Capítulo 13

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MANUELA


Eu quase não vi o meu chefe hoje. Ele chegou apressado, sem os cumprimentos que costumava fazer e entrou na sua sala não saindo para mais nada.

Aquele dia não teria nenhuma reunião, então eu praticamente trabalhei com contratos e organizando a agenda para os próximos dias.

Quando passou um pouco do meu horário, resolvi bater em sua porta para confirmar se ele precisava de mim para mais alguma coisa. E não sei, para que talvez eu pudesse ajudá-lo. E foi isso que eu fiz, mas ele negou dizendo que estava tudo em ordem.

Estava prestes a virar em direção a porta para sair, quando ele me deteve chamando o meu nome, mas não conseguiu concluir o que ia falar porque fomos interrompidos pelo celular tocando em cima da mesa.

— Alô. Oi, Ivonete... aconteceu alguma coisa? — achei que seria melhor que eu saísse da sala para dar privacidade com a sua ligação e comecei a caminhar em direção à porta. — O que aconteceu com a Ana? — a pergunta feita pelo homem somado com o tom desesperado que ela carregava, me fez parar no lugar e virar novamente em sua direção. — Estou saindo daqui e vou ajudar a procurar.

— Está tudo bem com a Ana? — eu tinha plena consciência que eu poderia estar interpretando o papel da pessoa intrometida, mas eu não estava preocupada com isso, nem com o que o meu chefe pudesse pensar. A minha prioridade era saber como a pequena estava.

— A Ana sumiu... — Felipe passou as mãos pelos cabelos em sinal de desespero, deixando-os bagunçados. — Ela chegou da escola, a Ivonete foi para a cozinha e quando voltou ela não estava mais na casa.

— Meu Deus... — exclamei, desolada.

Depois de poucos segundos ainda desnorteado, Felipe foi até a mesa e pegou algo na gaveta.

— Vou procurá-la pelo bairro da minha casa. Ela não deve ter ido longe... — ele se afastou, saindo da sala.

— Eu vou com você. — Repeti, decidida, seguindo-o. Parei ao seu lado, esperando que o elevador chegasse até o nosso andar.

— Não precisa, Manuela, e...

— Não é nem questão de precisar, senhor Felipe — a intenção não era ser grossa com esse comentário, tanto que tentei ser a mais gentil possível. — Eu gosto da Ana e me preocupo com ela. Me deixa ir junto, por favor.

Imaginei que ele fosse contestar essa minha atitude um tanto quanto ousada. Por mais que não fosse a intenção, eu estava contrariando um pedido seu dentro do nosso ambiente de trabalho.

Mas como mencionei antes, o que importava era encontrar a criança que estava naquela hora pela rua. Ou sabe-se lá onde.

— Obrigado — um sussurro ao meu lado chamou a minha atenção. Ele olhava atentamente para mim com seus olhos daquele tom de azul tão límpidos e consegui enxergar ali a gratidão que ele queria tanto me entregar.

O som do elevador quebrou o silêncio que tinha se instaurado entre nós. Felipe fez um gesto com o braço, me dando a chance de entrar primeiro e eu não perdi tempo para isso.

Agora todos os minutos eram valiosos e de grande importância.

Ficamos em silêncio durante todo o trajeto do elevador até depois de Felipe dar partida com o carro e começar a guiá-lo pelas ruas.

A preocupação somada ao desespero era evidente em seu rosto; nas respirações ofegantes que soltava como se tentasse se acalmar dessa maneira. Ele apertava tanto o volante com as mãos que os nós dos seus dedos ficaram brancos.

Por mais que não houvesse palavras ditas até o momento, era completamente palpável a aflição que nós dois compartilhávamos.

— A culpa foi minha... — Felipe murmurou ao meu lado, mostrando o quanto estava preocupado. Mas fiquei pensando se ele pensara alto e nem se dera conta ou se estava mesmo querendo conversar. — Eu briguei com ela hoje de manhã.

— Nós vamos encontrá-la. — Coloquei toda a fé e esperança nessas palavras.

Queria muito que ele acreditasse nisso. Eu também precisava acreditar que isso iria acontecer.

Eu conhecia a casa onde o senhor Olavo Baseggio morava. Acabei indo lá algumas vezes, nas festas de aniversário da Ana, por isso consegui reconhecer que estávamos próximos ao bairro.

Felipe mencionara que Ivonete estava procurando a pequena pelo condomínio e nós iriamos ficar com o carro nas redondezas. Pelo horário que perceberam o sumiço, podia nos dar esperança que ela estava por perto.

Já estava escurecendo e isso me deixava ainda mais preocupada. E se ela estivesse perdida?

Viramos à esquerda e continuamos em frente até estarmos diante de uma praça. Nenhum movimento nas ruas e tentávamos estar o máximo atentos a tudo.

Quando estávamos contornando para pegar outra rua, eu tive a impressão de ter visto uma sombra e algumas flores se mexerem.

Claro que poderia ser apenas vento ou qualquer outra coisa, mas eu simplesmente não poderia ignorar.

Tudo poderia ser uma pista, um sinal ou uma esperança.

— O senhor pode encostar, por favor. — Pedi e ele me atendeu quase que imediatamente.

— Você viu alguma coisa? — questionou, entre o medo e o alívio.

— Não tenho certeza, só quero confirmar. — Soltei o cinto e abri a porta, assim que saí do carro ele estava contornando para chegar ao meu lado. — Tive a impressão de ter visto uma sombra ali perto daquelas flores. — Apontei o local que me chamara a atenção.

Seguimos naquela direção. Conforme nos aproximamos do local que chamara a minha atenção, um som começou a ficar perceptível. E a cada passo que dávamos mais nítido ele ficava.

Era o som de alguém chorando...

— Ana? — Felipe perguntou ao meu lado, atento a cada movimento ao nosso redor.

Com um movimento da mão, ele pediu que eu ficasse atrás dele, já que não sabíamos o que poderia ser encontrado. E não podia negar que essa sua atitude de proteção comigo não tenha passado despercebida.

— Ana, você está aí? — Felipe insistiu. Ele queria anunciar a sua presença sem assustar quem estivesse escondido entre as flores. — Sou eu. O Felipe.

— Maninho? — uma voz chorosa sussurrou perto de nós. Instantes depois, Ana saiu de onde estivera escondida esse tempo todo.

— Graças a Deus! — Felipe exclamou ao meu lado, aliviado, indo de encontro à irmã que acabara de achar.

Em três segundos, ele estava levantando-a do chão, com ela enlaçada em seus braços. Como se ele pudesse e quisesse protegê-la de tudo, do mundo todo se fosse possível.

Assisti a cena de telespectadora. Emocionada ao ver que tudo acabara bem naquela noite.

Aluga-se uma noiva para o meu chefeOnde histórias criam vida. Descubra agora