UM MONSTRO

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Ludmilla

Acordo com o estrondo do tiro do lado de fora da casa. Levanto em um salto, já vestindo uma calça e sacando a arma do coldre, que descansava na mesa de cabeceira e vou em direção ao quarto da garota. Ao abrir a porta, vejo que ela também acordou com o som e tremia, agarrada ás pernas, sentada na cama.

- Foi aqui? - Pergunto e ela nega com a cabeça. - Fica aí! Vou ver o que tá acontecendo!

Saio em direção as escadas, destravando a arma e a mantendo em posição, tomando cuidado para não fazer barulho e quando chego na sala, percebo que o local está vazio. Abro a porta de entrada, olhando em volta na varanda prestando atenção a qualquer som ou movimento, quando ouço algumas gargalhadas ao longe. Continuo caminhando, empunhando melhor a pistola e vou em direção ao som. Quando finalmente me aproximo o suficiente, sinto meu corpo vibrar de raiva.

- Mas que porra é essa, Wilson?

- Tiro ao alvo. - Ele responde, rindo e eu bufo irritada.

- Tira essa merda daqui antes que... - Minha frase foi cortada pelo som estridente do grito que Brunna soltou. Todos sacamos as armas ao olhar para ela e então percebo que nada aconteceu. Ou ao menos é o que parece.

- O QUE VOCE FEZ? - Ela grita, fora de si, correndo em nossa direção. Olha para mim e para os outros dois oficiais presentes. - O QUE FOI QUE VOCÊS FIZERAM?

Ainda sem entender muita coisa, encaro os rapazes que tinham uma mistura de dúvida e diversão em seus semblantes. Aos seus pés havia um leitão, sangrando aos montes com a marca de entrada de um tiro bem no meio dos olhos. A menina vai até o animal e se ajoelha ao lado dele, e então, o chororô começa.

- Por que vocês fizeram isso? - Continuava repetindo enquanto decidia se tocava no presunto ou não.

Guardo minha arma no coldre e cruzo os braços observando a ceninha.

- Porque estamos com fome, ué. - Wilson respondeu despreocupado.

- VOCÊS SÃO NOJENTOS!

- Nojento é a sujeira que esse bicho fez. Olha isso. - Diz mostrando os respingos de sangue que estavam em seu braço.

- MONSTRO! - Ela se levanta, desferindo o que posso chamar de soco em seu peito e ele ri. - VOCÊ É UM MONSTRO!

Reviro os olhos me segurando pra não gritar meia dúzia de palavrões, e a seguro pelo pulso. 

- Tá, tá. Chega disso, já deu.

- ME SOLTA!

- Garota, cala a boca e se afasta!

- CALA A BOCA VOCÊ! - Ela se vira me empurrando. - VOCE É TÃO NOJENTA QUANTO ELES. VOCÊ É UM MONSTRO!

- Ei, calma! - Rick diz, guardando a arma. - É só almoço.

- Não! É uma vida! Um ser vivente, assim como eu e você!

- Não me compare a um porco! - Ele diz segurando o braço dela e a garota geme de dor.

- Ei, chega disso! - O empurro para trás e ele trava a mandíbula. - Vai garota, entra.

- Eu não vou entrar! 

- Não me faça perder a paciência! - Digo, já cheia daquilo.

- Se não o que? - Responde me encarando. Estava ofegante, irritada e não parecia com medo.

Bem diferente da garota tímida que conheci a algumas semanas atrás.

- Quer saber. - Solto seu braço com raiva. - Vocês que se entendam. Já cansei dessa palhaçada.

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