Templo de um Deus esquecido

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— Está tudo bem, Jungkook, eu posso ir sozinho.

— Está escuro, Alteza, e o caminho é acidentado.

— Tudo bem, tudo bem. — Jimin abanou a mão, num sinal de dispensa enquanto descia da carruagem. — Não quero ocupar mais do seu tempo, sei que você é um oficial muito requisitado.

— Fui eu quem pediu pra vir, Alteza. — Jungkook soltou-lhe a mão direita assim que o Deus chegou no chão em segurança. Aquelas carruagens reais eram altas demais para um Deus com tão baixa estatura. — Eu insisto em acompanhá-Lo até o templo.

— Já disse que não precisa. — Jimin sorriu-lhe, aquele Seu belo sorriso de rosto inteiro que em si já era uma benção, mas ainda sim Ele se esticou na ponta dos pés para deixar um ósculo na sua testa. — Muito obrigado por tudo, sim? E não se preocupe, eu vou ficar bem.

Jungkook fez uma profunda reverência enquanto Jimin se afastava da carruagem a passos tranquilos. Realmente queria acompanhá-lo por todo o resto do caminho, mas mesmo o Deus do Sake, da Despreocupação e da Boa Sorte era tão teimoso quanto todos os demais da corte celeste, então não tinha o que fazer além de subir de volta na carruagem e deixar que fosse sozinho.

— Está mesmo bem escuro. — Jimin murmurou consigo, apertando os olhos enquanto tentava olhar o caminho à frente, agora que a carruagem iluminada que o trouxera já estava certamente bem distante. — E as copas não me favorecem. — Olhou pra cima, vendo as folhas das árvores em torno cobrirem a luz do céu estrelado que poderiam iluminar um pouco seu caminho. — Mas está bem. — Sorriu. — Devem fazer uma sombra fresca durante o dia.

Mas Jungkook não acertou só sobre a luz: o caminho realmente era bem irregular e fez o Deus tropeçar e quase cair, não fosse por um braço comprido que se estendeu à frente do seu torso.

— Oh... obrigado, né? — Virou pra sorrir pro seu bem feitor. Estava escuro demais pra ver seu rosto, mas distinguiu uma figura alta no seu vulto, de longos cabelos e membros compridos em vestes justas. Quem quer que fosse o soltou mas ofereceu-lhe a mão, que ele aceitou: uma mão bonita, grande mas fina, de dedos longos e unhas compridas, certamente masculina, bem como sua postura e andar imponente. Jimin não falou nada durante o caminho, curioso com a figura que o conduzia no escuro, segurando sua mão com o mesmo respeito que Jungkook o fizera a pouco, no entanto mais firme. "Quem será...?", se perguntou no seu íntimo, tentando ver de canto nem que fosse apenas traços da aparência daquele ser de presença forte, até que a luz da Lua se fez presente de repente numa clareira entre as árvores. — Ah! Aqui está! — Olhou pra frente, vendo a entrada de um templo antigo: seu templo, abandonado, porém de pé. Apressou o passo, subindo os três degraus da escada de pedra enquanto sentia a mão que o conduziu até ali soltar a sua, devagar e gentilmente. — Né, obrigado por... — Mas quando se virou não viu ninguém. — ...me trazer até aqui.

Estranho... esperava encontrar uma besta em torno do templo, segundo o que tinham lhe avisado lá em cima, mas o que encontrou foi só um rapaz gentil que o impediu de tropeçar no caminho. Deu de ombros, cruzou os braços sob as mangas da túnica e fez o caminho do pátio do templo até a porta de correr aberta da casa. Foi deixada daquele jeito, ao que parecia: um breu profundo pairava em seu interior e o cheiro de poeira e madeira apodrecida era perceptível. "Não podia esperar menos de um Deus esquecido", pensou, rindo de si mesmo e tossindo enquanto estendia o manto sobre um canto no chão pra deitar ali. Estava doente, estava cansado, e tinha muito o que fazer ao amanhecer, mas aquela sombra de calor que ainda restara na sua mão esquerda deixou uma ponta de curiosidade solta que o fez dormir sorrindo.  

O'Sake - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora