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"Não confie no Ricardo". Essa era a frase que ecoava na minha cabeça. Como um adolescente de 17 anos poderia mexer com alguém assim? Eu sei que ele é bonito e tudo mais, mas não é possível que ele seja mal caráter assim. Tínhamos chegado em casa lá pelas 18:40.

– E aí, mãe? Gostou do diretor?
– Sim, Pedro. Bastante claro, comunicativo... Assim que eu gosto de ter as coisas. – fala ela colocando a bolsa em cima do sofá – inclusive, quem era seu novo amigo? Tava conversando com a menina da secretaria, que é super simpática por sinal, e você já tinha sumido.
– Ah, mãe. Era só um menino que estuda lá. Ele me mostrou como era o colégio, como eram as salas e tudo mais. Você sabia que lá tem uma biblioteca enorme? – vou até a cozinha e pego uma água – fora que lá tem 2 quadras.
– Bom, pelo menos você gostou do colégio. O meu problema agora é pagar seu uniforme.
– Mãe, não esquenta. Já me preparei pra isso. Consegui juntar um dinheiro pra comprar essas coisas do colégio.
– Que filho precavido o meu. Que bom filho. – de repente bate um semblante triste.
– O que foi? Aconteceu algo? – pergunto, indo me sentar ao lado dela.
– Não aconteceu nada – vejo as suas lágrimas descendo e ela as secando. – é que eu nunca imaginei que você iria embora tão cedo.
– Eu? Ir embora? Mãe, para de ser boba. Eu sempre vou vir te visitar, visitar o Lucas. Vocês são a minha família. – viro o rosto dela pra mim – só porque vou estudar em um lugar longe, não quer dizer que eu vou abandonar vocês.
– Oh, meu filho. – ela me abraça e eu retribuo – você é tão maduro pra sua idade...

Depois do nosso momento emotivo, fui tomar um banho e jantar. Depois de banhado e alimentado, entrei no WhatsApp mandar uma mensagem pro Lucas.

– lu, tá acordado?
– pra vc tô sempre a disposição

Quase sempre eu acho que ele tá me cantando. Ou talvez eu seja louco, sei lá.

– então, minha mãe foi confirmar a prova da bolsa cmg
– mentira? nao acredito q vou perder meu melhor amigo 😭 pelo menos vc vai sair desse inferno
– ah, não fala assim. pelo menos a gente se conheceu melhor, aprofundamos nossa amizade... aliás, conheci um menino q estuda lá e me apresentou o colégio inteiro
– ah, é? legal, hein...
– co foi? ciúme uma hora dessa?
– não é ciúme, é preocupação, ué. e qual o nome dele?
– é Ricardo e ele é a coisa mais linda...
– hm, tô indo dormir. até amanhã
– até então...

Se o Lucas não fosse meu amigo, eu diria que ele estava com ciúmes de mim. De qualquer forma, fui deitar e dormir, pois tinha que ir pro colégio no dia seguinte.

Cheguei no colégio eram 7:45, pois meu ônibus tinha atrasado. Subi e entrei na sala. Procurei Lucas com os olhos, porém, não o encontrei.

Talvez ele tenha se atrasado. Ele vai chegar em algum momento. É só esperar. – pensei, mas não foi isso o que aconteceu.

Já ia dar quase 10h e desisti de esperar ele. Estava quase terminando a aula de matemática, e como não ia ter mais aulas, decidi passar na casa dele. Ele quase nunca faltava, só faltava se caso estivesse doente, mas tenho quase certeza que não era o caso.

Peguei um ônibus que deixava um pouco perto da casa dele e fui andando até chegar lá.

– Ô LUCAS! – chamei ele no portão, mas quem veio foi o irmão mais velho, Tiago.
– Oi, Pedro. Calma aí, que eu vou abrir o portão pra você. – ele veio e abriu o portão – o Lucas tá lá dentro, no quarto. Até estranhei que não foi pra escola contigo. Vocês sempre estão juntos.
– Pois é, Tiago. Até eu estranhei. Mas tudo bem, eu vim ver o que tá acontecendo com ele.

Tiro os tênis e vou em direção ao quarto dele. Bati na porta e ouço ele gritar:

NÃO TEM NINGUÉM, NÃO QUERO FALAR COM NINGUÉM!

