiosos e devoltos a Deus, mas casamento em igreja nunca havia sido meu sonho. Veio a escolha dos padrinhos, as daminhas já tinhamos, minhas sobrinhas. A escolha das alianças, que prezamos pelas mais discretas, ouro branco, na minha com um detalhe de uma única pedrinha em cima, que eu usaria junto com o anel de noivado.

E por mais que tivessemos tentado fazer tudo o mais discreto possível, é claro que vazou e caiu na imprensa e virou uma bola de neve. Nossas assessorias se desdobraram pra que tudo continuasse o mais íntimo possível, mas em duas semanas o local do casamento já era espéculado em boatos e até mesmo o atêlier onde meu vestido estava sendo feito descobriram. Eu quase surtei, mas respirei fundo e decidi que não deixaria aquilo me abalar e estragar meu momento.

- Filha, você não comeu nada? - minha mãe entra no quarto segurando um saco preto de roupa, seu cabelo estava tomado por bobs e ela usava um roupão. - Desse jeito vai passar mal!

- Não estou com fome mãe! Estou ansiosa demais! - suspirei me jogando na cama. - Falou com Selton? Sabe se ele já está aqui?

- Selva falou com ele, vai se arrumar no hotel aqui do lado, junto com os padrinhos, seu pai e seu sogro. Mas ele ainda não chegou lá.

- Será que ele teve uma boa despedida de solteiro? - ergui a sobrancelha.

Quando meu noivo e pai do meu filho me disse que sairia com alguns amigos , confesso que uma pontada de ciúmes me atingiu. Não por pensar que ele faria alguma besteira, mas sim onde esses amigos o levariam. Um deles inclusive, me mandou uma foto por volta das 3 da manhã do local onde estavam, tinha luzes piscantes e um ambiente escuro, eu preferir ignorar pra não xingar o dito cujo.

Nos Jours. Onde histórias criam vida. Descubra agora