TRÊS.

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Estou pálida. Em choque.

Não posso ver meu rosto, mas eu sei que ele foi de um vermelho raivoso para um pálido assustado de forma muito rápida. Minha pressão arterial está no pé e a única coisa que meus olhos zonzos enxergam são minhas mães sorridentes e esforçadas com seus rostos virados para mim, como todas as outras pessoas presentes na mesa.

Na minha boca, o gole de água que eu havia tomado na hora do susto ainda está parado, esquentando, esperando o momento certo ou para ser cuspido, ou para descer pela garganta. Meus rins dizem "olá" e meu cérebro volta a funcionar. Eu saio do baque.

Tiro meu olhar do casal, que já começava a ter uma feição estranha para mim, e engulo a água, que se parece mais com veneno pela forma ácida que desce pela minha garganta.

— Vai ser incrível! — É a única coisa que sai da minha boca.

Meu estômago está embrulhado, minha feição não engana ninguém — eu tenho certeza —, e nem a minha pele recuperando seu tom normal parece acalmar as batidas do meu coração.

Eu. Estou. Fodida.

Do meu lado, Michael parou de passear com o garfo pelo prato e, na minha frente, Calum não tira sua atenção do meu rosto. Eu preciso fazer algo, dizer algo, antes que eu me envergonhe mais do que já estou envergonhada. E brava, eu estou muito brava.

— Tá tudo bem? — Ouço uma voz atravessar o silêncio.

Luke.

O som da voz dele é como uma faca. Rasga meus pulmões e libera todo o ar que estava preso durante todos os últimos segundos de tortura. Parece que eu desengasguei do que prendia minha voz e minhas expressões. Agora, tento manter meu rosto limpo da raiva e com uma coloração natural, não a de um defunto, buscando levar todos a esquecerem o pânico que eu entrei desde que Hanna colocou a mesa que eu seria a responsável por reconstruir a imagem da boyband com instrumentos, 5 Seconds of Summer.

— Sim. — A palavra sai da mesma forma que estava presa, com um susto. — Eu só estava prestando atenção nas milhares de ideias que passaram em minha mente sobre como vamos melhorar vocês.

Inclino meu corpo para frente, possibilitando que eu enxergue parcialmente uma das faces de Luke, que trocava olhares com Calum, antes de tornar seu rosto em minha direção para sorrir, de forma tão falsa quanto eu estava fazendo.

— E quais são essas milhares de ideias? — Hood me pega na minha própria mentira.

— Hmmm, nós podemos... nós podemos... — Penso mais um pouco, o mais rápido que posso. — Bom, vocês não podem gravar mais um daqueles documentários do tipo "ai, olha só como eu vivo minha vida como uma pessoa normal", coisa que só os fãs se interessam. Vocês precisam de um conteúdo que virem os olhares pra vocês, que explique o que as pessoas querem saber de verdade...

Eu falo o óbvio, claro. Provavelmente isso já estava passando na cabeça de todos os produtores e assessores, mas eu precisava dizer algo antes de realmente ter uma ideia.

— Então você quer que nós falemos exatamente sobre o que tá escrito no artigo do Reputation? — Calum interrompe minha linha de raciocínio para propor a última coisa que deveria ser dita.

— Como enredo central! — Toddy bate uma palma estralada. — É claro, Eva Maria.

Para de usar meu nome completo na frente de estranhos, eu imploro.

— Sim, é claro que é isso. — Dou um sorriso amarelo.

Não. Não é isso. A última coisa que eu quero é trabalhar em um documentário, cujo tema central é o que eu escrevi no meu blog super secreto.

reputation || l.hOnde histórias criam vida. Descubra agora