Arranjo

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— Se sentindo melhor?

— Uhm. — Jimin estava arrumando as pequenas flores silvestres que o menino trouxera, uma a uma, num vaso antigo deixado no altar do templo, depois que ele já tinha ido embora. — Bem melhor.

— Isso é bom. — Taehyung se sentou no chão ao seu lado, apoiando no único tapete de tatami dois copos e a garrafa de vinho aberta.

— A oração de uma criança é muito mais forte que a de um adulto, né... — Pôs a última florzinha no vaso, o analisando antes de afastar pro lado. — Sorte minha ter sido ela a primeira a rezar depois de tantos anos.

— Graças do Deus da Boa Sorte. — Taehyung serviu um pouco de vinho pra ele, passando-lhe o copo. — Podemos comemorar, então?

— Sim, podemos. — Sorriu, pegando o copo. — Muito obrigado, né, TaeTae.

— "TaeTae"?

— Ah... desculpe. — Tomou um gole discreto da bebida escura: vinho seco, perfeito para uma comemoração austera. — Não posso te chamar assim?

— Pode... — Ele sorriu de canto. — Eu gostei, é bem íntimo.

— Ah ha... — Jimin coçou a nuca. — Você acha?

— Acho. — Ele aproximou o tronco, se apoiando com uma mão pouco atrás dele, como havia feito um dia antes. — A propósito... será que agora... — Passou a ponta do dedo comprido pela extensão do seu pescoço até a clavícula. — Você não está em condições de me fazer seu familiar?

— A- ah... sobre... sobre isso... — Tentou desconversar, disfarçando o arrepio que sentiu com o toque. Sinceramente... a pele humana tinha de ser tão sensível assim? — Eu... — desviou o olhar, mas a raposa trouxe seu queixo de volta com o indicador dobrado sobre ele.

— O quê? — O olhou fixamente, seus belos olhos amendoados deixando o Deus extasiado. — Se o problema é o que você disse antes... sobre "não nos conhecermos"... — Disse, com bastante ênfase e até certo remorso. — Então você pode ficar à vontade pra me conhecer, aqui e agora.

— E- e- espera! — Nem soube como reagir quando Taehyung pegou seu pulso livre de repente, espalmando ele mesmo sua mão no seu peito por dentro da túnica. — Nã- não foi isso que eu quis dizer com... — Engoliu em seco; Taehyung era quente... e seu coração estava batendo forte. — Co- com conhecer...

— Não? — Aproximou ainda mais o rosto, apertando de leve os dedos que fechavam completamente em torno do seu pulso. — Mas seu corpo está me dizendo que é exatamente assim que você quer me conhecer.

— Me- meu corpo? — Claro, estava gaguejando, estava corando, estava arrepiando e estava tremendo, tanto que se não fosse por ter deixado o copo de vinho no chão o teria derramado inteiro. — I- isso não é justo! — Tomou coragem pra recolher sua mão e se encolher um pouco. — E- eu ainda não me re-acostumei com essa forma, e além disso você é muito...

— "Muito..."?

— Muito... — Não, não, não podia falar, se não seria definitivamente atacado. — Aham!... De- de qualquer forma... — Limpou a garganta. — Não é só por isso que não quero te fazer familiar.

— O que mais seria? — Taehyung continuava se aproximando dele, insistente.

— Te fazer meu familiar seria...seria te prender a mim, e eu não quero isso... você é livre, e como Deus minha obrigação é ajudar, não me aproveitar de você! Não quero te fazer meu servo!

— Não precisa me fazer necessariamente servo, se não quiser pedir isso de mim no contrato.

— Mas é um contrato de familiar, o que eu mais eu lhe pediria?

— Para eu ser seu amante.

— Me- meu... — Jimin estava começando a se sentir tonto, e nem tinha tomado mais de um gole do vinho seco. — Po-por que você quer tanto isso? — Tentou recuar ao que a raposa se aproximou ainda mais, acabando com as costas no chão. — Fantasmas só aceitam por redenção e demônios sempre se recusam a ser familiares, então por que você...

— Demônios sempre se recusam porque Deuses sempre insistem. — Se debruçou sobre o deus no chão, com uma mão de cada lado dos seus ombros. — Você sabe o porquê, não sabe?

— Se- sei... — Jimin escondeu o rosto vermelho num braço. — ...porque demônios são extremamente fortes, e através do contrato seu poder seria compartilhado.

— Então eu respondi sua pergunta? — Pegou seu braço pelo pulso, aproximando sua mão do rosto e lhe beijando a palma devotamente. — Mh?

— Taehyung... — Escondeu o rosto na outra mão, sentindo os olhos marejados. — E-eu... — Pensava estar velho demais para aquilo, mas seu coração estava incrivelmente disparado com o contato dos lábios quentes na sua pele. — Vo-você não precisa se sacrificar por mim assim, certo?... — Ele o olhou por trás dos seus dedos no seu rosto, seus olhos escuros brilhando. — ...se eu guardar essa força que recebi hoje, posso negociar quando vierem daqui há alguns dias, então não se preocupe, sim? Te ter aqui comigo é uma benção, não vou deixar que te levem assim...né?

— Uhm. — Ele concordou, meio relutante, mas concordou, soltando-lhe a mão e deitando a cabeça no seu colo.

— Isso, isso, bom menino. — Afagou-lhe os cabelos prateados.

— Você é teimoso. — Reclamou.

— E você muito apaixonado. — Retrucou. — Foram esses sentimentos que te fizeram ficar... TaeTae?

— Você... — Disse baixinho, depois de um tempo. — Realmente não se lembra, não é?

— Mh? — Afastou-lhe os fios perto da testa, mas eles voltaram a cair por tão lisos que eram. — De quê, exatamente?

Mas Taehyung não lhe respondeu: já estava dormindo. 

O'Sake - VminOnde histórias criam vida. Descubra agora