Capítulo 68

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Ucker: Por que não contou, Dulce? (perguntou indignado) Eu precisava saber disso. Como queria que eu ficasse as cegas sobre a sua saúde?

Dul: Eu tentei contar quando o diagnóstico foi concluído. Eu estava apavorada e a única coisa que eu queria era um abraço seu e suas palavras de conforto, mas você chegou tarde naquele dia e não quis nem olhar na minha cara. Não deve nem ter percebido que tinha algo errado. Foi um dos piores dias da minha vida porque eu não tinha ideia do que aconteceria comigo e você agiu como o pior marido do mundo. A sua indiferença comigo estava cada vez pior e me machucando cada vez mais e eu não conseguia mais suportar aquilo... Eu precisei tanto de você naquela noite e nos dez meses que passei na Itália... (sussurrou com a voz embargada)

...

Flashback

Fechando o robe de seda sobre a camisola, Dulce entrou na cozinha pouco depois das nove horas da noite daquele dia e sorriu levemente ao ver que o Christopher já estava ali.

Naquelas últimas semanas ele estava chegando cada vez mais tarde do trabalho e sabia que ele fazia aquilo numa tentativa inútil de evitar que mais discussões acontecessem, mas estava com saudades do marido e tudo o que queria era um abraço e um beijo dele e as palavras de conforto que tanto precisava naquele momento.

Dul: Oi, Chris. Chegou tarde hoje. Eu estava te esperando.

Ucker: Já falei para não me esperar, María. Estou ocupado na empresa.

Dul: Eu sei que está, mas eu te mandei uma mensagem pedindo para que você viesse um pouco mais cedo. Eu quero conversar com você. Você tem alguns minutos pra mim hoje?

Ucker: Dulce, eu realmente não estou com paciência para escutar as suas reclamações e de começar uma discussão agora. Não quero conversar. A única coisa que eu quero é ir dar um beijo de boa noite na minha filha e ir dormir. Outro dia conversamos.

Dul: Quando você vai conseguir pelo menos um minuto para me dar atenção, hein? (perguntou com a voz embargada) Faz uma semana que você não me dá nem um selinho e não olha direito na minha cara.

Dulce o viu dar de ombros e assim que ele saíra da cozinha, deixou-se chorar. Não sabia mais o que fazer para tentar salvar o casamento e ter o carinho do marido novamente e não estava sendo fácil estar tendo que lidar com aquela crise e com seu estado emocional mais fragilizado pelas últimas semanas que tivera. 

Estava com medo do futuro e de como tudo seria dali pra frente e sabia que precisava do apoio do marido, mas pelo que via, não teria e após aquilo também já não se sentia disposta a contar para ele pois tinha medo que ele a deixasse ainda mais sozinha ou que escolhesse permanecer casado apenas por pena.

Conseguindo se acalmar minutos mais tarde, Dulce voltou a subir até o quarto e assim que deitou na cama, logo viu Christopher deitar ao seu lado e desligar o abajur e sem pensar duas vezes aproximou-se dele, abraçando-o por trás enquanto roçava suavemente seu nariz nas costas dele.

Ucker: Dulce...

Dul: Eu preciso de você hoje, por favor. (o interrompeu) Não quer conversar, ok, não iremos fazer isso, mas eu preciso pelo menos te abraçar. Só isso. Não quero sexo e também nem quero mais conversar, só... Me deixa ficar abraçada com você hoje. É só isso que eu quero.

Dulce o viu assentir levemente com a cabeça e logo sentiu a mão dele cobrir a sua, entrelaçando seus dedos e pousando-as sobre o coração.

Ucker: Boa noite, Dulce.

...

Sentindo que a mão dele quase se afastou da sua, Dulce a segurou com mais força e o escutou fungar enquanto desviava o olhar e abaixava a cabeça numa tentativa de esconder as lágrimas.

