Vinho

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Lauren POV

 O dia amanheceu com péssimas notícias, Normani está doente, ainda não é certeza se ela contraiu o vírus, eu acredito que sim, não só eu, todos que já sabem, mas ninguém ousou verbalizar. Dinah veio atrás da Sofia, que atendeu o pedido dela no mesmo instante, trocou de roupa mais rápido do que os dias normais e foi.

— Ela é incrível, né? - Camila perguntou quando a irmã saiu porta afora. — Não me canso de falar isso.

— Mas ela é mesmo, acho que tá no sangue da família. - Falei sorrindo.

 
*****


 Até pensei em arrumar uma desculpa pra não ter que ir até Coleford, como por exemplo o fato da Normani não está nos seus melhores dias, mas Camila quis ir, então apenas aceitei, Sofia e Emma chegaram um pouco mais cedo do que o normal, era quase fim de tarde, o que resultou na gente conseguindo chegar até Coleford no início da noite.

— Aqui é bem mais bonito do que Lydney. - Camila comentou, enquanto entrávamos em um restaurante, depois de tanta insistência dela e da irmã.

— Qualquer lugar consegue ser mais bonito do que Lydney. - Emma concordou, o que fez Camila e a irmã rirem.

 Fomos guiadas até uma mesa, onde eu me sentei ao lado de Camila, ficando de frente pra Emma, que está ao lado de Sofia. Eu juro que estou tentando não ficar irritada, até porque não tenho motivos pra isso, mas está difícil. Puxei um dos cardápios da mesa e abri na frente de Camila.

— Vai querer o que? - Perguntei ajudando ela a tirar as luvas da mão, esse inverno tá parecendo eterno.

— Não sei. - Respondeu analisando as opções.

 Tirei meu foco dela, porque o falatório entre Emma e Sofia me chamou a atenção, elas falam algo relacionado a alguma refeição que Emma levou no laboratório para Sofia, situação que está fora do meu conhecimento, mas muito provável que tenha sido muito engraçado, porque elas não param de rir. Emma olhou pra mim e ao ver que eu estava olhando franziu o cenho e se auto analisou.

— O que foi? - Perguntou sem parar de sorrir.

 Essa pergunta dela fez Camila desviar a atenção do cardápio e olhar pra ela, e ao ver que ela estava falando comigo, ela também olhou pra mim, apenas neguei com a cabeça e foquei em Camila, que me fez ficar sem jeito por estar olhando diretamente nos meus olhos.

— Escolheu? - Perguntei olhando para o cardápio na mão dela, fingindo atenção.

— Hã… ainda não, uma salada eu acho. - Disse simples colocando o cardápio na mesa.

— Salada? Você? - Perguntei incrédula.

— Das coisas que eu como, salada é o que você mais gosta, então… - Deu de ombros e eu sorri de lado.

— Não é pra escolher pra mim, é pra você. - Falei e dei um beijo em sua bochecha. — Eu amo você. - Falei em tom mais baixo, para que só ela pudesse ouvir.

 Como resposta ela apenas maneou a cabeça positivamente e acariciou minha mão que pousou na sua perna.

— Chama o garçom. - Pediu apontando para o rapaz que passava perto da nossa mesa.

 Fiz como ela pediu, chamei o garçom e ele anotou os pedidos, não sem antes Sofia mudar de escolha umas 5 vezes, o que fez a gente rir e o garçom ter que arrancar a folhinha do bloco e começar a escrever em outra.

— E pra beber? - Ele perguntou quando finalmente a comida já estava escolhida. — Água, suco, refrigerante, vinho?

— Vinho. - Emma respondeu.

— Qual? - Ele perguntou.

— Qualquer um. - Deu de ombros e olhou para Sofia. — Você tem preferência?

— Qualquer um, desde que seja suave. - Respondeu simples.

— Não, traz um seco. - Falei, e não tive nem tempo de me impedir de abrir a boca, as palavras só saíram.

 Emma, Sofia e Camila olharam pra mim, a diferença é que o único olhar que não está me julgando é o da Sofia.

— Você quer vinho seco? - Emma perguntou com a sobrancelha erguida.

— Não, ela só quer contrair mesmo. - Camila falou com um tom de voz levemente irritado. — Chamar atenção, pra ser mais exata. - Disse sorrindo, mas tenho certeza que ela está falando sério.

— Por que eu iria querer chamar atenção? - Perguntei irritada. — Eu não posso querer vinho seco?

— Não, não pode, porque você odeia. - Disse no mesmo tom que o meu. — O que voc...

— Traz um seco e um suave. - Emma disse para o garçom, interrompendo a fala de Camila.

 O garçom anotou e saiu, o clima da mesa ficou pesado, e ao mesmo tempo que eu estou irritada, eu estou me sentindo culpada, por que eu não posso escolher o vinho?

 Emma fez a conversa voltar à mesa, e o clima voltar a ficar leve, menos entre eu e Camila, porque ela passou a me ignorar. Quando a comida e as garrafas de vinho chegaram, minha vontade foi de levantar daquela mesa e sair, ninguém tomou do vinho que eu escolhi, se eu estou fazendo tempestade em um copo d'água? Talvez, mas elas também não colaboram, enchi minha taça e bebi o mais lentamente possível, eu odeio esse vinho, amarga como o inferno. Emma olhou pra mim com cara de riso, o que me fez fechar ainda mais a cara, ela virou a taça dela em um único gole e depois passou a enchê-la com o vinho que eu escolhi, e isso que fez a garrafa secar, porque se fosse por mim permaneceria cheia.

— Pra quem fez confusão pra pedir esse vinho, você não me parece muito contente tomando ele. - Camila disse ironicamente.

— Se está incomodada pode tomar. - Falei empurrando minha taça pra perto dela.

 Antes que ela pudesse me rebater, o que claramente ia fazer, me levantei e fui em direção a saída, no lado de fora parei do outro lado da rua, onde tem um posto de gasolina, comprei uma carteira de cigarros e voltei pra frente do restaurante, me sentando em um dos bancos que tem ali, destinado a fumantes.

— Desculpa, eu não sei o que está acontecendo comigo. - Falei ao sentir alguém parando atrás de mim, e pelo cheiro soube que é Camila.

— Você está me deixando com medo. - Ela disse com a voz baixa, virei e segurei na mão dela, fazendo ela vir pra minha frente. — Você gosta dela, né? - Perguntou. 

— De quem? - Perguntei, mesmo já sabendo a quem ela se refere.

— Da Emma. - Disse olhando nos meus olhos.

 Soltei o cigarro no chão e pisei no mesmo.

— Claro, somos amigas.

— Não se faz de idiota, Lauren, não estou me referindo a amizade.

— Mas eu sim, não tem nada além disso. - Falei, focando o olhar em alguns carros que passam pela rua.

— Então fala isso olhando nos meus olhos. - Pediu segurando no meu queixo, me fazendo olhar pra ela.

 Me levantei e segurei o rosto dela entre as mãos, fixando o olhar no dela.

— Eu amo você. - Falei sincera. — E te quero do meu lado, pra sempre.

— Não duvido disso. - Disse em um fio de voz. — Mas não foi isso que eu perguntei.

 Apenas juntei nossos lábios. 

 Eu só estou confusa. Fim.

Quase Sem QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora