Palácio Submerso

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— Por que é que nós estamos aqui mesmo? — Jungkook perguntou. — Esse templo está vazio.

— Vim pegar algo importante. — De fato, era um templo abandonado: mais um; ainda assim, tinha certeza de que ninguém tocara naquilo. — Achei.

— O que é isso? — Jungkook olhou confuso pro pote antigo, usado pra envasar sake, seguro no braço do outro fantasma. — Espera, não me diga que aí dentro...

— Sim. — Taehyung sorriu ligeiro. — São minhas cinzas.

— Hu...valha-me... — Jungkook riu soprado, balançando a cabeça. — Eu sei que você é descuidado, mas justo com as suas cinzas? E se esse tempo todo alguém as tivesse encontrado e espalhado por aí?

— Eu não estava tão preocupado com isso um tempo atrás. — Olhou pro pote mais claramente, sob a luz das estrelas, passando o polegar da sua forma humana sobre o kanji de "sake", marcado na cerâmica. — Mas agora eu tenho algo a proteger.

— Hm. — Jungkook murmurou apenas, sem entender, mas no caminho de volta prestou bem atenção onde estiveram roubando: era o templo da antiga divindade do Deus do Vinho, ou do Sake, àquela altura já praticamente esquecida. — Proteger, você diz...a memória que resta do Deus Despreocupado?

— Exatamente. — Ele disse, segurando as próprias cinzas contra o peito, convicto. — Se as memórias de um morto não contam, eu vou proteger as que ainda sobram no mundo dos vivos.

— Oho... — Mesmo o conhecendo bem, Jungkook às vezes ainda se impressionava com o seu camarada fantasma. — Pensava que você odiava Deuses.

— Eu não os odeio. — Taehyung retrucou. — Só não babo o ovo deles que nem você.

— Eu não!... — Sua forma humana corou fortemente. — ...não babo o ovo das divindades. Que absurdo!

— Como não? Você é um completo puxa saco. — Falavam aos sussurros, por causa do horário: não que tivesse alguém por perto, mas nunca se sabe, e gente viva se assusta facilmente. — Aqui. — Desenrolou uma fita vermelha em torno do gargalo da garrafa com suas cinzas. — Você quer?

— O que é isso? — Jungkook pegou a faixa: era um tecido de seda, fino e comprido.

— Eu usava pra amarrar os cabelos, quando era moço. — Taehyung lhe disse. — É que a cor não combina mais comigo.

— De fato. — Jungkook aceitou a lembrança: não tinha cabelos compridos pra amarrar, mas prendeu a faixa em torno do braço.

— Au!... — Taehyung acordou com a luz do sol na cara e uma ressaca dos infernos. "Beber na minha forma animal é realmente um problema...", pensou, levantando o torso com a testa numa das mãos, como se sua cabeça fosse cair de tanto que a enxaqueca estava chateando."E aquele incenso que trás a memória pra camada dos sonhos ainda está fazendo efeito."

— Ah! Você acordou.

— Jimin... — A divindade veio se sentar ao seu lado na enorme cama macia; tão bonito, com os cabelos dourados brilhando tal qual a luz que entrava pela janela redonda do quarto, vestido num belo robe de cetim tingido de branco e rosa em degradê. — ...eu... dormi demais? — seu o incensário ardia suavemente no centro do tatame: Jimin certamente estava fazendo sua meditação da manhã.

— Mais que de costume, já que você sempre levanta mais cedo que eu. — Disse, lhe sorrindo gentilmente. — Mas não tem nenhum problema: você dormiu pelo excesso de álcool... foi o Hoseok, não é? — Riu. — Vou perguntar pra ele como conseguiu te deixar bêbado.

— Não pergunte. — Pediu, movendo as cobertas pra sair da cama.

— Vai com calma, sim? Você não está com um pouco de ressaca? — Ele perguntou, o impedindo de se levantar. — Deixa eu resolver isso pra você.

O'Sake - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora