Talvez, eu possa deixar.

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Acordo ao som de Mozart, pequena serenata noturna, uma música que começa agitada por isso a escolhi como despertador.
Tive sonhos estranhos, do tipo que é possível lembrar pequenos fragmentos, algo como ficar sozinha dentro de uma casa grande, com janelas gigantes, por onde era possível ver um mundo inteiro, pessoas crescendo, conhecendo seus amores, vivendo suas paixões. Um mundo que não posso fazer parte.
Olho pela minha janela prometendo a mim mesma de que isso nunca aconteceria, eu vou viver minha vida, fazer as coisas que eu quero, terei uma boa vida, farei faculdade, construirei uma família e depois morrerei como qualquer um.
Me levanto com uma leve dor atrás da cabeça e na região dos olhos, provavelmente devido ao ataque de choro que tive na noite anterior.

Minha apresentação será nesse fim de semana, decido isso enquanto subo pela rua em direção a casa de Lexi, preciso urgentemente de algo para me ocupar, isso será difícil nunca fui muito extrovertida e nunca me apresentara em lugar nenhum. Mas me convenço de que será bom, para o meu desenvolvimento musical e pessoal.

Avisto Lexi em frente a sua casa.
Ela aceno a mão acima da cabeça, eu faço o mesmo, pessoas vendo de fora achariam nós loucas, mas nunca nos importamos com isso, e não vamos começar agora.
- Oii. - Digo, ela me dá um beijo na bochecha.
- Tudo bem? - Pergunta ela
- Mais ou menos. - Digo
- Por que? - Ela pergunta franzindo o cenho.
- Eu vou fazer uma apresentação, cantando uma das minhas música. - Digo.
- Isso é incrível. - Ela me dá um beijo na bochecha.
- Finalmente vai pôr seu talento em alguma coisa. - Diz.
Olho para ela com descrença, sempre achei que não cantasse, nem tocasse bem, no entanto sempre tive uma certa "esperança" de que um dia eu melhoraria. Por essa razão eu comecei a fazer aulas de canto e violão.
Lexi percebe minha cara e diz com raiva.
- O que? Não tá pensando naquelas besteiras de novo né. - Ela diz, com certa rispidez. Lexi sempre reforçou que eu sou boa nisso, imagino que seja genuíno pois ela sempre o diz, e tem orgulho em anunciar para todos que querem, ou não querem ouvir que eu sou uma compositora de mão cheia. Dúvido.
- Não. - Minto, Lexi não acredita e o caminho até a escola é completamente preenchido pelas citações das demonstrações do meu suposto talento.

Durante o intervalo, me despeço de Lexi que caminha em direção a quadra, provavelmente para jogar handbool. Caminho em direção a biblioteca que fica do outro lado da escola, admiro os desenhos abstratos das crianças do primeiro e segundo ano, lembrando de como era solitária nessa época. Quando chego na biblioteca encontro Imediatamente um bom lugar pra sentar. Nunca tem ninguém aqui, por essa razão que estou aqui. Começo a ler o livro de biologia quando escuto um psi, vindo de trás de mim. Era o Luidi, olho pra trás, vendo seus cabelos cacheados, e olhos cinzas, ele faz sinal para que eu me aproximasse, eu aceno que não o farei e volto para o meu livro. Ele não se intimida e senta ao meu lado.
- Eu preciso da sua ajuda. - Ele sussurra em meu ouvido.
- Com o que? -
- Preciso, aprender a escrever direito, por as coisas no papel, sabe. - Me sinto relaxada descobrindo que não é nada de mais. Eu já havia escrito várias redações pra ele, ao preço de 20 reais, eu me esforçava e caprichava para que o dez fosse garantido.
- Eu posso continuar escrevendo pra você. - Digo virando a cabeça em direção ao livro. Não posso não, digo isso para fazer ele ir embora. Não funciona.
- Eu não tenho mais dinheiro. - Ele me olha com as sobrancelhas levantadas e um beicinho.
- Se não tem dinheiro então não pode pagar pelas aulas. - Digo fazendo cara de superioridade. Até que estou me divertindo com isso, penso.
- Por favor. - Ele junta as mãos.
Olho para aqueles olhos, e penso talvez eu precise de um ajudante, com a escolha do lugar, afinal duas cabeças pensam melhor do que uma.
- Tudo bem.Mas você vai ter que me comprar bala de goma azeda.- Digo.
- Tahh- Ele diz ao mesmo tempo que me dá um beijo na bochecha.
Ele consegue me arrancar um sorriso.

Teu olhar nubladoOnde histórias criam vida. Descubra agora