Capítulo 7

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Vitor: Eu falava que o Eric era o seu príncipe, agora quem se tornou seu príncipe fui eu. - Debochou enquanto entrávamos no carro.
Maria Pia: Engraçadinho...Quero nem lembrar dessa época, mas eu achei fofo quando a Madá falou, é o jeitinho dela de se expressar, eu te disse que eles iriam gostar de você.
Vitor: É, você tem razão, foi uma tarde maravilhosa! Adorei a sua família! - Disse animado enquanto dava partida no carro.
Maria Pia: É, minha família…- Levei minha mão até a sua nuca -...Meu noivo…- Vitor esboçou um sorriso tão lindo -...É tanta coisa nova pra assimilar…- Suspirei pesadamente, sentindo uma certa ansiedade, mas uma ansiedade tão boa -...Mas pela primeira vez são várias coisas boas, eu nem sei lidar com isso. - Comecei a rir.
Vitor: Nem eu, to até com medo. - Rimos, juntos, de desespero, essa felicidade e essa paz chegavam a ser realmente assustadoras pra nós, esses três anos foram muito difíceis, nós tentávamos ser fortes um pelo o outro, tentávamos não chorar, mas nos conhecíamos tão bem que sempre reconhecíamos todos os sentimentos nos olhos um do outro, principalmente a dor, eu sabia o quanto ele estava sofrendo lá dentro, ele era uma “celebridade” dentre alguns detentos, mas o fato dele ser tão certinho, de não participar dos seus planos de fuga, os incomodava, ou seja, de qualquer forma, ele estava sendo muito prejudicado. Do outro lado, eu tentava esconder o quanto doía tentar viver aqui fora sem ele, mesmo tendo Madá e Bebeth sempre ao meu lado de alguma forma, eu me sentia sozinha, ninguém era capaz de fazer eu me sentir tão bem quanto o Vitor, as noites no cafofo eram tão frias, tão solitárias, mas não havia outro lugar pra eu estar, ali era onde eu me sentia mais próxima dele e me sentia mais tranquila, como sempre foi, desde que eu e Vitor nos conhecemos, aquele cafofo até então era a materialização do nosso amor.
...
Eu estava perdida em meus pensamentos, olhando pela janela, via as pessoas caminhando com seus cães, seus filhos, seus amigos, livres...Enquanto Vitor estava preso, eu também me sentia presa, pois eu só me sentia livre ao seu lado, e agora finalmente estávamos livres, livres pra viver as nossas vidas e o nosso amor. Me perguntando como ele estava se sentindo, olhei em sua direção, ele dirigia tranquilo, cantarolando baixinho a música que tocava no rádio, é, ele estava bem...E eu também, bem e ansiosa para encontrar os seus amigos, que agora eram meus amigos também, eu ainda não havia me acostumado com isso, com o fato de eu ter amigos, amigos de verdade, sem querer eu havia criado um laço com Antônia e Sandra Helena e apesar das nossas personalidades tão diferentes, passamos praticamente pela mesma situação, então seguimos mantendo contato pelas redes sociais, não tão frequentemente, mas às vezes conversávamos, elas me apoiavam muito e perguntavam se eu estava precisando de alguma coisa, com os meninos eu me encontrei no casamento de Agnaldo e Sandra Helena que foi logo depois que eles cumpriram a sua pena, eu não iria comparecer, mas eles insistiram, não queria estar lá sem o Vitor e achei que iria me sentir sozinha, mas o próprio Vitor me incentivou a ir, nas visitas eu contava tudo pra ele, como um diário e ele adorava ouvir cada detalhe, então ele sabia sobre tudo que estava acontecendo comigo "aqui fora" e estava muito feliz por eu estar começando a ter amigos, meus primeiros amigos, porque em toda a minha vida eu só tive colegas e...O Eric, que eu nem sabia mais se em algum momento ele havia sido mesmo meu amigo e sinceramente eu já havia deixado de me questionar isso há muito tempo, eu não precisava mais disso, eu tinha ao meu lado pessoas maravilhosas e que eu tinha certeza que gostavam de mim de verdade.
Combinamos com os "nossos amigos" de nos encontrarmos no Quiosque dos meninos, questionei se era uma boa ideia aparecermos praticamente na frente do hotel um dia após Vitor sair da prisão, mas Júlio e Agnaldo garantiram que não havia problema e que eles até mantinham contato com vários funcionários. Era um lugar agradável, ótima bebida, a comida nem se fala, com as receitinhas maravilhosas de Madá. Porém era muito diferente de qualquer lugar que eu frequentaria há alguns anos, mas agora esse era o meu mundo e eu me sentia estranhamente bem nele, talvez essa fosse a verdadeira eu, com pessoas de verdade, que não fingiam ser o que não eram, que não fingiam gostar de você, que não fingiam estar gostando da sua companhia, que não estavam ali só marcando presença, por obrigação, pessoas sinceras, com personalidades, desejos e histórias diferentes, mas que de alguma forma se identificavam, se sentiam bem e se divertiam estando juntas.
Ao chegarmos no local, Vitor abriu a porta do carro pra mim e seguimos em direção ao Quiosque com as mãos entrelaçadas, isso ainda era tão novo pra mim, mais uma coisa que antes eu achava brega, mas agora era maravilhoso poder andar assim com ele, sem precisarmos nos esconder de ninguém.

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