Capítulo 5

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Maria Pia: Quais são os planos pra hoje? Você deve estar doido pra ir pra Búzios, né? - Disse enquanto eu lavava a louça e ele secava.
Vitor: Sim, mas quero encontrar meus amigos antes…- Era estranho, mas ao mesmo tempo bom ouvir ele se referindo a Júlio, Agnaldo e Sandra Helena como seus amigos, o tempo em que estiveram presos foi útil para que eles conversassem, compartilhassem suas histórias e se perdoassem -...Você também deve querer se despedir de alguém, né? Agora que vai se mudar definitivamente. - Assenti.
Maria Pia: É, a Bebeth ainda não voltou da Europa, mas eu quero encontrar a Madá e…- Suspirei -...Quero visitar os meus pais.
Vitor: Entendo, eu vou com você!
Maria Pia: O que? Visitar os meus pais? Não, Vitor! Você acabou de sair daquele lugar! - Disse alterada, então Vitor pôs suas mãos sobre meus ombros, na tentativa de me acalmar.
Vitor: Sim, mas nesses três anos você teve que enfrentar tanta coisa sozinha, eu quero estar junto com você nesse momento, infelizmente eu sei bem como é difícil. - Assenti, o abracei e sussurrei um “Obrigada”.

Maria Pia: Bom, eu vou tomar banho...Tenho companhia? - Perguntei sorrindo maliciosamente e Vitor nem precisou responder, seu sorrisinho já disse tudo.

Após sairmos do banho, nos arrumamos e organizamos o cafofo. Decidimos ir visitar meus pais ainda pela manhã, tínhamos tempo e quanto mais cedo fôssemos, mais cedo voltaríamos.

Vitor dirigia tranquilo, mas concentrado no trânsito e eu amava observá-lo assim, como eu havia sonhado com esses momentos, em que viveríamos tranquilos, livres, levei minha mão até os seus cabelos e fiquei acariciando sua nuca.
Maria Pia: Obrigada!...- Disse quase sem perceber, Vitor me olhou brevemente, com um leve sorriso em seu rosto -...Por me acompanhar nesse momento, por estar sempre ao meu lado quando estou passando por momentos difíceis, principalmente com meus pais. - Paramos no sinal vermelho e Vitor voltou sua atenção pra mim.
Vitor: Infelizmente você passou muitos anos enfrentando tudo sozinha, sendo julgada, incompreendida, carregando a sua bagagem de traumas, no que depender de mim, você nunca mais estará sozinha, não irá sofrer por nada e se algo te machucar, eu vou estar do seu lado, secando cada lágrima sua. - Sorri e senti meus olhos ficarem marejados, antes que eu pudesse dizer ou fazer algo para agradecê-lo, uma buzina nos “acordou” e vimos que o sinal já estava aberto.
Vitor: Ei, insensível!...- Exclamou, olhando pelo retrovisor, me fazendo rir -...Calma aí, apressadinho!

Primeiro fomos visitar a minha mãe, nesse dia eu falaria com ela pelo telefone, não teríamos nenhum contato físico e sinceramente isso não me abalava, a nossa relação não estava das melhores, acho que ela estava muito irritada por estar naquele lugar e acabava descontando em mim, como se eu fosse culpada por suas loucuras.
Lígia: Maria Pia?!...- Exclamou irônica, provavelmente porque fazia mais de um mês que eu não ia visitá-la, eu não era obrigada e sempre saía de lá muito irritada devido a toda a energia ruim que ela me transmitia -...Quanto tempo, ein!
Maria Pia: Eu estava dando atenção a quem realmente se importa comigo, Madá, Bebeth...Vitor.
Lígia: Então o que veio fazer aqui?
Maria Pia: Vim me despedir...Eu vou me mudar pra Búzios, com o Vitor.
Lígia: Hum…- Resmungou com desdém -...Ele fugiu?
Maria Pia: Não! Ele cumpriu sua pena, está livre e...Me pediu em casamento. - Mostrei o anel a ela, que ficou surpresa ao ver a jóia.
Lígia: Não acredito que você vai casar com aquele marginal! Só porque você foi covarde e não lutou o suficiente para conquistar o Eric! - Infelizmente eu não estava surpresa com suas palavras, mas respirei fundo e fechei os olhos antes de responder.
Maria Pia: Você não tem moral nenhuma pra falar do Vitor, ele cometeu um crime sim, mas houveram motivos justificáveis pra ele fazer isso, e ele nunca usou violência, ao contrário de você, que tentou MATAR uma pessoa somente por obsessão...E segundo: O Eric, nunca mereceu metade do que eu senti e fiz por ele, ele nunca me valorizou, pelo contrário, me usou, me manipulou, me humilhou e no final de tudo ainda armou pra mim, no meu momento de maior fragilidade...- Eu já havia contado tudo que Eric fez, mas minha mãe insistia em achar que eu tinha que lutar pelo amor de alguém que não valorizou nem a minha amizade -...Eu vou me casar com o homem que me ensinou o que é amor e que me ama de verdade, que me valoriza, que faz eu me sentir amada e linda todos os dias, que me apóia, que veio até aqui me acompanhar nesse momento, não faz nem 24 horas que ele saiu de um lugar igual a esse e agora ele está aqui, me apoiando, secando cada lágrima que cai em meu rosto, não só as lágrimas de tristeza, mas também de alegria, porque graças e ele eu choro de emoção, por não acreditar que eu finalmente tenho ao meu lado alguém que me ama e me entende como eu sou, que me dá o valor e o carinho que eu sempre mereci e nunca tive! - Exclamei com a voz já embargada, devido as lágrimas, essas de felicidade, alívio, era tão bom me sentir assim, livre, podendo nomear cada um dos meus sentimentos, bons sentimentos. Pela reação da minha mãe, pareci convincente, mas ela era orgulhosa demais pra admitir isso.
Lígia: Parou com seu showzinho?...Minha filha, você é igualzinha a mim, aceite, olha o jeito que você era doida pelo Eric, isso não passa tão rápido...- Será que ela percebeu quantos anos já se passaram e como eu mudei desde que eu assumi meu amor pelo Vitor? Não, ela nunca prestava atenção em mim -...Se você acha que vai ser feliz com esse tal de Vitor aí, boa sorte!
Maria Pia: Igualzinha a você? Mãe!...Por obsessão você MATOU alguém, eu pelo contrário, DEI VIDA a filha do Eric e da Mirela, e não me arrependo, hoje eu tenho uma relação ótima com a Bebeth, graças ao Vitor, com quem eu JÁ SOU MUITO FELIZ! Muito mais do que eu imaginei que pudesse ser um dia. - Por mais que eu me orgulhasse de assumir o meu passado e o meu presente que estava sendo maravilhoso, eu já estava de saco cheio de ter que repetir essas coisas pra minha mãe cada vez que vinha aqui, eu finalmente estava vivendo sem a necessidade da sua aprovação, eu só queria que ela se sentisse feliz por mim, era o mínimo, mas ela era frustrada consigo mesma e descontava em mim.
Lígia: Tá bom, Maria Pia! Se você acredita nisso..."Parabéns pelo seu noivado!”...- Gesticulou as aspas -...Espero que você saiba o que está fazendo.
Maria Pia: Olha, eu acho que você não é a melhor pessoa pra me dar conselhos, ein...O “amor” que você sentia pelo Pedrinho te trouxe a esse lugar, se você acha que isso é sucesso, faça bom proveito, de qualquer forma eu só vim me despedir mesmo, porque estou indo morar em um paraíso com a pessoa que me ensinou o que é amar alguém de verdade, que me ensinou a amar a mim mesma!  Eu estou indo construir uma nova vida, a minha vida!...Mas aparentemente você não tem sentido a minha falta, então fique tranquila que eu não virei te perturbar tão cedo! Adeus, mamãe. - Larguei o telefone, me levantei para sair, mas ouvi ela chamar meu nome, virei na esperança de ouvir algo bom dessa vez ou pelo menos um “me desculpe”.
Lígia: O anel é bonito, pelo menos ele tem bom gosto. - Ah não! É sério isso? Virei os olhos e saí, como a minha mãe era capaz de me irritar no momento mais feliz da minha vida! Esse lugar a havia transformado em uma pessoa pior, ela era frustrada com a sua vida, não conseguiu acabar com a Sabine, não conseguiu ficar com o Pedrinho e quando encontrou uma pessoa que a amou de verdade, não deu valor, não se livrou dessa maldita obsessão, era tão triste vê-la assim, ela havia perdido toda a sua vaidade, mesmo escondendo tantos segredos, eu sempre a vi como uma mulher animada, cheia de energia, e agora ela estava assim, totalmente entregue ao seu fracasso, por dentro e por fora, eu não sabia o que pensar, só costumava aconselhar que ela se comportasse bem para sair logo desse lugar e quem sabe começar uma nova vida. Como todas as vezes que eu vinha aqui, hoje eu havia sido afetada pelo seu humor, ela havia conseguido me deixar triste, meus passos eram rápidos, infelizmente eu conhecia bem esse caminho e quando percebi já estava na sala de espera, onde Vitor estava, me esperando, ansioso, nesse momento me senti tão bem que dei um longo suspiro, de alívio e esbocei um sorriso, ainda estava doendo, mas dessa vez eu tinha ele ali, comigo, literalmente do meu lado, disposto a me consolar, dividir a sua vida comigo, a me amar e não deixar que eu me tornasse minimamente parecida com a minha mãe.
Caminhei rapidamente até ele, que se levantou da cadeira e abriu seus braços, pronto pra me acolher, no melhor abraço do mundo, enquanto saíamos dali, ele me perguntou se eu queria conversar, se eu queria falar como havia sido e no caminho até a penitenciária onde estava o meu pai eu contei tudo a ele, que me consolou e disse que com certeza o encontro com meu pai seria melhor….E como foi! Meu pai ficou feliz por me ver e por eu estar feliz, ele estava animado, com certeza estava recebendo muitas regalias ali dentro, ele me parabenizou pelo noivado.
Athaíde: É, apesar de tudo o Vitor é um bom rapaz, pelo o que você me conta, ele nem se compara ao pai dele…- Assenti -...Estou feliz por vocês, filha! De verdade! - Ele estava sendo sincero e eu lamentei por não poder abraçá-lo naquele dia, conversamos mais um pouco e ele pediu para falar com Vitor.

Vitor: Ele me disse pra eu cuidar bem da menininha dele. - Me contou já no carro.
Maria Pia: É sério?!...- Vitor assentiu e rimos -...Ai que clichê! - Disse envergonhada.
Vitor: Ah, achei legal da parte dele, ele se preocupa com você.
Maria Pia: Deveria ter se preocupado antes, né? Mas...Pelo menos foi melhor do que a reação da minha mãe.
Vitor: Amor, não pensa mais nisso, eu sei muito bem o quanto é complicado…- É, ele sabia mesmo, ele me contou o quanto foi humilhado pelo seu pai e aonde isso o levou -...Mas põe uma coisa na sua cabeça: Foram eles que se colocaram naquele lugar, nada disso é culpa sua, o seu único dever agora é aproveitar a sua vida e ser feliz como você merece. - Ok, eu já estava ficando emocionada de novo, eu não era assim.
Maria Pia: Você tá muito reflexivo, ein...Cheio de palavrinhas bonitas, leu muitos livrinhos na cadeia, Malagueta? - Imitei sua típica risada, o fazendo rir também.
Vitor: Sim, li bastante! Não tinha muita coisa pra fazer lá, não tinha uma mulher desequilibrada invadindo a minha cela do nada fazendo eu servir cama, comida e calmante pra ela, enquanto me deixava doido e cada vez mais apaixonado. - Disse entrando na minha brincadeira, típica da nossa relação logo que nos conhecemos.

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