Eclipse

02 Inusitado

A varanda da senhora Barnes sempre voltava a minha cabeça quando ouvia o som de água cair, fosse chuva ou o chuveiro.

Dias em que eu e Bucky conversávamos e jogávamos cartas na varanda, uma vez que não se podia fazer outra coisa.

Onde você está Bucky? Eu me repetia pela milionésima vez.

Eu me apoiava nos azulejos do banheiro deixando a água gelada bater na minha nuca, explorando desinteressadamente a pedra nas paredes.

Ele se lembrou de mim. Teria me matado se não tivesse se lembrado.

Eu me repetia as mesmas frases continuamente. Ele tinha que se lembrar.

Me forcei a sair do banho, enrolando uma toalha na cintura, em busca da velha bússola.

Os olhos de Peggy brilham enigmáticos para mim até hoje, trazendo a velha onda de arrependimento.

Por que esperei tanto? O sol que entrava pela janela iluminava o ambiente, trazendo a melancolia de volta.

Mais um dia.

A doença avançava rápido, e algo me dizia que eu a perderia para sempre dessa vez. Eu a perderia duas vezes.

Seus olhos na foto eram vivos, decididos. Uma chama acesa, que me cativou desde o primeiro dia em que a vi acertar o rapaz grosseiro com um soco no nariz.

Ela nunca deixaria que ele a insultasse daquele jeito... Eu ria a essa lembrança dolorosa quando a imagem de Alexia, com a mesma reação ofendida saltou a minha mente.

Seus cabelos eram longos e escuros, assim como a sua íris em um intrigante contraste como batom vermelho em seus lábios carnudos.

Eles tinham praticamente o mesmo tamanho, mas Alexia tinha pernas torneadas e seios marcantes, mesmo que as palavras saindo da sua boca fossem parecidas às reações de Tony. Ela era tenaz e impetuosa.

As mulheres estão tão diferentes.

Eu não sabia lidar com elas antes, agora simplesmente parecia impossível. A imagem dos seus olhos curiosos e o seu decote agora voltava a minha mente, exibindo a renda preta do seu sutiã.

Inspirei fundo. Aquele velho comichão agora se espalhava pelo meu corpo.

Aquele sussurro correndo sob a minha pele, silencioso e incisivo que despertava sempre que um belo par de seios ou um belo traseiro volumoso como o de Alexia se colocava diante de mim.

O sussurro que me levava por caminhos egoístas.

Seu decote agora dançava na minha mente, junto com o jeans agarrando seus quadris.

Outro riso escapou tímido pelos meus lábios sem que eu me desse conta.

É a irmã do Tony. - Disse para mim mesmo enquanto me vestia.

Essa seria a minha desculpa. Irmã do Tony.

Eu sempre criava uma para todas elas. Irmã do Tony...Espiã...colega de trabalho...vizinha espiã...

Nenhuma delas era Peggy. E todas viam o Capitão América, e não a mim.

Bucky certamente me faria um discurso sobre como a vida só se vive uma vez e me forçaria a sair com uma delas, como sempre fez.

Ela tem o mesmo apelido... - as imagens de Alexia voltavam. Ela parecia um furacão, uma força da natureza preparada para provocar Tony Stark.

Seus traços delicados se transformaram completamente quando a fúria tomou o seu rosto, indignada por não ter seu trabalho reconhecido, e claro, porque eu a julgava irresponsável.