O amor proibido renasce

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— TAEHYUNG!

Todos ouviram o grito desesperado que veio do pequeno cômodo de memórias da familiar do Deus Dragão: ela foi a primeira a correr pra lá, depois seguida pelo rei demônio.

— Majestade. — Ela chamou, tentando pegar suas mãos, que ele abanava no ar, desnorteado.

— Taehyung! Taehyung. Taehyung... — Ele esbarrou no incensário, espalhando o pó queimado pelo tatame. — Taehyung!...

— Eu estou aqui. — Taehyung se pôs na sua forma pura prontamente, se abaixando sobre um joelho e o envolvendo nos braços. — Eu estou aqui... — Os olhos castanho claros viravam pra todas as direções, mas ele não parecia ver nada. — O que houve com ele? — Perguntou à princesa, sentindo as mãos pequenas lhe apalparem o rosto antes de se agarrarem aos seus cabelos.

— Acho que é efeito colateral da recuperação das memórias: deve ter perdido a visão, temporariamente.

— O q...

— Tae! — Jimin o chamava ainda: seu rosto em contorções de agonia, lágrimas escorrendo incessantes dos seus olhos. — Você não fez a passagem...você não fez... eu queria que tivesse feito!... o que houve...? O que houve?! Como você morreu? O que aconteceu?

— Jimin, se acalme... — Ele estava num estado claro de muita confusão: suas mãos lhe apertavam os cabelos com muita força, e todo seu corpo tremia em convulsão. O pegou no colo, segundo Otohime pra fora do quarto: não podia se deixar ficar confuso também, precisava cuidar dele, antes de tudo. — Se acalme... — Repetiu, antes de o deitar na cama do quarto preparado para recebê-lo; Jimin não largou do seu pescoço, e ele não o forçou a soltar, tão pouco. — O que você está sentindo? — Acariciou-lhe o rosto pálido de doente, pondo as prioridades antes dos pensamentos. — Aonde está doendo?

A resposta veio num bom bocado de sangue que Jimin pôs pra fora: o líquido viscoso e escuro escorrendo tristemente dos cantos dos lábios pelo lado do rosto. "Não se desesperar, não se desesperar...", Taehyung repetiu pra si mesmo, colando os lábios nos alheios, sugando o que podia de sangue e cuspindo no chão dali mesmo, repetindo o processo até que a boca de Jimin estivesse completamente seca e livre daquele sangue velho dos machucados internos.

— Eu queria que você fizesse a passagem... — Ele voltou a repetir, com a voz rouca e machucada. — Eu queria que você tivesse paz... eu não queria cair na tentação de te fazer familiar...

— Jimin, pare de falar, sim? — Pediu, abaixando um pouco sua pálpebra inferior do olho esquerdo, tentando o examinar. — Se concentre em respirar.

— Mas você virou um demônio, porque eu não estive cuidando de você até o final. — Ele voltou a chorar: sua voz num fio que Taehyung só conseguia ouvir por perto que estava. — Eu não queria te ver morrer, não queria te ver fazendo a passagem e indo embora pra sempre.

— Jimin... — Taehyung engoliu em seco, apertando os lençóis da cama abaixo dele. Jin e Hoseok entraram no quarto esbaforidos, mas ele nem notou. Otohime fez sinal de silêncio pra eles, observando do canto do quarto. — ...não foi porque cansou de mim? — Perguntou baixo, mais pra si mesmo que para ele. — Não foi porque eu já não te servia? Porque queria se afastar da maneira mais fácil possível? Porque já não suportava trocar mais nem uma palavra comigo?

— Uhm uhm. — Ele balançou a cabeça com veemência: seu corpo todo doía, sua garganta ardia e sua visão era turva como se coberta por uma grande camada de água escura, mas nada daquilo importava. — Eu te amava tanto que estava com medo de mim mesmo: do que eu seria capaz de fazer pra que você não fosse embora. — Tossiu mais uma lufada de sangue. — Eu temia não aguentar a tentação de te prender comigo, mas você ficou preso de todo jeito. Eu deveria ter ficado ao seu lado até seu último suspiro, até que a morte nos separasse: é culpa minha, eu sou fraco, eu sou inútil, eu sou uma escória. — Cuspiu mais sangue, e suas lágrimas começaram a sair vermelhas. — Eu não mereço ser Deus, eu não mereço ser lembrado, eu não mereço- mh.

Taehyung o calou com um beijo, engolindo o sangue que vinha junto sem se importar, deixando as próprias lágrimas caírem sobre o rosto empalidecido da divindade: seu coração batendo sem ritmo, arrebatado por uma miríade de sensações novas demais a ponto de lhe serem estranhas.

— Não, Tae... — Jimin desviava os lábios dos deles sem muito sucesso, conseguindo apenas dizer uma coisa ou outra antes de ter os lábios roubados de novo. — Eu não... hm... não mereço. Não mereço seu amor, não merecia antes e continuo não merecendo. Por...mh, por favor...

— Você ainda me ama? — Perguntou, tão nervoso mas com tanta coragem, como se fosse a questão mais importante da sua existência. — Jimin, você ainda me ama?

— Amo. — Respondeu entre um beijo e outro deixado na sua boca. — Amo... — Chorou. "Te amei ainda quando não podia me lembrar de você..." De fato, sempre soube que algo muito importante estava faltando, mesmo sem poder definir o quê: não à toa ele perdeu pouco a pouco território, prestígio, respeito, e sua imagem foi sendo apagada entre os homens até quase desaparecer. Um Deus morre quando é completamente esquecido, e ele não se importava de ser, tão sem propósito e vontade que era: nem sabia desde quando, mas não culpava os outros deuses por o acharem patético: de Deus Despreocupado ele passou pra Deus Deprimido; divindade do desinteresse, desinformado, esses eram seus apelidos na Corte, e agora ele não só aceitava como sabia bem o motivo. — Você tem meu coração, Taehyung, sempre teve. — O abraçou apertado, mesmo que os braços pesassem a ponto de ameaçar caírem.

— E você tem o meu. — O abraçou de volta: o coração por explodir no peito. — Você tem o meu... — Sentiu que podia perder a consciência em tal êxtase: todo aquele sofrimento, o ódio, a raiva, o ressentimento, a tristeza, o sentimento de abandono, o coração partido, tudo aquilo que carregou às costas por eras simplesmente desaparecido, e no lugar uma alegria imensa: num piscar de olhos, tão simples, tão fácil; ele só não desmaiou porque Jimin o fez antes, perdendo a consciência nos seus braços, o fazendo desesperar por um instante. — Jimin? Jimin!

— Ele desmaiou de dor, milorde. — Otohime se aproximou. — Temo que deva examiná-lo agora.

Jin e Hoseok olhavam a cena impressionados: o fantasma do sorriso emocionado, cobrindo o rosto choroso com o leque, e o deus da beleza impactado, sem acreditar no que tinha acabado de ver, mais confuso impossível.

— Mas que... o que raios foi isso? — Ele teve coragem de perguntar finalmente. — O que aconteceu? O que acabou de acontecer?

— Otohime. — Taehyung falou firme, nem um pouco recuperado ainda, mas podendo disfarçar por alguns segundos. — Deixe que eu analise a situação de Jimin: leve esses dois, os acalme e nos deixe a sós.

Ela apenas concordou num movimento de cabeça, saindo do quarto puxando o deus e o fantasma pelas mãos, fechando as portas assim que saíram.

— Divindade da Beleza, vamos nos sentar: creio que possa lhe explicar tudo que queria saber.

— Eu também quero saber. — Hoseok se pronunciou, fechando o leque antes que Jin pudesse falar. — Eu também quero saber: esses dois tiveram uma história de amor interessante, pelo visto.

— História de amor???!!! — Jin repetiu, indignado. — E um deus lá pode ter uma "história de amor" que não seja com outra divindade?!?

— Se não pudesse, Alteza, não teria visto a cena que acabou de presenciar. — A princesa lhe respondeu, piscando os olhinhos negros graciosamente, como sempre. — Mas é fato que essa união ainda causará problemas, não só no Céu como na Terra: antes que comecemos a sentir os impactos desse terremoto, porém, podemos compartilhar entre nós três a primeira versão dessa bela história, o que acham?

— Entre nós quatro. — O Deus Dragão se aproximou, arrastando sua comprida barriga no chão de areia do palácio. — Eu também quero ouvir um bom drama, HAHAHAH!!!!!!!

O'Sake - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora