8

6 2 0
                                    

Meu pai bate na porta do meu quarto, uns 5min depois de eu ter visto o Instagram de Pedro.

– Oi, filho – ele põe a cabeça pra dentro – quero te perguntar se você ainda quer vir comigo pro shopping.
– Oi, pai. Quero sim. Só deixa eu me arrumar e em 15min já tô pronto.
– Ok, Ricardo. – ele fecha a porta, mas volta a abri-la – tem algo que queira me contar?
Agora ele já estava dentro do quarto, sentado na minha cama.
– Hoje pela manhã te senti um pouco tenso, como se algo te incomodasse.

Bom, além de você me querer colocar numa escola militar, eu acabar gostando de um completo desconhecido e ter um psicopata assediador atrás de mim, sim, tudo tá me incomodando – penso.

– Não, pai. Nada me incomoda. Impressão sua. São só coisas do colégio. – tento dar essa desculpa esfarrapada e aparentemente ele cai.
– Tudo bem então. – ele me dá um beijo na testa – vou tá te esperando lá embaixo.

Ele sai e eu vou direto pro chuveiro. Por algum motivo, a água quente sempre foi motivo pra eu pensar, colocar as coisas no lugar.

De todas as coisas que poderiam me acontecer, apaixonar por alguém seria a pior coisa. Ainda mais por um pobre. Por que eu não me apaixono por qualquer cara igual a mim, rico? Coração burro. – penso.

Visto uma camiseta preta, uma bermuda jeans e um tênis de cano longo. Encontro com o meu pai na sala e aviso a ele que já estava pronto.

Durante o caminho, viemos falando de várias coisas, do colégio até as coisas que eu fazia quando era pequeno.

– Me lembro uma vez – começa ele – de quando fomos passar o ano novo com alguns parentes de SC e te deram um bolo de chocolate. Como você era bem do desastrado, você acabou sujando a roupa inteira de chocolate. Tive que trocar você faltando 10min pra meia noite. – ele ri. Sua risada era gostosa de se ouvir, como se ele gostasse de ver que eu aprontava. – Sua mãe me xingou até a alma naquele dia. – seu sorriso se desfez.

Falar da minha mãe era difícil. Minha mãe nunca foi uma pessoa amorosa comigo ou com o meu pai. Não a culpo, pois sei o quão difícil foi ela estar onde chegou, mas quase sempre eu sentia falta dela.

– Chegamos. Quer descer aqui na frente e depois nos encontramos lá dentro? Assim você não fica esperando eu procurar uma vaga na garagem.
– Por mim, tudo bem. Vou lá pra dentro e te espero lá.

Dou um beijo nele e desço do carro. Vou andando até o hall de entrada e fico olhando algumas lojas e algumas pessoas indo e vindo. Vou até o Bob's e compro um milkshake, até meu pai chegar.

Quanto estou saindo do Bob's, um menino veio falar comigo.

– Oi, Ricardo.

Faço uma cara de tipo "quem é você?", mas o respondo.

– Oi... mas eu te conheço?
– Ah, me desculpe. Sou Yago. Estudo no mesmo colégio que você. – ele estende a mão e eu a aperto.
– Hm, seu nome não me é estranho...
– É que provavelmente você não me conhece. Sou irmão da Sophia.
– Ah, sim. Sophia. Quanto tempo, não?

Sophia era uma antiga amiga minha. Naquela época, devia ter uns 12, 13 anos e ele era 5 anos mais velho que eu. Tinha um leve crush nele, mas ele foi estudar fora junto com a irmã. Nem ela, ele e eu tivemos mais contato.

– Quanto tempo, hein. Já fazem...
– 4 anos...
– 4 anos?! Não é possível... Bom, pode-se considerar possível, você tá bem do bonito. – ele dá um riso sem graça, olhando pro chão.
– Ah, 'brigado. Assim eu fico sem graça... – ele coça a cabeça.

Meu pai me manda uma mensagem, dizendo que já está em frente ao cinema, me esperando.

– Quer vir comigo ao cinema? – pergunto.
– Sim, vamos. Assim eu vejo seu pai. Fazem anos que eu não o vejo.

Fomos indo em direção ao cinema e ele me falou que sua irmã também estava por vir.

– Bem que você poderia ter me mandado mensagem. Por mais que não sejamos próximos, eu queria ser seu amigo. – dei uma risadinha sem graça, pois eu nunca imaginaria que ele queria ser meu amigo.
– Então, já que você tá aqui, agora podemos ser amigos.

Quando ele ia me responder, já estávamos perto da bilheteira do cinema.

– Ricardo, meu filho. Onde você estava? Demorou, hein?
– Ah, desculpa. Fui comprar um milkshake e acabei encontrando o irmão da Sophia, Yago.
– Nossa, como cresceu, menino. E tá musculoso também. E como foi na Nova Zelândia? – meu pai perguntou, oferecendo a mão pra ele apertar.
– Foi tudo bem. Acabei de voltar pro Brasil tem alguns dias. Minha irmã ficou com meu pai lá pra terminar de resolver algumas coisas pendentes, mas logo ele volta. – termina ele apertando a mão do meu pai.
– Então, viemos aqui pra assistir o filme ou não? – falo meio impaciente.

Fomos a bilheteria e compramos os ingressos. Decidimos assistir a qualquer filme de terror genérico e fomos comprar pipoca e refrigerante. Yago ficou do meu lado, prestando atenção a todo filme. Às vezes olhava pra ele, mas quando ele se virava pra mim, eu acabava me virando, ficando com vergonha. Depois de 1h30 de filme, fomos aos McDonald's e fizemos um lanche.

– Então, Yago – disse meu pai – pretende fazer alguma faculdade?
– No momento, por estarmos no final do ano, vou ficar em casa mesmo, curtindo, mas em janeiro eu vejo isso.
– E o que pretende fazer?
– Pai, você vai entrevistar ele pra que? – pergunto. Tinha vezes que meu pai era bem do intruso na vida das pessoas.
– Sem problemas, Ricardo. Tô pensando em fazer engenharia.

Depois eles ficaram um tempo conversando e eu fiquei sobrando. Peguei meu telefone e fui vendo algumas coisas no Instagram quando recebo a notificação que Pedro adicionou uma nova foto. Curti.

– O que aconteceu, Ricardo? – Yago pergunta.
– Ahn, hum, nada... – desligo meu telefone e ponho no bolso. – Do que falavam?
– Nada não. Tava querendo saber se o Yago queria dormir lá em casa, já que tá um pouco tarde pra ele voltar. – meu pai fala, terminando de dar o último gole no refrigerante.
– Mas eu já falei com ele que não precisa, eu vou pra casa. – Yago fala.
– Vamos, Yago. Eu quero saber como foi lá na Nova Zelândia. Dorme lá em casa. – falo, olhando em seus olhos.

Ele acaba cedendo e vai lá pra casa. Terminamos tudo e fomos pra casa. Chegando lá, meu pai oferece o quarto de hóspedes pra ele, mas ele fala que não queria causar incômodo e pergunta pra mim se ele pode dormir comigo.

– Contanto que você não ronque, tudo bem. – comento.

O Contrário de Mim (romance gay) [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora