Capítulo 16

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FELIPE


O barulho incessante do monitor que era ligado pelos fios ao meu pai parecia ditar os minutos. Como se quisesse deixar claro que o tempo estava passando para nós, mas não paro Olavo Baseggio que ainda permanecia inconsciente sobre aquela cama.

— Oi, papai. Eu tô bem e como você tá? — Cumprindo a promessa que fizera na noite anterior, lá estava minha irmã e eu naquele quarto observando nosso pai. — Você não acha que já dormiu demais, não? Tem que acordar, papai...

Eu me mantinha distante dos dois, encostado na parede daquela sala fria de hospital. Ana estava sentada na cadeira ao lado da cama, segurando a mão do nosso pai.

— Preciso te contar uma coisa... Eu conheci o Felipe e ele é legal — sorri. —Quando você acordar, vocês podiam ficar de bem, né? Pra sermos uma família completa. Eu, você e o maninho... porque a mamãe eu acho que não vem mais.

O sorriso que antes estava em meu rosto desmanchou-se. Engoli o nó que surgiu na minha garganta que esse monólogo da minha irmã causara em mim.

Sermos uma família completa...

Esse também era um desejo meu. Queria que meu pai acordasse e pudéssemos resolver as nossas desavenças do passado. Algo que na época poderia ter sido considerado grande, mas que agora perdera todo o seu tamanho e importância devido aos fatos. E o maior deles era ver todo o santo o dia meu pai preso àquela cama, sem reação e sem um diagnóstico positivo que pudesse dar esperanças.

Era apenas o nada...

Ficamos lá por mais alguns minutos, deixando que ela falasse tudo o que quisesse e eu sentia que ela acreditava que o pai a escutaria. Eu também queria muito acreditar que sim.

Quando ela terminou de contar uma história de Bola de Neve, o cachorrinho destruidor, falei que precisávamos ir embora, mostrando que o horário de visitas estava para acabar.

Retornamos para o carro, acomodei-a em sua cadeirinha, sentando ao volante em seguida. Partimos para casa, onde eu a deixaria para depois ter que ir até a empresa.

— Felipe, já que você é adulto e sabe de tudo... — Ana chamou a minha atenção assim que paramos em um semáforo. Olhei para ela através do espelho retrovisor aguardando pelo resto do que queria falar. — O papai vai me abandonar também?

Nada. Completamente nada poderia me preparar para essa pergunta. E como eu poderia responder? Eu ainda não tinha tanto tato com crianças, ainda mais com uma por quem eu tinha um carinho muito forte.

Eu não era como a Manuela que sabia o que falar e como falar, mas eu não poderia ficar em silêncio e deixá-la esperando.

— Claro que não. Ele está apenas... dormindo — tentei simplificar aquilo que era complicado.

— É que me falaram ontem na escola que como ele tava dormindo muito era só eu conversar muito que o papai iria acordar — falou, desanimada. — Eu tentei, mas ele não acordou.

— É que ainda não é o momento de ele acordar, mas ele vai. Na hora certa e você vai ver.

Minha resposta pareceu surtir o efeito que ela queria, pois se manteve em silêncio o restante do caminho até em casa.

Assim que chegamos, desci do carro e a auxiliei para sair da cadeirinha e fomos em direção da porta. Quando entramos em casa, Bola de Neve veio receber a pequena – porque nunca era a mim – com muita alegria. Mas pelo menos, dessa vez, não rosnou ameaçadoramente na minha direção.

Aluga-se uma noiva para o meu chefeOnde histórias criam vida. Descubra agora