– Eu não posso mais ficar fingindo que eu não te amo. Eu sempre te amei. Ficar negando esse sentimento me deixa mal. Ficar sem você me deixa mal...
– Ricardo...
– Não, por favor. Me escute, Pedro. Eu sei que eu não fui uma pessoa boa pra você, mas eu quero me redimir por tudo o que eu fiz com você. – Me ajoelho e tiro uma caixinha azul do bolso – Aceita namorar comigo?
6 meses antes...
– Ah, mas não é possível que você nunca tenha beijado alguém, Pedro.
– Lucas, eu tenho coisas mais importantes além de beijar ou transar com alguém. – Sussurro palavra "transar" pra que ninguém escute. – Sério, isso é um dos meu menores problemas agora.
O sinal do colégio toca e guardamos nossas coisas.
– Ok então, Pedro. Mas tu fez algum tipo de voto de castidade? – Ele pergunta enquanto a gente vai indo em direção a saída pra irmos pro pátio.
Fomos andando até o refeitório pegar nosso lanche. E pela milésima vez o lanche é biscoito cream cracker com achocolatado.
– Sinceramente, já tô cansado de comer biscoito com Nescau. Todo dia é isso – Lucas reclama, mas pega o lanche e sai junto comigo. – Bem que eles poderiam variar, né? Podia colocar um pão, sei lá.
Enquanto estávamos saindo do refeitório com nosso lanche, Thiago grita:
– ALA AS BICHINHAS DO COLÉGIO! QUEM É O HOMEM E QUEM É A MULHER DA RELAÇÃO, HEIN?
Lucas se vira pra ele com ódio no olhar, mas eu viro ele de volta e continuamos andando.
– Pedro, qual é? Por que você não deixou eu acabar com ele? Você sabe que ele merece um corte.
– Lucas, nem sempre a gente vai poder ficar revidando o que ele fala. E se ele se revoltar e vir pra cima da gente? Fora que eu vou embora sozinho, e se ele vir atrás de mim e me bater?
Me lembrei no dia que me expuseram pra toda a escola sobre minha orientação sexual. Desde aquele dia não tive mais nenhum momento de paz, sempre escutando piadinha, risadinhas, xingamentos. Desde aquele dia, tento ao máximo não me demonstrar. Mas às vezes nem sempre funciona...
Um pouco longe dali...
– RICARDO, EU JÁ FALEI COM VOCÊ, MAS VOCÊ NUNCA TOMA JEITO. – O diretor Mendonza grita comigo – VOCÊ SEMPRE INTIMIDANDO OS ALUNOS BOLSISTAS, AGREDINDO-OS...
– Mas eu já falei com meu pai sobre essa coisa de bolsa. Por mim, só entraria quem tem dinheiro pra pagar o colégio. Se você não tem dinheiro pra pagar, procura um colégio público então. Eu não sou obrigado a conviver com eles – falo olhando aquela sala que eu já cansei de olhar. Aquele quadro sempre estave ali?
– Ricardo, – o diretor abaixa o tom de voz – você não pode fazer bullying com todo bolsista só porque você quer. O seu pai só não foi processado porque ele sempre consegue dialogar com os pais dos alunos – ele levanta e vai até a janela e observa os alunos indo e virem – semana que vem, abriremos novas vagas pra novos bolsistas. E também estava conversando com o seu pai em colocar você em um colégio interno.Escuto a parte do colégio interno e fico sem reação.
– Opa, calma lá. Só porque eu fiz umas coisas erradas, não quer dizer que eu precise ir pra um colégio interno. E minha liberdade? Como eu vou sair com meus amigos? Minha namorada? Por favor, Mendonza, conversa com ele pra mudar de ideia.
– Olha, Ricardo, eu posso até tentar, mas você vai ter que melhorar o seu comportamento e suas notas – ele ajeita seu terno e volta a sentar na cadeira – não podemos ficar com um aluno que mancha a história do colégio.
– Ok, Mendonza, vou me comportar a partir de agora. – O sinal toca e eu pego minhas coisas pra ir pra sala – Posso ir?
Ele concorda com a cabeça e saio. Eu não acredito que eu vou ter que suportar esse povo daqui do colégio. Subo as escadas e entro na sala, onde já estava o professor de Biologia. Sento no fundão, junto com meus outros amigos: Leonardo, Otávio e Matheus. Sento ao lado do Matheus, que já tinha guardado meu lugar.
– E aí, cara? Como foi lá? – Leo se vira e pergunta pra mim – foi o mesmo lenga lenga?
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O Contrário de Mim (romance gay) [EM ANDAMENTO]
RomancePedro é um menino tímido, estudante de escola pública que almeja um vida melhor pra ele e pra sua mãe. Ricardo é um menino extrovertido, sempre bem acompanhado e que já tem tudo de mão beijada (ou seja, rico). Uma festa de boa vindas do colégio muda...