Dul: E então eu decidi que o melhor a se fazer seria passar um tempo longe de vocês, principalmente depois de você ter me magoado tanto ao falar que se arrependia do nosso casamento. Eu não tinha como continuar ali me estressando todos os dias e não poderia começar o tratamento no meio daquele caos que estávamos. Eu precisava estar tranquila para melhorar e a doença entrar em remissão. Os meus sintomas estavam ficando mais fortes e eu fiquei com medo pois não sabia e ainda não sei exatamente como ela vai me afetar e não queria que você ficasse comigo por obrigação e não queria que Luna me visse no pior estado que essa doença poderia e ainda pode me levar. Como eu iria explicar pra Luna que eu não poderia brincar com ela por ter dias que eu mal consigo pegar uma caneta pra assinar meu nome? Então se o meu caso evoluísse rapidamente e eu acabasse morrendo, vocês também já estariam acostumados sem a minha presença.

Vendo-o passar a mão no rosto para secar as lágrimas, Dulce apertou suavemente a outra mão dele. Odiava ver o marido naquele estado e queria passar o máximo possível de tranquilidade a ele.

Ucker: Então não tem cura mesmo? (perguntou baixinho, sem olha-la)

Dul: Não. Apenas tratamento paliativo.

Ucker: Qual a real gravidade?

Dul: Apesar de ter afetado o sistema nervoso, fui diagnosticada com o tipo mais leve por não ter afetado os órgãos, mas obviamente pode evoluir e pode evoluir rápido e é apenas por isso que vou para a UTI, para ser monitorada com mais cuidado e para ver se nenhum órgão está sendo afetado farei algumas biópsias e exames de imagem. Os últimos exames que fiz antes de voltar para cá ainda não apresentavam nenhuma alteração e espero que permaneça assim por um bom tempo.

Ucker: E eu espero que nunca afete. (murmurou com a voz embargada) Você...

Dul: Tenho o mesmo tempo de vida que você e posso viver normalmente. (o interrompeu sabendo o que ele iria perguntar) Terá dias que precisarei ficar quietinha para evitar que alguns sintomas se agravem e talvez tenha algumas complicações, talvez precise de um rim daqui alguns anos... Algo que a terapia tem me ensinado a não dar tanta importância por enquanto e sim curtir ao máximo o presente. Ao que tudo indica, eu estou abatida assim devido as deficiências nutricionais e não por conta da doença, apesar de estar sim em uma crise.

Ucker: Quem sabe disso tudo?

Dul: Apenas nós dois e todos os médicos com quem consulto, obviamente. A minha mãe sabe apenas da depressão e prefiro que continue sabendo apenas isso por enquanto.

Ucker: Eu não acredito que decidiu passar por tudo isso sozinha, Dulce. (negou com a cabeça) Sou seu marido, caramba. Por mais que estivéssemos brigando daquela forma você deveria ter me contato. Deveria ter insistido em falar comigo e não simplesmente desistir na primeira tentativa.

Dul: Você iria ficar comigo por pena... (sussurrou)

Ucker: É claro que não, Dulce María! Eu te amo. Qual a dificuldade de entender isso? Qual a dificuldade de entender que devemos estar juntos na saúde e na doença? Sinto muito se o que falei sobre me arrepender do nosso casamento te afetou tanto assim a ponto de você achar que eu ficaria com você por pena, mas não, Dulce, eu não ficaria casado com você por pena. Eu ficaria com você porque te amo mais que tudo, será que não consegue perceber isso também?

Dul: Eu sei que você me ama, mas como estávamos tão mal naquela época, fiquei com medo de você realmente já estar à beira de pedir o divórcio e mudar de ideia apenas por se sentir obrigado a ficar comigo. Me desculpa. Foi errado o que eu fiz e espero que você possa me perdoar. Eu não fiz por mal, eu só queria te proteger e agora eu vejo que isso não é proteção.


...

E aí temos o que aconteceu quando ela foi contar pra ele sobre o diagnóstico. Ela não tinha nenhuma intenção de esconder, porém com a situação que estavam vivendo, ela acabou achando melhor assim.

E lembram quando ela disse para Beatrice logo no começo da fic que não devemos fazer quem amamos se sentir sozinho? Esse flashback explica aquela frase!

E só pra saber e sem pensar no abandono... Vocês no lugar dela, com o casamento quase acabando e sem nenhuma demonstração de carinho do marido teriam insistido em contar ou também teriam deixado o assunto de lado por um bom tempo?

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