BÔNUS 2/9

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Lauren POV

 No momento nada pra mim parece real, Camila saiu da sala cirúrgica faz algumas horas, já está estável e no quarto, mas ainda não acordou, devido às altas doses de sedativos, e eu estou aqui, acordada, mas minha mente parece ter sido sedada junto a da minha esposa, eu não consigo pensar, eu não consigo falar, eu não consigo agir em nada, já ouvi umas 3 pessoas falando que estou em choque, mas nem isso consegui rebater. Dr. Ryan apareceu aqui após a conclusão do parto, e seus olhos azuis, estavam tomados completamente pelo vermelho, ele acompanhou todo processo para a gravidez da Camila, as dificuldades, e as séries de cuidados por ser uma gravidez de alto risco, mas no fim, de nada adiantou, nossos filhos estão mortos, e eu não sei como olhar para Camila depois disso. No meu lugar, o que ela faria? Escolheria as crianças? Ela vai me perdoar por isso? 

 Senti uma mão em meu ombro, e me obriguei a olhar pra cima, Sinu, no outro extremo da sala de espera eu pude ver Sofia com o rosto enterrado no Pescoço da Emma, chorando sem parar.

— Você precisa ser forte. - Sinu disse olhando nos meus olhos, e acho que é a primeira vez que ela faz isso, olha nos meus olhos. — Minha filha vai precisar como nunca de você nesse momento. 

— Ela vai me odiar. - Falei sentindo as lágrimas tomarem meu rosto. — Eu não consegui escolher eles ao invés dela, eu não consegui. 

— Ei. - Se sentou ao meu lado e me puxou para os seus braços, eu apenas fiquei, incapaz de recusar qualquer consolo. — Não foi sua culpa, ela vai entender isso. - Passou as mãos pela minhas costas, em movimentos contínuos de vai e vem. — Camila sempre levou jeito pra ser mãe, desde pequena ela cuidava da Sofia com uma ternura linda de se ver, e diferente de mim, ela seria a melhor mãe do mundo, quando ela acordar e souber o que aconteceu, isso vai destruí-la e vai ser seu trabalho ajudá-la a se reconstruir. 

— E se eu não conseguir?

 Sinu se ajeitou na cadeira, e segurou meu rosto entre as mãos, olhando diretamente pra mim.

— Você vai, e sabe como eu sei disso? - Neguei com a cabeça. — Eu vejo o amor no olhar das duas, e não há nada mais forte na vida, Lauren, do que o amor, o amor de vocês vai sarar essa ferida.

— Licença. - A voz da Emma veio ao nosso lado. — Desculpa atrapalhar, mas nós precisamos… - Emma não conseguiu concluir. 

 Me afastei de Sinu e sequei meu rosto. 

— Precisamos providenciar o enterro. - Falei já que Emma não se permitiu concluir. 

— Eu posso cuidar disso por você. - Se propôs. 

 Me levantei.

— Eu preciso fazer isso. - Falei, tentando me auto convencer. 

 Antes de me afastar, olhei pra Sinu ainda sentada e a deixei com um simples, mas sincero "obrigada".

 Meus passos nunca pareceram tão pesados quanto agora, meu corpo parece gritar para que eu não continue meu caminho. Estou indo ver meus filhos pela primeira e última vez, e sem vida. Já na porta eu travei, com Emma ao meu lado, ela segurou minha mão e apertou, na tentativa de me encorajar, mas me senti ainda mais fraca. Com a mão livre eu abri a porta, uma enfermeira olhou pra mim, pelas horas que estou chorando na sala de espera, acho que não tem ninguém nesse hospital que não saiba quem eu sou, ela baixou o olhar e olhou para o canto mais afastado da sala, então eu soube, ainda sentindo meus pés carregando enormes bolas de aço eu me aproximei, e era melhor não tê-lo feito, dois corpos miúdos, vestidos em uma roupinha amarela do hospital, os cabelos no mesmo tom do da Camila, minha mãe se ergueu, e só então percebi o quão trêmula estou, toquei, mas ao sentir a falta de calor, rapidamente afastei minha mão, embora pareça, não estão dormindo, essa certeza fez meus olhos inundarem de lágrimas pela milésima vez, essa cena doeu tanto em meu peito que cheguei a cambalear para trás. Não sei em qual momento saí, mas já me encontro no corredor do lado de fora da porta, mais especificamente no chão, sentada, chorando, ainda me sinto no mesmo abismo em queda livre, parece que não vou chegar ao fim nunca.

Quase Sem QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora