Quando acordei no hotel, a ausência das memórias da noite passada e a sensação de vazio tomavam conta de mim, minha cabeça estava explodindo, queria que fosse como nos filmes e eu tivesse alguém aqui para me repreender e cuidar de mim, mas Kelly já tinha desistido, ela com certeza estava tomando café na cobertura do hotel, de frente para a piscina, eram os luxos que recebia por ser minha maquiadora.
Então eu mesma me forcei a entrar debaixo do chuveiro, eu sentia que aquela água podia gelar até a minha alma, assim que terminei pedi meu café, não demorou muito para que ele chegasse, não queria sair do quarto agora.
Tomei meu café da manhã e comecei a arrumar as malas, haviam várias mensagens recentes de Kelly, me lembrando da hora em que sairíamos, era impossível esquecer. Em algumas horas eu estaria no meu lar, no meu doce âmbito familiar.
Depois de alguns minutos finalmente tomei coragem e comecei a me arrumar para sair do quarto, eu tinha uma entrevista marcada para aquela manhã, mamãe sempre me aconselhava a fazer isso, era bom para minha imagem estar sempre arrumada.
Assim que cheguei ao térreo, meu entrevistador já me esperava, e parecia ansioso, já deixava um gravador ao seu lado, pronto para absorver cada uma das minhas palavras (e distorcer seus significados se preciso).
—Bom dia Lise, está radiante!— ele se levantou para apertar minha mão, de fato muito cordial.
André é dono de uma revista de fofocas, com certeza esperava que eu confirmasse algo sobre meu ex relacionamento.
Desculpe leitor, esqueci de lhe contar sobre esse, mas você logo vai saber do que se trata, já lhe adianto, não é muito agradável.
—Bom dia André, pensou que eu lhe deixaria na mão?
—Claro que não, querida, sente, vamos começar. Não quero tomar tanto do seu tempo, me disseram que seu tempo estaria corrido essa manhã.
—Vamos lá então.
Ele ligou seu gravador e pegou um bloco de notas que estava sobre uma pequena mesa de madeira escura, muitíssimo elegante, estávamos na recepção do hotel, eram 6h da manhã, não havia tanto movimento de gente entrando e saindo, um local perfeito.
—A quanto tempo você desfila?
Desde que me conheço por gente fui inserida nesse mundo, aos 5 já posava para fotos nos eventos que mamãe fazia questão de me levar, aos 7 já desfilava em alguns desfiles, aos 8 já tinha ganhado mais de 3 concursos de beleza. Mas só aos 10 comecei oficialmente minha carreira de "mini-modelo".
—Comecei aos 10, foi uma paixão que nasceu comigo, um amor à primeira vista.— sorri dissimuladamente, afim de confirmar a mentira.
—Olha só! Um talento nato pras passarelas, e não é só eu que estou dizendo, você sabe que as pessoas te vêem como um grande ícone de moda nacional, inclusive ficamos sabendo que foi eleita pela revista Miller como a modelo da década, como se sente em relação a todos esses títulos e reconhecimento?
Eles não fazem sentido pra mim André, eu não escolhi essa vida.
—Me sinto honrada de ser alvo de admiração do público, jamais pensei que fosse chegar a lugares assim tão altos como modelo, pra mim isso é surreal.
—Dá pra ver que você realmente ama o que faz, mas agora fugindo um pouco das passarelas, sobra um tempinho pra namorar, conhecer pessoas novas?
Deus, isso é constrangedor, desculpe por isso, se eu contasse que alguém real se interessou em me conhecer, eu pareceria maluca. Se pudesse diria que você é o melhor amigo que pude ter nos últimos anos, alguém real. Você está sendo incrível comigo, queria poder dizer às outras pessoas sobre você.
—Será que não há mesmo ninguém?
—Juro, meu tempo está tão corrido ultimamente, que mal consigo manter contato com a família, um relacionamento bagunçaria minha agenda, minha assessora ficaria furiosa!— eu ri, de fato, mamãe enlouqueceria se eu começasse a faltar aos meus compromissos de modelo por causa de alguém.
André riu, mas logo se recompôs e voltou a entrevista:
—Espero que logo eu possa noticiar outro noivado seu!— ele realmente disse isso? — E a Anelise filha, como é que é a Lise família?
É complicado… mas eu os amo, e sei que me amam também… do jeito deles, mas amam.
—Quase que não tenho ficado tanto tempo em casa, mas os poucos dias que consigo ficar, tento aproveitar bastante com meus pais, é sempre bom um carinho paterno, descansar das viagens no colo da mãe é a primeira coisa que faço quando chego, admito!— eu ri, para descontrair um pouco.
—O público quer saber quais são os seus planos para o futuro, onde você pensa estar em 15 anos?
Espero que descansando, de frente para o mar e com o celular no modo avião.
—Quem sabe fazendo desfiles pela Europa, essa é a minha meta, já estive em um desfile em Madrid, mas agora quero expandir!
—Qual seu recado para o público que te admira?
—Jamais desistam dos seus sonhos, o sucesso vem a partir da insistência e da determinação!
É um clichê, mas não é totalmente mentira. A entrevista acabou, nos despedimos.
Não me olhe assim, okay? Acha que ninguém mente em entrevistas? Se eu dissesse o que penso, mamãe teria me prendido em uma camisa de força a muito tempo, eu estaria internada em um hospital psiquiátrico cristão, e vamos combinar, não há nada mais assustador que isso.
Subi para meu quarto, terminei de arrumar minhas coisas, era hora de voltar para casa.
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O Último Ato
Mystery / ThrillerAnelise Montenegro, uma jovem modelo do sul brasileiro, nasceu com a sorte de uma família rica, é claro que toda família tem seus defeitos, mas a sua sempre fora por todos considerada como bem estruturada. Ou pelo menos era isso que ela pensava, ant...