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Confusão. Essa era a palavra que podia explicar tudo. Não havia um motivo racional pra que eu tenha sonhado com ele.

– Mal nos conhecíamos, como pude sonhar tal coisa? – penso.

Depois de ter acordado, não consegui mais dormir. Fiquei revirando a cama até o amanhecer, quando decidi descer. Já eram 6:20 da manhã e o café já estava pronto (ou pelo menos aparentava estar). Já tinha feito minha higiene matinal e resolvi sentar a mesa que ainda estava sendo posta. Meu pai estava sentado na ponta, vendo algo no telefone (provavelmente a sua agenda).

– Bom dia, pai. – vou até ele e dou um beijo no seu rosto.
– Bom dia, Ricardo. Acordado tão cedo? – pergunta ele, deixando o telefone em cima da mesa.
– Sim, tive um pesadelo pela madrugada e não consegui mais dormir. – puxo a cadeira e me sento ao seu lado.
– Ah, sim. Hoje eu tenho o dia de folga. Quer ir em algum lugar comigo? Podemos ir ao shopping ou em outro lugar que preferir. – diz ele e toma um gole do café.
– Sim, pai. Seria uma boa ideia. Ultimamente tô ficando tão estressado e cansado. – falo, pegando uma torrada. – Quero distrair a mente.
– Mas o que aconteceu pra você tá assim? Algo no colégio?
– Não, nada aconteceu. São só coisas. Daqui a pouco eu esqueço. – disse, querendo terminar o assunto.
– Ah, – ele exclamou pegando alguns panfletos de algumas universidades, tanto gringas e brasileiras – olhe essas faculdades. Eu quero o melhor pra você.
– Papai, você sabe que eu não estou pensando nisso agora. – falo um pouco irritado.
– Eu sei, mas olhe. Por favor.

Depois disso, terminamos de tomar café e subi de novo pro quarto. Eram por volta de 7:25 da manhã, quando resolvi mandar mensagem pro Leonardo. Contei tudo a ele, sobre o sonho, tudo.

– ah, mas eu não acredito nisso. Ricardo Teodoro Albuquerque Almeida apaixonado? é dms p mim
– eh sério, Leonardo. n fica me zoando não. tô pensando nisso até agr e vc de gracinha pra cima de mim...
– ok, não vou te zoar, mas realmente é bem estranho. eu acho q vcs vão acabar namorando, por isso o sonho
– já disse q vc é um inbecil?
– eu te amo tbm

Apesar de sermos um quarteto (eu, Léo, Otávio e Matheus), a pessoa q eu mais tinha intimidade era o Léo. Ele sempre foi meu confidente e vice versa. Tínhamos intimidade pra tudo, inclusive falar do nosso primeiro beijo.

Chamei ele pra vir pra cá pra casa, mas ele disse que não poderia ir porque ia visitar os avós no interior. Era sábado, estava quente e resolvi ir pro clube ficar um tempinho lá, pra distrair a mente e depois ir pro shopping com o meu pai. Chego no clube e vejo quem eu não queria ver: Tomás. Saio andando na direção contrária quando ele começa a me chamar.

– RICARDO! OU! ME ESPERA AÍ!

Finjo que não escuto ele e dou passos largos pra primeira piscina que eu vejo, mas ele me alcança e me segura pelo ombro. Dou uma respirada funda e me viro pra ele.

– Oi, Tomás. O que você quer?
– Nada, oxe. Queria te ver, conversar contigo. – ele fala e ri pra mim. Tinha vontade de quebrar os dentes dele.
– Da última vez que conversamos, você quase me matou. Não tenho o que conversar com você. Agora, me dê licença, vou pra piscina. – falo e me viro, mas quase caio e ele me segura.
– Viu, se eu não tivesse aqui, o tombo ia ser feio. – ele fala no meu ouvido e meu estômago dá uma revirada.

Me solto dele e saio andando, deixando ele lá. Tomás foi o primeiro cara que eu gostei, mas ele sempre me forçava a fazer coisas que eu normalmente não queria. Por ele ser mais velho que eu e eu mais novo e burro, acabava indo nas ideias dele.

Fiquei umas horas no clube e acabei indo pra casa. Felizmente, não encontrei Tomás em lugar nenhum.

Provavelmente deve tá se drogando ou fazendo a mente de alguém pra transar – penso.

Chego em casa era por volta das 15h e meu pai estava em ligação com médico-chefe do hospital de onde ele trabalhava. Subi direto e fui tomar um banho pra tirar o cloro da pele. Novamente, as cenas do pesadelo me vem a mente. Visto somente uma cueca e deito, tentando pelo menos tirar um cochilo, mas não consigo.

Pego meu telefone e entro no Instagram. Fiquei rolando o feed até que eu vejo o perfil dele no "pessoas que talvez você conheça". Entrei no seu perfil. Estava tremendo e com o coração palpitando.

– Mas o que tá acontecendo comigo?

Seu perfil estava trancado. Pedi para segui-lo. Na mesma hora ele aceita e me manda mensagem.

– oi
– oi, Pedro, né
– sim, e vc é Ricardo, né?
– sim...
– então, como me achou?
– tava vendo umas coisas aqui no Instagram e seu perfil acabou aparecendo pra mim. algum problema em te seguir?
– não, nenhum, q isso. inclusive, eu ia até te pedir algum tipo de contato seu, mas qnd fui ver, vc já tinha ido embora...
– ah, vcs pareciam estar resolvendo algo na secretaria, aí eu preferi ir embora
– realmente, mas vc podia ter me dado um contato seu. eu gostei do tour pelo colégio e seria mt bom alguém como vc ser meu amigo

Engoli a seco. Amigo. Será que eu queria ser amigo dele? Será que eu queria ser amigo dele?

– sim, eu posso te mostrar umas coisas e algumas pessoas lá dentro. vc já consegui fazer a prova? tá nervoso?
– não, ainda não, mas tô mt nervoso.
– é normal sentir assim. todos os bolsistas ficam nervosos qnd entram naquela sala pra fazer a prova
– vc é bolsista?
– não, mas eu sei como funciona o esquema das bolsas. mts anos vendo as pessoas entrarem e saírem.
– olha, vou ter que sair aqui, mais tarde nos falamos, ok?
– ok, então. até mais tarde

Ele fica off e eu filho olhando suas fotos. A cada foto que eu vejo, meu coração dá um pulo.

Calma, coração. Não o conhecemos, não podemos nos jogar de cabeça. Mas bem que podíamos. Ele parece ser uma pessoa boa, de coração bom. Ele não parece ser uma pessoa que vai nos machucar. – penso.

– Assim eu espero.

O Contrário de Mim (romance gay) [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora