Licor, Vinho, Vinagre

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Jimin passou vários meses meditando numa solução: tanto tempo e com tanto afinco que o título de Deus Despreocupado parecia mais uma anedota. Recomendar Taehyung para ascensão: fora de questão, já que ele tinha antecedentes criminais. Ele mesmo abdicar do trono de divindade: também não; era uma boa solução, simplesmente voltar a ser homem e morrer com Taehyung, mas cada oração que ouvia dos seus fiéis o desencorajava; como deus ele ainda tinha obrigações, acima de tudo a obrigação de não cair na tentação de fazer Taehyung seu familiar e pronto. Não, não, não, Taehyung se tornou um homem virtuoso e justo, certamente faria a passagem em pouco tempo após a morte, e ele a merecia, mais que tudo, não ia tirar isso dele, não mesmo.

"O que eu faço?", pensava, andando em círculos dentro do quarto. "O que eu faço? Me separo dele? Viajo para outro dos meus templos e o deixo aqui? Talvez ele se esqueça de mim em alguns anos e morra em paz..."

— Jimin.

— A-ah! Taetae... — Seu primeiro general voltara de viajem: a divindade da seda estava de passagem na sua forma humana nos territórios próximos e pediu um guarda costas, pedido este que Jimin não negou, obviamente. — Você chegou bem a tempo, sabe, eu estava pensando em... — Olhou para o seu general, fechando a porta atrás de si depois de entrar no quarto. Ele estava tão lindo, com as vestes justas de ofício, em preto e vermelho: a espada pendurada à cinta apertada na cintura, uma caixa média, segura sob uma das mãos firmes, as mechas quase completamente grisalhas da franja caindo pelos ombros cobertos por uma capa negra. Engoliu em seco, se esquecendo completamente do que estava falando ou ia falar, congelando ao que Taehyung avançou na sua direção com as botas pesadas.

— Sim? — Ele parou apenas na distância que a caixa que carregava fazia entre os dois. — No que você estava pensando? — Então pôs o objeto em cima da cama, passando o braço pela cintura do mais baixo até que esta estivesse alinhada com a sua.

— E- eu... — "Ah, droga, por que ele tem que ser tão atrativo? Eu estou até nervoso." — A- acho que... acho que estava pensando que estava com saudades. — De fato, estava nervoso, a ponto de Taehyung poder sentir seu coração batendo no próprio peito.

— Você "acha"? — Ele riu, divertido: se Jimin já não tinha derretido, agora estava completamente devastado com aquele sorriso quadrado tão perto do seu rosto, tanto que abriu o leque pra esconder as bochechas rubras. — O que foi, mh? Até parece que você nunca me viu na vida.

— É-é que esse uniforme que você está usando te cai bem... — Desviou o olhar, sentindo Taehyung o apertar mais nos braços.

— Mesmo? — Roçou o nariz pelos cantos da orelha pequena, toda vermelha também, por alguma razão. — Devo usar este uniforme todos os dias, então?

— Cla-claro que não, deve ser incômodo! — Jimin fechou o leque num estalo, empurrando Taehyung com os punhos fechados nos seus ombros. — Né... tire essas peças pesadas... — Não podia se deixar levar: Taehyung estava entrando num loop preocupante de se esforçar demais pra fazer tudo que o agradasse, num nível que suspeitava que se pedisse pra ele se estirar no chão pra que pudesse pisar nele, como um tapete, ele o faria, se estirando no chão e se deixando pisar, sem nem pestanejar. — Vou pedir que preparem um banho pra você.

— Não quer ver o que eu te trouxe antes?

— Me trouxe...? — Então se lembrou da caixa, vendo-a sobre a cama. — É pra mim?

— Uhm. — Taehyung maneou a cabeça, desatando os braceletes de couro em torno dos pulsos enquanto Jimin se sentava e tirava a tampa da caixa de madeira.

— Uah...!... Taetae!...

Era um incensário, médio, no tamanho dos que Jimin costumava usar, porém todo talhado em torno de uma base de pedra jade: sua cor verde esbranquiçada, fazendo uma superfície lisa e brilhante tão deslumbrante que a divindade mal conseguia fechar de volta os lábios, pegando a luxuosa peça nas mãos e a girando pra todos os lados, observando cada pequeno detalhe.

O'Sake - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora