Capítulo 8

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Vitor continuou conversando com seus amigos e eu com as meninas, conversamos sobre várias coisas, impressionante como os assuntos fluíam tão naturalmente, parecíamos melhores amigas há anos...Então era assim conversar com pessoas que realmente estavam interessadas em te ouvir e compartilhar suas ideias e pensamentos com você. Nossas conversas pelo whatsapp não eram a mesma coisa, o "olho no olho" era muito melhor e eu me sentia tão à vontade. Falávamos sobre tudo, mas falamos mais sobre nossos casamentos, Sandra Helena já havia se casado há cerca de um ano, mas eu e Antônia ainda estávamos nos preparando e tínhamos um "estilo" parecido, sofisticado e sem extravagâncias, ainda assim aproveitamos muitas "dicas" de Sandra Helena, inclusive o fato de sua mãe ser uma estilista talentosíssima. Ela nos mostrou algumas fotos e eu fiquei empolgada pra fazer o meu vestido de noiva, é...Eu...Maria Pia, noiva...A ficha estava começando a cair, olhei pra Vitor, que pareceu sentir meu olhar sobre si e imediatamente me olhou, tão feliz, tão apaixonado que foi impossível pra mim não esboçar um sorriso, entre tantas conversas, risos e música, pude ler em seus lábios um "eu te amo!" e senti meu rosto corar automaticamente, eu parecia uma adolescente e eu não me sentia mais uma "idiota" por isso, quantas vezes me senti assim com um mísero olhar de Eric, sem nenhuma emoção, frio? Como eu fiquei tanto tempo vivendo dessas migalhas? Mesmo após Vitor ter entrado na minha vida? Vitor...Que estava ali disposto a me dar todo o amor que havia em si e se isso não fosse o suficiente ele faria qualquer coisa até ter a absoluta certeza de que eu estava me sentindo a mulher mais linda e mais amada do mundo.

Vitor POV:
Eu não sabia que eu precisava tanto da amizade de Agnaldo e Julio, pra alguma coisa serviu a nossa prisão, naquele lugar não tínhamos outra opção além de conversarmos, compartilhamos nossas histórias, acabei contando a eles sobre tudo, além do que já havia contado, falei sobre minha mãe, Timóteo, Mônica e claro, Maria Pia, não porque eu achava que devia alguma satisfação a eles, mas porque naquele momento eu tinha a certeza que não éramos mais apenas colegas e parceiros de crime, éramos amigos, nós sabíamos muito bem o que tínhamos feito e nossa parcela de culpa, aquele não era o momento para ficarmos apontando o dedo uns para os outros, nós estávamos ali, cumprindo nossa pena, longe das mulheres que amamos, sem saber como seria a vida depois dali, tudo o que nos restava era nos entendermos e nos apoiarmos. Depois que eles saíram e eu fiquei sozinho eles sempre iam me visitar, perguntavam se eu estava precisando de algo e me davam forças pra que eu aguentasse o tempo que fosse necessário e continuasse me comportando para sair dali rapidinho.
Eu sempre fui fechado, a pessoa que sabia mais sobre mim era Maria Pia, ela era o meu espelho, haviam muitas coisas sobre mim que só ela sabia.
Eu não diria que ela era a minha "metade", porque isso não fazia sentido, não pra nós, nos sentíamos completos dentro de nossas personalidades, em nossas vidas, mas acho que se fôssemos figurar esse sentimento, éramos como duas peças de um "quebra-cabeça", duas peças de uma mesma imagem, que vieram da mesma caixa e mesmo "espalhadas" junto a tantas outras, se encaixavam perfeitamente. Porque independente da distância que houve entre nós, o fato de amar e ser amado por ela não me "completava", mas me "transbordava", fazia eu lembrar do que havia de melhor em mim e estava "adormecido" devidos aos meus traumas, fazia eu me sentir bem comigo mesmo, me sentir uma pessoa boa e que poderia ser alguém melhor, o amor dela me dava coragem para ser eu mesmo e realizar os meus sonhos e torná-los nossos...E nos momentos em que ela conseguia expressar o que estava sentindo, eu sabia que ela se sentia da mesma forma, ela estava tão mais gentil consigo mesma, tinha uma alimentação mais moderada, usava roupas mais confortáveis na maioria das vezes e não usava tanta maquiagem, ela sabia que não precisava mais se moldar pra ser aceita e notada por alguém, ela só precisava ser ela mesma, da forma mais genuína, pura e saudável que ela merecia ser.

Entre minha descontraída conversa com Júlio e Agnaldo, e o barulho do local, que não chegava a incomodar, samba/pagode obviamente não eram o meu tipo de música, mas naquele ambiente era agradável, parei meus olhos sobre Maria Pia, que conversava com as meninas como se elas fossem amigas há anos, foi possível ouvir que elas falavam sobre casamento, vestidos de noiva e afins...Era maravilhoso ver ela assim, tão feliz, tão animada, tão leve, tão livre, eu havia entendido a importância de se ter amigos, não que eu não sentisse falta antes, mas agora eu realmente havia entendido o sentido de um verdadeiro amigo e eu sabia que inconscientemente ela também sentia falta de ter amigas, porque com certeza haviam coisas que ela não iria compartilhar comigo, coisas "de mulher" e estava tudo bem, era normal.
Era isso, normal! Finalmente tínhamos uma vida normal, independente das coisas que nos trouxeram até aqui, estávamos livres, tínhamos amigos, Maria Pia tinha uma família e eu...Talvez um dia eu formasse uma junto a ela, eu tentava não pensar muito nessas coisas, ela ainda estava passando pelo processo de superar todo esse trauma, e eu esperava pacientemente, eu a entendia, eu a respeitava, a forma como ela gerou Bebeth com tanto amor, naturalmente porque era isso que havia em si, amor...E depois ser usada e descartada com um objeto, isso me atormentava, e eu só não fiz Eric pagar por isso porque se eu me prejudicasse, prejudicaria Maria Pia também. Nossa! Como a dor dela doía em mim! Afastei esses pensamentos, no momento desnecessários, e voltei para o presente, e ali estava ela, tão linda, tão feliz, do jeito que eu sonhei em vê-la esses anos todos.

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