Capítulo 5

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Ao entrar no quarto ela se deparou com Nora debruçada na escrivaninha com vários livros diante de si. Bonnie assustou-se um pouco, talvez ela estivesse levando muito a sério aquela história de ser "normal." A bruxa se desfez dos coturnos que usava e mexeu em sua cômoda para sinalizar que havia chegado, mas a herege seguiu atenta a sua leitura. Ela então pigarreou para se fazer vista.
– Já notei sua presença, agora por favor, pode parar de tentar chamar minha atenção. Estou  concentrada em uma pesquisa.
Bonnie fez careta, se custava acreditar que ela estava se prestando aquele papel de aluna exemplar.
 
– Até quando vai seguir com esse teatro?– ela alfinetou.
– Não é  teatro. 
– Como não? Olha para você...
– Qual é o seu problema? – a herege virou bruscamente e encarou a baixinha com notório ar de indignação –Só você pode ser uma pessoa boa? Só você pode fingir ter uma vida normal? Só você pode fazer de conta que o sobrenatural não te afeta?– esbravejou irritada.
Bonnie sentiu tanto o impacto de suas palavras que ficou paralisada, sem saber como reagir. 
– Desculpa... não quis ser rude.– a morena ponderou. – É... que... eu estou me esforçando, poxa, não pode dá um voto de confiança? 
Talvez a bruxa estivesse implicando tanto assim com Nora, como forma de descontar toda sua chateação com Damon, e ela era a primeira pessoa que Bonnie sentiu que merecia toda sua carga de ira e talvez ela estivesse exagerando, realmente.
 
– Desculpa, é que é estranho... te ver assim...
– É eu imagino. Não te julgo por sempre  desconfiar de mim, afinal, já fiz coisas questionáveis.
Bonnie franziu os lábios e  sorriu timidamente. Talvez ela merecesse uma chance, ela já deu  chances a tantas pessoas, não custava tentar ver bondade na herege.
 
– O que está estudando? – ela puxou a cadeira ao lado de Nora e sentou-se.
– O misticismo presentes nas lendas do folclore brasileiro. Há uma vastidão de mitos bem interessantes. – disse animada.
– Sim, sim – Bonnie assentiu. – O meu favorito é “o Curupira”
– Sério? – Nora olhou--a de relance curvando um ligeiro sorriso nos lábios.
– Sim.– a bruxa também sorriu timidamente 
– Eu prefiro o do Saci Pererê, é mais real.
– Mas se é mito não precisa ter ligação com a realidade.– replicou Bonnie. 
– Eu sei... Mas ainda assim. – Nora deu ombros. 
Elas fizeram leituras e compartilharam interpretações, hora ou outra trocavam olhares que só duas pessoas que  estavam gostando da companhia uma da outra se permitiam trocar. 
 
– Por que está rindo? – Bonnie indagou após uma súbita crise de riso da morena– Anda, diz – insistiu 
– Não é nada, apenas estou pensando como Marylou reagiria se soubesse que estou fazendo pesquisas sobre lendas e mitos para apresentar na faculdade. 
– Vocês... 
– Sim, terminamos desde antes da morte da Lily, ela preferiu apoiar Julian e eu Valarie. Enfim...– ela tentou fingir que não se importava.
–  Você está melhor assim... sem ela, acredite.  – disse friamente. 
– Eu ainda a amo...
– Tudo passa, nada é para sempre. – replicou Bonnie sem nenhum tipo de empatia. 
 
– Você é tão boa, altruísta  e até  doce às vezes, mas é tão fria e insensível quando se trata de relacionamento amoroso.
 
– Não é frieza– a bruxa se defendeu–  apenas não estou no clima para esse tipo de melodrama. A Mary Louise não era tão boa para você, ou quem quer que seja, não é alguém  a qual, se vale a pena sofrer.
– Eu sei... Mas não mandamos no coração, Bonnie. Ele é quem escolhe quem amamos incondicionalmente, nós apenas obedecemos.
– Isso é script de filmes hollywoodianos.
– Nunca se apaixonou? – Nora a encarou no fundo dos olhos.
– Lógico que já, apenas... 
– Você apenas nunca encontrou uma pessoa que fizesse seu coração errar batidas consecutivas, que te deixasse sem palavras em várias situações, alguém o qual estivesse disposto a tudo para viver com ele eternamente.
Bonnie pensou em Jeremy, ela o amou, foi apaixonada por ele, mas nada nessa magnitude de querer estar com ele para sempre, afinal se assim fosse, eles não estariam separados há anos e ela estaria bem quanto a ausência dele. 
 
– É... talvez  eu não conheci minha alma gêmea ainda. – ela ironizou 
– Você é tão bonita, encontrará alguém disposto amá -la. Tenho certeza.
– Não quero ser amada por ser bonita...– disse com um sorriso indiscutivelmente frio.
– Será amada por ser quem é, então Bonnie. – Nora sorriu com sinceridade.
– Bom, não fica assim, ok?  Você encontrará uma outra loira, só que menos azeda.– alfinetou mas queria mesmo era consolar a herege.
– Queria a minha loira, só que menos azeda. – ela deixou uma lágrima escapar sutilmente dos olhos e Bonnie limpou sua bochecha, e ergueu seu rosto ao tocando-lhe pelo queixo. Elas se olharam em silêncio e seus rostos se aproximaram, misturando suas respirações, até seus lábios se roçaram. Nora se assustou um pouco, mas não recuou. Quando suas bocas se abriram devagar, permitindo que o beijo continuasse, lento mas intenso, satisfatório suficiente para elas ficassem breves segundos sentindo o sabor uma da outra. Foi rápido, mas marcante, logo as duas estavam olhando uma para a outra, sem saber o que falariam, mas com um satisfatório sentimento de prazer estampado  em seus rostos. 
– O que... quem...– Nora franziu o cenho, confusa.
– Relaxa. Foi apenas um beijo, eu não quero namorar com você. – Bonnie deu de ombros.
– Isso foi...
– Bom.. – completou Bonnie 
– É, foi muito bom.– Nora assentiu.
– Podemos voltar a pesquisa? Não quero te ouvir choramingar mais essa noite  para  além de dizer que o professor Frederick é muito exigente. 
– Okay, irei focar. – a morena concordou sorridente mas perdida quanto a atitude de Bonnie.
Elas seguiram a leitura que faziam.  Nora anotava tudo que Bonnie lhe explicava.
Sem perceber elas seguiram madrugada adentro estudando, em seguida foram para suas camas e se deitaram. A herege  parecia bem mais confusa com o beijo recente que Bonnie lhe dera, enquanto a bruxa sentia-se feliz por ainda saber beijar, ela se perguntava porque deixou esse costume tão bom de lado. Bonnie estava afetivamente carente, mas jamais assumiria isso, decidira que a carência afetiva curaria com filmes, séries  e estudos, já a carência sexual curaria indo em uma festa conhecendo alguém especial, que lhe proporcionasse uma noite incrível de prazer. Esse era um dos seus maiores desejos. 
 
 
 
 

My True Love (Bonenzo) Parte IOnde histórias criam vida. Descubra agora