FELIPE
O sol estava começando a nascer quando desembarquei do avião.
Há mais de sete anos que eu não pisava naquela cidade e uma sensação estranha me preencheu. Uma mistura de saudade e vontade de pegar o próximo voo e ir embora novamente.
Mas eu jamais faria isso. Eu voltara para enfrentar tudo. Eu voltara por causa do meu pai.
Depois de pegar a minha bagagem da esteira, fui até o lado de fora do aeroporto aonde chamei um táxi.
Os dois dias que seguiram daquela ligação parece ter sido um borrão para mim. Em um primeiro momento eu estava na minha sala, no seguinte eu estava pedindo para minha secretária cancelar todos os compromissos daquele dia. Conversei com meu chefe do escritório de Nova York, explicando todo o ocorrido.
Imaginei que ele fosse me demitir – o que era o mais certo, já que eu iria ter que me ausentar por tempo indeterminado do trabalho –, mas ele fora compreensivo e me dera uma espécie de licença e que eu poderia retornar quando quisesse.
Arrumar a minha mala foi algo que nem pensei muito, apenas peguei as primeiras roupas que vi e fui ajeitando tudo. Eu tinha conseguido o voo para o Brasil no dia seguinte, na parte da noite e chegaria no meu país ao amanhecer. E aqui estava eu.
A ligação que me informara sobre o acidente que meu pai tinha sofrido ainda repercutia dentro de mim. Lembrava da sensação até agora – mesmo que já tivessem se passado dois dias – que suas palavras trouxeram.
O medo que senti ao pensar que meu pai havia morrido no acidente, sem que eu tivesse uma chance de tentar consertar a nossa relação. Embora eu soubesse que não seria fácil, ainda mais com a Safira na sua vida.
É incrível que a gente só pensa na falta que alguém vai fazer quando existe o risco de ele partir para nunca mais voltar.
Mesmo tendo engolido o orgulho, eu não iria para a casa do meu pai em um primeiro momento. Ainda mais com a possibilidade de encontrar a Safira por lá.
Portanto, reservei um quarto de hotel onde eu ficaria hospedados por alguns dias. E foi para lá que pedi que o táxi fosse, para poder deixar a minha mala e seguir com o meu roteiro para o dia.
Eu praticamente nem dormi no avião, mas eu não iria conseguir deitar minha cabeça no travesseiro para descansar, não antes de ver meu pai.
E foi pensando nisso que, minutos depois eu desci e chamei outro táxi que me levou até o hospital em que ele estava internato na UTI.
Ele era a minha maior preocupação desde que soube do acidente que sofrera. Seria muita ironia pensar que eu quase perdi o meu pai da mesma forma que a minha mãe.
Para um acidente...
Por mais que eu soubesse que ele estava vivo – embora seu caso fosse considerado gravíssimo –, eu queria vê-lo. Olhar para meu pai e acreditar que ele fosse acordar, que eu iria deixar meu orgulho de lado e ter a iniciativa de pedir desculpas.
Minha cabeça ainda estava confusa com o horário, e isso foi um empecilho quando cheguei na recepção do hospital que ele estava internado. Não tinha me atentado que ainda não estávamos no horário de visitas.
Uma jovem – a recepcionista – barrou a minha entrada. Claro que eu não poderia culpá-la, já que o errado era eu e ela estava apenas fazendo o seu trabalho. Mesmo que eu não estivesse no meu melhor ânimo, agradeci e me afastei da mesa no exato momento que meu celular começou a tocar.
Atendi sem nem olhar qual era o número que estava me ligando e fui mais para o canto para ter privacidade.
Era Gomes, o advogado de meu pai, da qual tínhamos combinado uma reunião no dia seguinte. Mas assim que pisei no Brasil, mandei uma mensagem para ele sobre meu regresso.
— Podemos remarcar a reunião para hoje à tarde, senhor Felipe? Realmente é um assunto muito importante e deve ser tratado o quanto antes — seu tom sério chegou até mim e pude notar a urgência em sua voz.
— Claro, Gomes — concordei. — Estou saindo do hospital agora e vou para a BG porque não vou conseguir ficar parado no hotel. Que horas posso ir até o seu escritório?
— Agora eu estou indo para uma reunião com um cliente. Podemos marcar para as duas da tarde? Mas pode deixar que eu vou até a BG.
Concordei com a alteração da reunião e estava saindo do hospital, um tanto quanto distraído olhando as mensagens que não vi que iria trombar em alguém.
O impacto não chegou a me desiquilibrar, mas percebi que não aconteceu o mesmo com a moça. Por reflexo, tentei segurá-la com um dos braços e a firmei até que senti que estava com os dois pés novamente no chão.
Cabelos da cor do amanhecer estavam espalhados pela minha camisa social. Ela era mais baixa que eu alguns centímetros e ficava na altura do meu peito.
Senti meu celular vibrar na minha mão no momento em que notei ela se mexer em meus braços.
— Me desculpa, eu não te vi e...
— Tudo bem — Respondi, evitando que um pedido maior de desculpas começasse. Afastei-me dela e notei que tinha um táxi parado próximo à calçada.
Exatamente o que eu precisava.
Atendi a ligação enquanto me aproximava do veículo. Assim que abri a porta, escutei uma voz atrás de mim:
— Com licença, esse táxi está me esperando.
— E por que não entrou nele ainda? — Perguntei, um pouco sem paciência. Ela estava retornando para o hospital por não sei quanto tempo e queria que o taxista ficasse esperando por ela?
— Porque eu tinha que voltar lá para dentro e...
— Então, você pode pegar outro. — Concluí, entrando no táxi e fechando a porta. Eu não tinha tempo a perder, ao contrário daquela mulher.
O taxista olhava tudo, mas permaneceu calado. Passei o endereço da BG Comunicações e continuei na minha ligação.
Alguns minutos depois, estava na frente do prédio da qual trabalhei durante bons anos. Mas que também que foi o cenário da briga com meu pai, da onde tive que sair depois de tudo.
Notei que os olhares eram direcionados a mim conforme eu caminhava. Não sabia se eles imaginavam que eu voltaria para a empresa, ou se sabiam do motivo da minha ausência por esse tempo todo. Mas de uma coisa eu tinha noção: a fofoca rondava e eu, com certeza, era o assunto da vez.
Respirei fundo enquanto entrava no elevador que estava parado no térreo.
Seria uma fase de mudanças e eu teria que estar preparado para todas elas.
Precisava disso.
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Aluga-se uma noiva para o meu chefe
RomanceUma briga afastou Felipe do pai, levando-o para longe por sete anos. Até que um telefonema muda o seu destino, trazendo-a de volta para assumir o cargo de CEO na empresa da família. Percebendo o quanto tudo mudou em sua ausência, ele conhece Manuela...