Assim que Elisa e Camila saíram do quarto, precisamos trocar a fralda de Vitório de novo, então resolvemos dar um banho nele. Decidimos que iríamos tentar isso juntos e sozinhos, mas chamamos uma enfermeira somente por segurança.
Ficamos um pouco nervosos e acho que até demoramos um pouco, mas…
— Vocês se saíram muito bem! Nem parece que é o primeiro filho! — A simpática enfermeira, que era a que vinha sempre, nos elogiou.
— É, bom saber que o curso com aquele boneco estranho valeu a pena. — Vitor respondeu nos fazendo rir, mas ainda um pouco nervoso, estávamos no momento delicado do curativo no umbigo, que me dava aflição, mas o que me tranquilizou e me surpreendeu é que Vitório ficou quietinho o tempo todo.
…
— Pronto! Passamos pelo maior desafio. — Disse abotoando o último botão da roupinha de Vitório, a enfermeira já havia saído. Enquanto sentia o olhar de Vitor sobre nós, ele estava em pé ao meu lado e eu não conseguia pôr em palavras a sensação de ter ele presente todos os segundos de cada momento, e eu desejo com todo o meu coração que seja sempre assim, temo muito que algo faça ele se afastar, sei que dias difíceis virão, que estamos somente no começo dessa aventura e sinceramente não sei como vou me sentir daqui pra frente, tenho sentido uma certa melancolia, ao mesmo tempo que estou emocionada por ter meu bebê em meus braços, lamento não tê-lo mais em meu ventre.
— Eu tô orgulhoso da gente. — Vitor respondeu e eu senti um friozinho na barriga ao ouvir isso, mais uma vez ele me apoiando, mais uma vez ele demonstrando o quanto isso tudo também estava sendo especial para ele. Nos olhamos, sorrimos e Vitor deu um beijo em minha testa.
Logo ouvimos uma leve batida na porta e ela sendo aberta.
— É aqui que está o bebê mais lindo do mundo? — Bebeth apareceu perguntando baixinho e imediatamente senti meus olhos rasos de lágrimas, que caíram pelo meu rosto assim que vi Madá entrando no quarto junto com ela. — Meus parabéns pra melhor mamãe! — Bebeth disse no mesmo tom enquanto me abraçava, e eu sentia meu rosto molhado pelas lágrimas, ter Bebeth ao meu lado aqui nesse lugar e nesse momento, parecia a confirmação de que sim, tudo era diferente agora e tudo estava bem, ninguém poderia me separar das pessoas que eu amo.
— Madá! — Exclamei baixinho entre lágrimas assim que Bebeth foi abraçar Vitor e Madá se aproximou de mim.
— Meus parabéns, minha filha! Você merece tanto!
— Meu Deus! Ele realmente é o bebê mais lindo do mundo! — Bebeth exclamou nos fazendo rir, ela estava mesmo surpresa, com as mãos no rosto enquanto observava Vitório deitado sobre a cama, ele estava quase dormindo, mas ainda assim seus olhinhos estavam atentos ao que estavam acontecendo a sua volta, mesmo que ele ainda não estivesse enxergando tão nitidamente.
— Minha filha, ele é igualzinho a você! — Madá ria e chorava ao mesmo tempo, enquanto olhava pra ele da mesma forma que Bebeth, em choque.
— Ah que bom! Pensei que ninguém ia achar isso, porque eu acho ele a cara do Vitor. — Respondi.
— Eu posso segurar ele? — Bebeth perguntou revezando seu olhar entre eu e Vitor, ele me olhou à espera de uma resposta e eu apenas assenti, emocionada, não conseguia falar nada. Vitor ajudou Bebeth a segurar Vitório e eu fiquei apenas assistindo aquela cena, aquele sonho. Senti um olhar sobre mim e era Madá, eu apenas dei de ombros e ela sorriu, me abraçando de lado, eu não precisava dizer nada, ela sabia o quanto aquele momento era especial pra mim.
…
— Ah, eu acho que ele é uma mistura dos dois. — Disse Bebeth, ela estava com Vitório no colo, eu estava sentada ao seu lado no sofá de dois lugares, Vitor sentado no braço do sofá e Madá em uma poltrona, mas bem pertinho de nós.
— É verdade…Ele tem os olhos e as bochechas da Maria e o queixo e o nariz do Vitor. — Madá completou — Mas eu bati os olhos nele e vi a Maria Pia, lembrei na hora do dia em que eu conheci a minha menina, ainda no hospital também. — Lembrou enquanto fazia carinho em meu ombro, então segurei sua mão e a beijei.
— Como você tá se sentindo, minha filha? — Perguntou e todos os olhares se voltaram pra mim, Bebeth olhou bem em meus olhos, como fazia quando esperava uma resposta sobre algo mais sério e eu fiquei uns segundos sem reação, acho que vou demorar a entender que agora as pessoas estavam se preocupando comigo também.
— Ah, eu…tô com um pouquinho de dor, mas já me deram remédio e…tô sentindo, não sei, uma melancolia — Franzi a testa, ainda tentando entender e explicar o que estava sentindo — Eu tô muito feliz pelo meu bebê estar aqui, por ele ser saudável, mas…Eu não sei, é estranho ele estar aqui, mas não estar mais…comigo…Vocês entendem? — Olhei para eles em busca de uma resposta, com medo de que achassem que eu estava enlouquecendo.
— Eu entendo muito bem, minha filha — Madá acariciou a minha mão — Eu me senti assim nas duas gestações e talvez seja normal, porque depois de um tempo passou. — Sorriu, me tranquilizando.
— É, a gente conversou sobre isso, né, Vitor? — Disse Bebeth, me surpreendendo e Vitor assentiu.
— Vocês conversaram? — Revezei meu olhar entre os dois.
— Sim, eu fiz as minhas pesquisas, você sabe e…— Parou e olhou pra Bebeth, como se não soubesse se podia continuar.
— E eu perguntei muitas vezes para o Vitor sobre como você estava, durante a gestação e agora, de madrugada, quando ele me contou que o Vitório tinha nascido…Eu perguntava pra ele porque tinha medo que você me escondesse alguma coisa, queria saber de verdade como você estava e se havia alguma coisa que eu pudesse fazer — eu estava em choque com aquela enxurrada de informações — e nos questionamos sobre como você poderia se sentir nesse momento, então ele comentou comigo que poderia acontecer sim de você sentir uma certa…melancolia. — Vitor assentiu.
— Mas ainda assim nós queremos saber se você sentir alguma coisa diferente, física ou psicológica, queremos que você saiba que nós estamos aqui pra você também, que você não tá sozinha e que tudo o que você sentir é importante. — Vitor não me surpreendeu nem um pouco com aquelas palavras, ele já havia me dito isso antes e me provado através das suas ações, mas ainda assim me emocionei, olhei para Madá e Bebeth que assentiram e Madá me abraçou.
…
Obviamente elas nos questionaram porque não avisamos a elas assim que viemos pra cá e Vitor não me ajudou, jogou toda a culpa pra cima de mim, era óbvio que eu não faria ninguém sair do casamento para vir pra cá, até porque eu nem tinha certeza se Vitório iria nascer ontem mesmo, mas reconheço que essa atitude talvez seja um resquício do meu passado, onde me acostumei a fazer tudo sozinha, onde eu sempre parava o que estivesse fazendo para cuidar e dar atenção aos outros, mas ninguém faria isso por mim.
— Que bebê mais cheiroso! — Bebeth exclamou.
— Ah, nós já demos banho nele. — Respondi animada.
— Nós? Você quer dizer você e o Vitor? — Bebeth perguntou parecendo feliz também ao ouvir aquilo.
— Sim, — Vitor respondeu — nós chamamos uma enfermeira só por segurança, mas fizemos tudo sozinhos e…Conseguimos. — Deu de ombros, tentando disfarçar o quanto também estava animado e emocionado.
— É claro que vocês conseguiram! — Disse Madá, confiante — Vocês são muito dedicados.
— Agora quem precisa de um banho sou eu, — Respondi — você pode me ajudar, Madá? — Ela assentiu.
…
Ao contrário do banho de Vitório, o meu foi doloroso, desconfortável e demorado, não estava sendo nada fácil, mas felizmente eu tinha Madá ali comigo, que além de ser como uma verdadeira mãe pra mim, era a única pessoa com quem eu me sentia confortável para me expor dessa forma nessa situação, e ela também era mãe, ela entendia o que eu estava passando e apenas me apoiava e cuidava de mim, sem questionar o que eu estava sentindo, até porque eu nem sabia explicar exatamente o que era.
…
Eu já estava acomodada novamente(na medida do possível) quando Cristóvão chegou com os “meus irmãos e minhas cunhadas”, eu estava me sentindo um pouco cansada, mas foi um momento muito especial, eu não imaginava que fôssemos tão queridos, os meninos ficaram emocionados e as meninas levaram presentes para Vitório e acharam ele muito lindo, mas para a minha sorte ele estava dormindo, porque eu sinceramente ainda não sei se estou preparada para ver outra pessoa que não seja Vitor, Madá ou Bebeth querendo segurar o meu filho em seus braços.
Eles não ficaram muito tempo e eu até me senti um pouco culpada por sentir um certo alívio quando eles decidiram ir embora, eu os amo e amo a companhia deles, mas nesse momento…Eu me sentia muito exposta e até um pouco sufocada entre tantas pessoas. Na verdade eu só me sentia cem por cento à vontade e segura com Vitor, Madá e Bebeth.
— Pra onde vocês vão quando saírem daqui? — Bebeth perguntou, mas ela já sabia a resposta.
— Para o cafofo, ué! — Dei de ombros, era óbvio. Eles estavam sentados no sofá e eu na poltrona, eu ficava me revezando entre ela e a cama porque estava com um pouco de dor nas costas.

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Me espera
Fanfiction"Me espera" Esse é o nome de uma música interpretada por Sandy e Tiago Iorc, mas foi escrita por Sandy e seu esposo Lucas, em uma entrevista eles falaram que escreveram essa música em um momento do casamento em que os dois estavam um pouco distantes...