Bato novamente, até uma hora que ele se levanta e abre a porta.

– Mas que caralho, já falei que não quero falar com ninguém...
– Você não quer falar comigo? – ele bate a porta na minha cara. Abro a porta de novo e entro no quarto. – para com isso, Lucas. O que aconteceu?
Não aconteceu nada, Pedro. Vai embora. – disse ele debaixo do travesseiro.
– Então porque você não me diz isso olhando pra mim?
Porque eu não quero olhar pra você.
– Deixa disso – tiro o travesseiro da cara dele – por quê tudo isso? E você tava chorando?
– Sim, eu tava chorando. Agora, por favor, vai embora? Quero ficar sozinho... – ele diz ficando de costas pra mim.
– Agora mesmo que eu não vou sair daqui até você não me explicar o que tá acontecendo. – sento do lado dele – nós nunca fomos de guardar segredo um pro outro.

Rapidamente ele se vira e me dá um beijo. Desajeitado, mas um beijo. Ele passa as mãos no meu pescoço e eu fico mole, mas volto a realidade e o empurro.

– Mas cara, o que foi isso?
– Meu deus, Pedro. Você é muito lerdo ou consegue fingir muito bem. Eu sempre fui apaixonado por você, Pedro. Aliás, apaixonado não. Eu sempre te amei. Eu nunca consegui esconder isso de você, mas você nunca percebeu isso.
– M-mas, como assim, Lucas? Eu realmente nunca tinha percebido que você deu a entender que gostava de mim. – levanto e balanço a cabeça em negação.
– Pois é, Pedro. Eu sempre falava aquelas coisas absurdas pra ver se você tinha alguma reação, mas pelo visto, você sempre me ignorou. – ele volta a deitar, ignorando a minha presença.
– Lucas, por favor. Vamos conversar sobre isso...
– Pedro, – ele levanta, secando as lágrimas do rosto – alguma vez você já gostou de mim? E não estou falando no sentido de gostar como amigo, nem como irmão, mas sim como um parceiro, homem?
– Lucas, eu vou ser sincero com você: eu nunca tinha pensado que nossa amizade poderia se evoluir pra algo maior. Nos conhecemos desde pequenos, sempre ficamos juntos e tudo mais, mas nunca pensei dessa forma. Agora que você tá me dizendo isso, eu não sei o que falar pra você e eu não sei o que você quer ouvir de mim.
– Pedro...
– Calma, deixa eu terminar. Você veio me beijando e eu não soube o que reagir, como reagir. Eu não vou dizer "eu te amo" porque o meu amor por você é um amor de irmão, de amigo, não de namorado. Me dá um tempo pra pensar em tudo isso, organizar as minhas ideias e depois falamos disso, ok?

Lucas tenta falar algo, mas sua voz não sai e ele só concorda com a cabeça. Fui direto pra casa e pedi a minha mãe falar com o gerente de onde eu trabalhava, pois não tinha cabeça pra pensar em nada. Tomei um banho frio, tentando acalmar e organizar minha mente, mas não consegui, deitei e acabei pegando no sono.

Estava em um lugar calmo, parecido com um bosque; havia alguns animais selvagens, porém mansos. Vou seguindo uma trilha de pedras, até que chego em um lugar parecido com um altar. Ali, estava uma pessoa, mas não conseguia ver seu rosto.

– Esse foi o momento no qual eu mais esperei – disse a pessoa pra mim, mas não consegui reconhecer sua voz – você está lindo, como sempre.
– Mas que lugar é esse? – pergunto. De repente me vejo com um smoking branco e com algumas pessoas que eu não conheço ali também.
– Não está reconhecendo? É o nosso casamento, do jeito que você sempre quis. Eu organizei tudo pra você. Pra nós.

De repente a voz foi ficando mais clara e a pessoa também. O sol deixava minha pele levemente avermelhada, mas também me dava uma sensação boa. O rosto da pessoa foi se revelando, e, por um momento, achei que fosse Lucas, mas era outra pessoa.

– Mas quem é você?
– Ricardo. Agora eu sou seu marido.

Acordo no susto e suado. Não pode ser. Como um garoto que eu mal conheço veio no meu sonho? Mal trocamos palavras e ele aparece assim, pra mim?

O Contrário de Mim (romance gay) [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora