Capítulo 10

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FELIPE


Parecia que a minha cabeça não iria parar de pensar. E de me acusar também.

Que história foi essa de mentir para Ramon Luquesi sobre ter uma noiva?

Era questão de tempo até ele descobrir a mentira e eu ficaria em uma situação pior ainda. Quem iria querer uma parceria com alguém que enganara o próprio sócio?

Eu realmente não me orgulhava de ter falado aquilo, mas foi no impulso e... porra, que condição mais absurda a que ele me jogou.

E como diziam que "cabeça vazia, oficina do diabo" não me dei ao luxo de ficar em casa naquele sábado, resolvendo ir para a BG logo depois que almocei.

Pedi para que Ivonete ficasse de olho em Ana naquele dia que eu precisaria ir para a empresa resolver algumas pendências, que na verdade nem existiam, mas imaginava que me jogar de cabeça no trabalho pudesse minimizar um pouco o desconforto que eu sentia comigo mesmo.

Claro que antes de sair me despedi da minha irmã e quase fui atacado por um demônio em forma de cachorro.

Eu realmente não entendia como tinham deixado aquele ser ficar perto de uma criança de cinco anos sem temerem pela vida da menor.

Mas eu já tinha uma teoria na cabeça: o Bola de Neve só não gostava de mim.

E eu achando que seria difícil criar um convívio com uma irmã que nem me conhecia, mas na verdade, o desafio maior era conquistar uma bolinha de pelos de quatro patas e que tinha o latido mais agudo que eu já ouvira.

Cheguei numa empresa silenciosa e parti para a minha sala. Ao passar pela mesa em que minha secretária ficava foi inevitável não lançar um olhar naquela direção.

Mesmo sabendo que não a encontraria lá por não ser dia de expediente de trabalho.

Balancei a cabeça, estranhando essa atitude e fui até o meu escritório.

O barulho do meu celular tocando me tirou dos papéis que eu lia com concentração – ou com a maioria que eu conseguia dar.

Olhei o visor, surpreendendo-me com quem estava me ligando.

— Quem é vivo sempre aparece — aquela saudação bem animada que a gente recebia de um amigo que não vê há anos.

— Oi para você também, Luciano ­— respondi feliz por ouvir a voz do meu amigo.

— Acabei de voltar de viagem e fiquei sabendo que o grande Felipe Baseggio está de volta ao Brasil... e você nem para avisar, né?

Luciano e eu nos conhecemos na faculdade e ele foi uma amizade que continuou na minha vida. Estagiamos juntos na BG até ele conseguir uma oportunidade melhor em outra empresa e mudar de emprego.

Acabei nem participando da sua despedida porque a briga com meu pai nos afastou antes dessa novidade.

— Desculpa, mas foi tudo tão corrido que até agora eu nem sei se realmente estou aqui de volta. Isso porque já faz duas semanas que cheguei...

— Imagina, Felipe. Fiquei sabendo só agora do acidente do seu pai, sinto muito — consolou-me. — Como o senhor Olavo está?

Passei para ele as atualizações do boletim médico que consegui na última visita que fiz.

Era sempre estranho ver meu pai deitado naquela cama tão próximo, mas ao mesmo tempo tão longe.

— Estou te ligando para marcarmos alguma coisa mais tarde. Quero reencontrar o meu amigo e beber um pouco, topa? — Luciano convidou.

Aluga-se uma noiva para o meu chefeOnde histórias criam vida. Descubra agora