MANUELA
Encostei-me na parede como se ela estivesse prestes a cair e eu fosse a responsável por segurá-la no lugar.
Eu sabia que a cena que iria se desenrolar a seguir não me dizia respeito. Mesmo que Felipe tenha me pedido para ficar, eu poderia dar uma desculpa qualquer e deixá-los sozinhos.
Mas ao pensar na Ana, nas perguntas que me fizera há pouco e em como ela estava com medo – não de uma bronca que estava por vir, mas que o irmão não gostasse mais dela por isso. Esse motivo conseguiu despertar em mim a Manuela de anos atrás. A garotinha que sofreu quando a mãe a abandonou para seguir com a vida.
Uma vida que não incluía o marido, muito menos a própria filha.
Meu pai fora o melhor pai do mundo. Nunca me deixou faltar nada, principalmente o carinho e o amor da parte dele. Como se ele quisesse suprir o que eu não receberia dela.
E vendo a Ana me olhar daquele jeito, fazendo um pedido silencioso com aqueles olhinhos tão azuis, era impossível não me comover.
Eu me espelhava naquela criança, que a mãe foi viajar – sem previsão de volta e nem se preocupava em ligar para saber como estava.
Eu ainda tinha a sorte de ter o meu pai do meu lado, e no caso dela, o pai estava hospitalizado e distante, tendo como a única família um irmão que conhecera recentemente.
Ela sempre soube da existência de Felipe e não conseguia entender o motivo de ele nunca ter aparecido para vê-la. Aninha era muito pequena para entender a briga que fez com que ele se afastasse. Mas mesmo sendo criança, ela acabava pegando a culpa para si.
Ela comentara comigo uma vez, me questionando, se a mãe tinha ido embora por causa dela. A história não era minha e eu não podia me intrometer, mas eu podia não gostar das atitudes que Safira tivera com relação à filha.
Aliás, pelo pouco tempo que convivi com Safira Baseggio na empresa não foi dos melhores.
Por mais que eu, Ivonete e até mesmo o senhor Olavo – antes de sofrer o acidente – conversássemos com ela sobre esse assunto, ela mantinha a sementinha da rejeição que a mãe plantara nela.
A mesma semente que a minha mãe plantou quando foi embora e, mesmo agora, comigo sendo adulta, às vezes eu ainda sentia essa semente querer criar raízes novamente e, quem sabe assim, florescer mais uma vez.
— Ana, você sabe que o que você fez não foi o certo, né? — a voz de Felipe me chamou de volta para o presente, para aquele quarto, para a conversa que iria acontecer.
— Sei... — um murmúrio chegou aos meus ouvidos. Ana mantinha a cabeça baixa, com vergonha da sua atitude que ela sabia que realmente era errada.
— Que bom que sabe... — respirando fundo, ele se aproximou da cama que parecia querer engolir a criança ali deitada. E não duvidava que essa fosse a vontade de Ana também. — Sabe, quando eu tinha a sua idade eu aprontava bastante. Não que me orgulhe disso.
Era nítido o quanto ele estava deslocado naquele momento. Como se nunca tivesse imaginado que protagonizaria uma cena como aquela. Passou as mãos pelos cabelos, bagunçando-os ao ponto de não perceber. Imaginei que seus pensamentos estariam da mesma forma.
— Ana, a gente já conversou um pouco sobre isso... Você entendeu o motivo que eu não vim antes para casa? Para te conhecer?
— Sim. Você me contou que foi por causa da briga com o papai e não sabia que eu tinha nascido, né? — notei que o medo que ela antes sentia parecia se dissolver como fumaça e ir embora pela janela aberta daquela noite quente.
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Aluga-se uma noiva para o meu chefe
Любовные романыUma briga afastou Felipe do pai, levando-o para longe por sete anos. Até que um telefonema muda o seu destino, trazendo-a de volta para assumir o cargo de CEO na empresa da família. Percebendo o quanto tudo mudou em sua ausência, ele conhece Manuela...