Avisei que eu viajaria para uma chácara que aluguei fora da cidade, ela não ficava tão longe da cidade onde morávamos, lá parecia ser um lugar tão calmo, perfeito para descansar um pouco. Eu já sentia o estresse do cotidiano afetando levemente minha memória.
Eu desejava me isolar por alguns dias, sem explicação, simplesmente fugir da mídia que me perseguia ainda mais fortemente, deixei um bilhete para Janete avisando o dia em que eu voltaria para casa, pedindo que mantivesse tudo em ordem até lá.
Fiz minhas malas, levando o suficiente para passar três ou quatro dias, logo eu voltaria à cidade. Só precisava desses dias de descanso ao seu lado.
Então leitor… ainda quer brincar de fada comigo?
Aluguei um lugar lindo, você vai gostar, tenho certeza. Fiz questão de escolher um lugar com cachoeira, do mesmo jeito que te descrevi aquela vez, lá no começo, se lembra?
Eu me lembro perfeitamente, como se fosse ontem… seus olhos curiosos, até te deixavam atraente. O modo como quase não piscava olhando pra mim, me fazia sentir… sabe… especial. Parece que de todos os personagens, eu tive a graça de ser a protagonista, aquela a quem você ouviria.
Na verdade não sei bem até onde acaba a "graça" de ser a protagonista e começa a maldição. Mas é melhor irmos agora, quero aproveitar ao máximo os dias que reservei por lá, aproveitar todo nosso tempo juntos, como se fossem meus últimos momentos, como se tudo fosse se acabar de repente. Parece uma proposta interessante? Viver intensamente esses dias, sem drogas, pode acreditar.
Após algumas poucas horas na estrada, duas e meia para ser mais exata (eu disse que era aqui perto), cheguei á chácara, um rapaz veio abrir para que eu pudesse entrar, ele me explicou algumas coisas, deu seu telefone para mim, caso precisasse de ajuda com algo e me entregou as chaves da casa.
Entrei com o carro lá e estacionei próximo á casa. É mais lindo do que vi pelas fotos, indescritíve.
Lindo não é? Um lugar onde meu celular não pega sinal se torna três, quatro, cinco vezes mais bonito que o normal.
Coloquei minha mala com algumas roupas dentro do armário, eu não a desfiz, assim ficaria mais fácil depois, e como estava organizada, não haveria dificuldade para encontrar as roupas que eu queria. Nem sequer trouxe maquiagem, apenas alguns hidratantes, estou tão animada! Ninguém merece ter de usar maquiagem o dia todo.
Eu nunca pude realmente usufruir do meu dinheiro totalmente, Antonella sempre o controlou para mim, dizendo com o que eu podia ou não gastá-lo. Acaba por fim gastando com poucas coisas que realmente me importavam.
Melhor não ficar pensando nisso… Vamos explorar!
Coloquei meus chinelos e vesti rapidamente um vestido azul claro, muitíssimo confortável.
Vendo a natureza, todo aquele verde, penso que é impossível viver sem explorar um pouco a natureza. Se todos explorássemos o suficiente, para nos mantermos vivos, estaria tudo bem. Mas o que fere o nosso planeta é justamente a exploração demasiada, sugando até a última gota dele, muitas vezes sem necessidade. A indústria da moda é um exemplo disso, por isso sempre compre em brechós, isso ajuda essas roupas a serem novamente utilizadas e não pararam em lixos ou coisas do tipo.
Há tanto dinheiro em minhas mãos agora que penso desnecessário seguir como modelo, eu nunca quis isso, nunca me perguntaram se eu queria.
Andei falando com o advogado da mamãe uns dias atrás, não te contei por que não me pareceu tão relevante, e também não queria lhe preocupar. Temia que papai pudesse tentar me matar (e conseguisse), então já fiz meu testamento, se eu morrer o dinheiro há de ficar nas mãos de quem fará bom uso com ele, deixei escrito algumas pequenas ONG's que eu gostaria de doar, voltadas ao meio ambiente, a animais, crianças que precisam de apoio para construirem seu futuro, idosos abandonados, e também outras voltadas á ajuda as regiões periféricas do Rio e São Paulo. Eu sou uma negra que teve a sorte de nascer em berço de ouro, mas outros não tiveram a mesma sorte que eu, outros se julgam negros sem vez, sem esperança no futuro, quero ajudar a reviverem essa esperança já enterrada. Quero que tomem espaço, se espalhem e incomodem a burguesia branca, quero minha gente no topo, é assim que deve ser.
Estou quase chegando até a cachoeira, é um pouco afastado daqui.
O céu estava num tom de azul quase que igual ao meu vestido, não haviam tantas nuvens quanto nos outros dias, estava um dia lindo. Posso sentir o ar fresco do campo e da manhã enchendo meus pulmões, a grama verde abaixo de mim me convidava a andar descalço e senti-lá, então assim o fiz, segurei meus chinelos e andei sobre ela, sentindo sua textura em meus pés.
Sabe o que era ainda melhor? O cheiro de grama recém-cortada que estava no ar, esse definitivamente era um dos meus cheiros favoritos, depois o cheiro da chuva, cheiro de café, de papel novo e cheiro de ar condicionado… eu sei, pode até parecer que não ar condicionado não tem cheiro, mas pra mim ele tem.
Porém não trocaria o ar fresco do campo pelo cheiro dele agora. Estar sozinha com você aqui me faz imaginar esse lugar como um paraíso na Terra.
Havia uma árvore com mangas então decidi pegar umas duas que estavam na ponta dos galhos, dariam um ótimo suco.
Prossegui minha caminhada até que encontrei a cachoeira, não era muito grande, mas era muito agradável.
É tão fresco perto dela. Coloquei meus pés na água, era gelada apesar do clima levemente quente que estava sobre aquela região.
Eu até entraria, porém, não trouxe nenhuma toalha. Logo voltarei aqui, só estou conhecendo o lugar, ficarei aqui tempo suficiente para aproveitar tudo que esse lugar pode me oferecer.
Fiquei sabendo que hoje os policiais entrariam novamente em minha casa, levariam nossos computadores. Eles suspeitam fortemente de nós, parece que não há mais outros suspeitos, todos os outros já foram eliminados. Não sou a assassina, e suspeito que também não seja papai, será que há algum suspeito que ainda não foi encontrado?
Me desculpe, eu cheguei a pouco tempo, ainda não consigo deixar de pensar nessas coisas, não importa o quanto me esforce, é meio difícil pra mim.
Aqui pelo menos não receberei mais notícias dela, nem de nada relacionado à aquilo, eu estava livre daquilo por um curto prazo de tempo.
Estou escondida no paraíso com meu querido leitor, os demônios não poderão me alcançar aqui.
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O Último Ato
Mystery / ThrillerAnelise Montenegro, uma jovem modelo do sul brasileiro, nasceu com a sorte de uma família rica, é claro que toda família tem seus defeitos, mas a sua sempre fora por todos considerada como bem estruturada. Ou pelo menos era isso que ela pensava, ant...