Ele é meu pai.

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O capítulo a seguir aborda temas sensíveis de forma implícita e explícita, como:

Ataque de pânico, ansiedade e violência 

oOo

— O que você quer saber primeiro? — Lucien pergunta.

— Por que você é bom com Tamlin? — essa era uma questão que Az tinha sérias dúvidas.

Lucien respira fundo e conta até três. Ele sabia que choraria, em algum ponto dessa conversa. É muito pesado para ele, mas estava na hora de contar para alguém, de diminuir esse peso, de se libertar ou pelo menos tentar.

— Por que você faz questão? Por que se importa? — ele tenta desviar o assunto um pouquinho, não que a dúvida não seja real.

— Não fuja do assunto — Lucien podia sentir o calor do corpo do illyriano atrás de si — Eu sempre pensei que fosse mentira, tudo o que você contava. Eu sentia, sabe? Só que eu ignorava isso, eu deixava para lá. Eu tinha uma raiva sem motivo de você, não por sua causa, mas um pouco por Tamlin, um pouco por Eris, um pouco sem motivo. Eu me convencia dizendo que se você aceitava eu não podia fazer nada, mas eu só estava mentindo para me deixar bem. Aí eu percebi. Percebi o quanto eu estava errado. O quanto eu fui babaca por te tratar mal. As coisinhas me xingaram e eu entendi, entendi o quão babaca eu fui. Eu tirei conclusões precipitadas, coisa que um espião não pode fazer. Eu me deixei levar por informações vagas e não procurei seu lado ou seus motivos. E eu sinto muito — o moreno dá um sorriso fraco, mesmo sabendo que o outro não pode ver.

Lucien não responde, ele nem sabe o que responder.

— Eu... Eh...

— Sua vez de me responder — Azriel o interrompe.

— Ele é meu pai — Lucien ri e Az o acompanha, depois de um tempo o silêncio recai. Lucien queria ter aquela conversa, mas isso não significa que não iria tentar desviar o assunto ou aliviar a conversa ao máximo.

— Ele me ajudou quando eu precisei. Ele me protegeu e deu abrigo — o ruivo falava baixo e meio tristonho.

— Isso não é motivo — Lucien abriu a boca para interromper ele — Minha vez de falar. Ele ter te ajudado não significa que você deve alguma coisa à ele, porque se devesse não seria ajuda e nem um amigo você poderia considerá-lo. Ajuda é algo que você faz sem esperar nada em troca. Fora que você já ajudou ele. Você ficou do lado dele e não o abandonou, isso é mais que o suficiente. E nada disso que você falou é motivo para ele te tratar mal e fazer o que bem entender com você.

Lucien ouve e reflete aquelas palavras. Talvez ele comece a enxergar a verdade, talvez tudo o que ele precisa é alguém para abrir os olhos dele, só isso. Talvez...

— Não se diminua para os outros se sentirem bem ou para não magoá-los. Não falo só do Tamlin, mas do Círculo Íntimo também. Você tem que se sentir bem, só você. Não tente agradar os outros — o silêncio recai, não desconfortável, os dois estavam perdidos em pensamentos — Outra pergunta. Ele te protegeu de que?

— Você não sabe dessa história? — Az murmura um não — Ele me ajudou a fugir da Corte Outonal. Matou um de meus irmãos que tentava me matar. E me abrigou na Primaveril, me deu um cargo, me ofereceu conexões. Entende o quanto devo a ele? — questiona.

— Não. Porque no final ele está sendo tão ruim quanto seus irmãos. Mas por que queria fugir da Outonal? Por causa dos seus irmãos?

— Não — lágrimas rolam pelo rosto do ruivo — Eles... Eles mataram Jesminda. Eles mataram ela bem na minha frente — o ruivo soluçava, eles pararam no meio do caminho — Eles me fizeram assistir ela implorar, eles me fizeram assistir sua morte. Eu a amava. Mais que tudo. E eles tiraram ela de mim, bem na minha frente. Eles me fizeram ouvir cada grito, me fizeram ver cada gota de sangue — as lágrimas caiam e o ruivo soluçava, flashes vinham e iam.

As luzes amam a escuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora