Capítulo 30

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Logo um bom tempo se passou, faltavam pouco dias para a festa na mansão. Para a minha surpresa as coisas correram melhor do que eu esperava. Consegui decorar bem as músicas do repertório,consegui conciliar meu treino com as provas da escola, não fiquei doente nem nada. Mas devo dizer que durante essas semanas parecia que eu tinha parado de viver. Era praticar, ir a escola, estudar, comer e dormir.

  Com minha vida social abalada vi que Mariana não teve chance de se aproximar de mim, ou simplesmente ela que não queira mesmo. Confesso que no começo, não acreditei que ela estivesse mesmo deixando de falar comigo. Pensei que logo ela viria "Oi Mili! Olha a nova coisa blá blá bla que eu fiz!" como sempre, contudo,isso não aconteceu. Pelo menos não ainda.

-Com certeza é essa que eu mais gosto..- Benjamin fala escorado numa cadeira no canto da sala.

-Como é Ben?- pergunto interrompendo a música no meio.

Estávamos na casa de Ben por volta das Duas da tarde de uma quinta-feira. Repassava todas as músicas pela última vez por segurança, o piano depois de ser devidamente afinado parecia praticamente novo, os sons pareciam sair de cristais cintilantes de tão precisos. Estava tocando a pelo menos uma hora e meia quando Ben finalmente disse alguma coisa, todo o resto do tempo ele ficou lá,parado, jogado sobre a cadeira com uma expressão difícil de indentificar.

-Essa música é a minha favorita- ele afirma

-Sei..- falo desconfiada- É pq é a minha e a única que você conhece!

Ele lentamente balança a cabeça

- Nada disso, Eu conheço algumas outras também, mas essa me traz uma sensação diferente. Não sei... Sensação que nenhuma outra consegue.- ele explica com as sobrancelhas franzidas por detrás dos óculos. -Talvez por ser sua e você queira tocar melhor do que as outras.

-Faz sentido- eu admito sem dar muita atenção,pronta para continuar de onde parei.

- Ela é muito linda..-Diz ele com a voz delicada olhando pra mim de repente.

Sinto um sorriso se formar no meu rosto.

- Ah.. obrigada Ben.

Ele confirma com a cabeça

- Me mostra outras suas,eu quero ouvir.- ele me pede

-Bom..- coloco as mãos no colo- Essa foi a única que eu fiz.

-Mesmo?- indaga ele confuso

-Sim,eu não sou muito do compor. Essa foi a única vez que eu tive a necessidade de criar alguma musica de fato, aí meu pai me ajudou numas coisas que eu tinha dificuldade e deu nisso.

-Espera, necessidade como assim?

-É tipo, músicos geralmente não vem do nada e criam alguma coisa sem razão nenhuma. Muitas vezes  nós.. precisamos de alguma inspiração para começar.  -senti a palavra "nós" sair como um engasgo na garganta. Não tinha mais como voltar atrás não é? Eu realmente faço parte desse mundo agora.

- Ah..sim,sim, inspiração e tal.. entendi Emília. E de onde veio a inspiração para essa música? - a curiosidade dele parecia sincera. Será que eu devia falar que foi pelo amor que eu sentia pelo meu melhor amigo? E que agora ele se foi, tudo que me sobrou foi essa música idiota?

Quando se tratava de Benjamin eu sempre tinha receio de falar o que fosse sobre Nicolas. Ele parecia pertencer a outra vida minha,  vida essa que não fazia sentido informar ao garoto na minha frente. Eu pensava que, se eu não comentasse mais sobre o que sentia por Nicolas,o sentimento iria simplesmente desaparecer. Que diferença faria? Guardei esse amor por quase dez anos, o que me impediria de o trancar de novo até ele sumir?

Emilia Abril Onde histórias criam vida. Descubra agora