DEZESSETE.

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Todos os olhos presentes na sala de reunião estão vidrados na minha fala. Parecem aceitar cada um dos detalhes que eu abordo e as cabeças acenam em concordância conforme os slides que preparei vão passando na enorme tela, além de irem fazendo anotações nos roteiros — o que tenho dele até agora — impressos que os entreguei no início.

Explico todos os meus pontos em detalhes, como foi abordado o assunto na hora da conversa e como deve ser abordado em frente às câmeras. Isolo minhas dificuldades em tirar cada informação dos meninos e separo um momento apenas para falar de Luke e, consequentemente, como a defesa ao artigo deve ser feita.

O que todos mais esperam.

— Sinceramente? — pergunto de forma retórica. — Luke ainda se abala quando falamos sobre o artigo do Reputation.

Tento manter uma postura neutra e impessoal, mas desde minha última conversa com o vocalista, vem sendo difícil lidar com a impessoalidade e os sentimentos. Algo nele acendeu a compaixão e a pena em mim, mas é confuso, confuso demais. E as dicas de Jax não me ajudaram muito. Não é como se eu sentisse culpa, e também não pretendo sentir, mas eu sinto algo e não saber denominar o sentimento que vem me sufocando essa semana toda é torturante.

— E é por isso que a resposta a ele tem que ser mais sutil e amplificada do que vocês estavam planejando. — Todos me olham com estranheza. — Entendam, o Luke nunca vai falar abertamente sobre o artigo, ele não tem interesse em se defender e não existe terapia no mundo que vai fazê-lo mudar de ideia em alguns meses, por isso, nossa defesa vai soar como ataque.

Os olhos se arregalam, mas busco aprovação nos de Hanna e encontro quando o canto direito dos seus lábios se erguem em sinal de orgulho.

— Como já estava apresentando pra vocês, tenho uma dezena de pontos cruciais para serem abordados nesse documentário, que vão amaciar e cativar o público até chegarmos no ponto alto. Depois de demonstrar como eles são como banda e amigos, quais são os laços familiares e musicais deles, vamos falar sobre como o passado afeta o presente. Vocês podem notar na página cinco um asterisco com o nome do Ashton, os holofotes estarão nele nessa hora. — Não acredito que estou dizendo isso. — Vamos dar ao espectador mais do que o rosto e cicatrizes do Luke, vamos oferecer a banda inteira.

Sorrio, para soar convincente antes de prosseguir.

— Depois disso, enfim, chegaremos ao ponto que todos esperam. Onde o Reputation se encaixa na viagem entre o passado e o futuro? — Passo para o slide que destaca as principais palavras do site. O que o leitor nunca nota, é que muitos dos artigos seguem um padrão, palavras chaves que podem ser usadas como a forma de um bolo para falar de uma indústria padronizada. Essas palavras estão destacadas na TV agora. — Se o 5 Seconds of Summer é o que o Reputation odeia, então é porque o Reputation os fez ser odiáveis. Eles são o que são porque a mídia do passado influencia o eles do futuro.

Mais confusão permeia os semblantes em minha frente. Respiro fundo.

— A mídia, no geral, gosta de ser unilateral, e o Reputation não se exclui disso. Vamos colocá-los na parede, em resposta, dizer de forma sutil que nenhuma forma que o Luke reaja vai agradá-los, porque eles não desejam trégua. — Comprimo meus lábios por um instante, imaginando pela primeira vez como o Reputation vai lidar com esse caos. — Vamos direcionar nossa resposta para toda a mídia, adicionar mais holofotes e revertê-los. O Luke não vai precisar assumir culpa alguma, só vai precisar direcionar sua culpa a um trauma que quem exige cura foi pioneiro em causar.

Enquanto falo mais sobre os pontos de Luke para as doze pessoas na mesa, elas sorriem para mim, como se seus cérebros estivessem maquinando as ideias. Ao mesmo tempo, o meu se esforçava para deixar meus pensamentos paralelos de lado, mas eventualmente os olhos azuis dele me vinham em mente, depois as mãos no cabelo e, por fim, as risadas que ele dá quando mente.

reputation || l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora