Capítulo 4

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MANUELA


Meu pai costumava dizer que "o mundo era um ovo". Realmente ele estava certo.

E no momento, esse ovo estava reduzido para um de codorna, daqueles bem pequenos.

Quem diria que o homem que praticamente roubou o meu táxi – certo, era um exagero da minha parte em usar essas palavras – numa cidade tão grande, fosse ser exatamente o meu novo chefe.

O filho que brigara com o pai e foi embora sem olhar para trás.

A primeira coisa que pensei assim que o vi – e o reconheci, é claro –, foi que ele iria esbravejar, reclamar do meu atraso – embora eu tivesse avisado com antecedência ao diretor, que era o meu responsável até ontem – ou até mesmo criticar o que acontecera mais cedo, na "disputa" do táxi.

Mas não foi isso que aconteceu. Ele fora... simpático e atencioso. O que me foi uma surpresa e tanto, já que eu o xingara mentalmente e tinha pintado a imagem de sem noção. Para ver que o quanto as pessoas podem surpreender.

Ele demorou a me reconhecer o que, no primeiro momento, eu achei que fosse melhor. Mas ele logo se lembrou do meu rosto e ficou tão impressionado com a coincidência quanto eu.

Passei algumas informações de como a BG estava, quais eram os nossos principais clientes e as campanhas publicitárias que tínhamos que entregar para a aprovação da marca.

Ele ouviu cada palavra com atenção, fazendo perguntas onde eram necessárias e mostrando real interesse pelo trabalho.

A fama que pintaram para mim do filho do meu chefe não era em nada ao homem que estava na minha frente. Provando mais uma vez o quanto as fofocas maldosas são mentirosas.

Logo após eu retornar do meu horário de almoço, o senhor Gomes chegou. E para minha surpresa, acompanhava alguém que eu conhecia e estava até com saudades.

— Tia Manu! — A pequena Ana correu em minha direção e foi o tempo suficiente para eu me abaixar antes que ele chegasse para me enlaçar com seus bracinhos.

Ana era filha do senhor Olavo Baseggio e eu a conhecia há alguns anos, desde que vim trabalhar aqui.

A senhora – ou melhor, ex-senhora Baseggio – as vezes a trazia para o trabalho, mas não para ter a companhia da filha e sim para deixá-la aos meus cuidados enquanto resolvia algo importante – nas palavras dela.

Eu sempre notei a falta de atenção que ela entregava para a própria filha. E com a vivência de alguns dias que eu fazia companhia para a pequena, me apeguei a ela de um jeito que eu nem saberia explicar.

— Eu tava com saudades de você, tia... — Olhinhos azuis, muito parecidos com o do irmão que estava do outro lado daquela porta, me olhavam com carinho.

Como uma garotinha tão pequena, com seus cinco aninhos, poderia despertar tanto sentimento dentro de mim?

— Eu também, Aninha... — sorri, apertando seu nariz de leve, fazendo o som de uma buzina e arrancando um sorriso dela.

Desde pequena ela me chamava de tia. Claro que Safira a corrigia constantemente sobre eu não ser parente dela, como se quisesse jogar na cara que eu era inferior a grande família Baseggio. Mas isso nunca me afetava.

Ao contrário dela, nunca a proibi de me chamar assim. No fundo, eu gostava e foi assim desde a primeira vez.

Eu era filha única e não tinha chances de ser tia, não pelo meu lado da minha família pelo menos. E quem disse que família é só a de sangue?

Aluga-se uma noiva para o meu chefeOnde histórias criam vida. Descubra agora