Capítulo 10

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—Só pode tá de brincadeira né?

—Acha que tô brincando? Elas vão morar aqui.— o Sr. Montenegro me dizia com um olhar sério, realmente não parecia estar brincando.

—MAMÃE ACABOU DE MORRER, A CAMA NEM ESFRIOU E VOCÊ QUER METER SUA OUTRA MULHER AQUI? É ISSO MESMO? VOU TER QUE DIVIDIR A CASA COM A SUA AMANTE E SUA OUTRA FILHA?

—FALA BAIXO COMIGO ANELISE, CARALHO QUE MERDA! NÃO ESQUECE QUE EU TAMBÉM MORO AQUI!

Primeiramente bom dia leitor, as coisas amanheceram agitadas por aqui, peguei meu pai no meio de um telefonema, agora ele já não fica mais trancado naquele escritório imundo, ganhou asas, fica até sentado no sofá da sala!

Parece que o Sr. Vitor Hugo tem outra mulher, outra filha, essa vida dupla já leva 22 anos, coincidência, não? Eu tenho 21. Mamãe tinha mandado embora uma empregada, aparentemente ela e meu pai estavam tendo um caso. Eles continuaram se falando depois da demissão, ele bancava todas as contas da casa dela. Depois passou até a pagar uma quantia mensal, uma espécie de pensão pra filha deles, tudo isso com o dinheiro que ele pegava da mamãe, me disse tudo com tranquilidade, sem remorso ou respeito algum á falecida.

A garota já tem 17 anos, as coisas estão ficando cada vez piores por aqui, é inacreditável como tudo consegue ficar pior.

Ele até queria que elas morassem aqui! Queria trazer a amante nojenta dele pra dormir na mesma cama que minha mãe dormia!

—A gente vai ver mesmo se você mora aqui, pai. O advogado da mamãe tá me telefonando desde ontem, vamos verificar o testamento hoje.

—ENTÃO É ASSIM QUE VOCÊ QUER? EU TE VI NASCER ANELISE, VOCÊ É MINHA FILHA!— é… ele me deu um tapa, nunca pensei que me bateria, por mais estranho que pareça, ele nunca me bateu antes.

—Sai daqui. 

—Lise…

—Sai daqui agora seu escroto ou eu vou chamar a polícia.— eu chorava, mas de raiva.

Ele derrubou as coisas da estante e subiu para seu escritório, bateu a porta tão forte que pensei que ia estourar ela.

O ódio percorria pelas minhas veias, me fazendo esquentar, eu não fazia nada se não chorar, era o único jeito que eu achava de aliviar aquela merda. Porra mãe, por que você foi embora? Eu preciso tanto de você comigo agora.

Subi as escadas, bolei meu baseado, aquele mesmo processo que você já conhece e sai fumando pela casa, procurando por algo.

Assim que entrei no quarto de mamãe, me deitei em sua cama, sentindo seu cheiro nos lençóis, deitada e jogando a fumaça pra cima, lembrava de quando ainda era viva.

Eu juro que tô tentando superar o luto, mas tudo ainda é muito recente, me deixa sentir isso. Me deixa sentir minha dor, sentir a tristeza, o pesar, me deixa ser triste. 

Eu não podia continuar ali, tinha coisas a fazer, eu que deveria fazê-las agora, desci e chamei as empregadas na cozinha.

—Janete, não quero que arrume o quarto da minha mãe, quero entrar lá e ver que está tudo do jeito que ela deixou, tudo do jeito dela. Quero que arrumem ou outros cômodos, inclusive meu quarto, deixem tudo limpo, não joguem as minhas coisas fora, sabem do que estou falando. De resto, limpem tudo, até lá fora, tranquem o quarto da mamãe e deixem a chave na minha gaveta. O advogado vem hoje.

Elas assentiram e foram cumprir minhas ordens, tudo ficaria em ordem para receber o advogado, e também, não era exagero querer a casa limpa, desde que ela se foi, dei folgas extras as empregadas, está tudo uma bagunça. 

A campainha tocou, olhei pelo olho mágico, eram duas mulheres, uma adulta e uma adolescente, eu não acredito que são quem eu estou pensando, duas mulheres… brancas! ENTÃO ELA É BRANCA?! 

Ainda com meu baseado em mãos, atendi a porta.

—Bom dia, presumo que saiba quem são vocês. O que querem e como entraram aqui?

—Parece menos mal-educada pela televisão.— disse a adolescente, abaixei meus olhos para ela.

—Eu nem sei quem é você.

Aquela garota já foi entrando, sem pedir licença, a mãe, claramente envergonhada pela atitude da filha veio atrás.

—Íris, por favor, se comporte! Me desculpe Anelise, ela é assim mesmo.

—Saiam daqui ou eu vou chamar a polícia, isso é invasão de privacidade!

Adivinha só quem estava descendo as escadas, isso mesmo, Vitor Hugo, e vinha saltitando.

—PAI!— ela o abraçou forte, um abraço que ele jamais me deu, dava em outra menina, sua outra filha, aquilo fez uma lágrima teimosa escorrer de meus olhos.

—Que lindo vestido! Finalmente pode ver aonde o papai mora. Vai poder morar aqui também, logo logo!

—Vocês não vão morar aqui, não vão pegar nada da minha mãe.

—Acho melhor sairmos um pouco e darmos um tempo pra Anelise pensar melhor em aceitar a gente junto aqui, com certeza ela vai aceitar.

—Não sei, a Lise, parece muito arrogante pra isso, né irmãzinha?

Eu não sou sua irmã, não sou nada de nenhuma de vocês, eu queria quebrar vocês duas, branquelas oportunistas.

Eles se retiraram para fora da casa, parece que foram fazer um passeio de carro. Acho tão lindo passeios em família, é uma pena que papai nunca esteve presente pra isso, mas parece que agora ele é bem presente, consegue ser pra aquela garota, que mora longe dele, um pai melhor do que ele é para mim todos os dias.

Seria engraçado se não fosse trágico, eu não sei mais o que fazer, estou perdida.

Uma maré de acontecimentos vem contra mim e eu já não estou mais conseguindo lidar, pra melhorar meu baseado chegou ao fim.

Os dias parecem intermináveis, tive trabalhos desmarcados, haters não param de me mandar comentários maldosos, e parece que tem alguém vazando informações da investigação.

Esse alguém já vazou detalhes que dei no meu interrogatório, que meu pai é o principal suspeito, que ele e minha mãe viviam brigando. O que mais me deixou curiosa foi o Tavares mentindo sobre como havia conseguido um lugar na festa, disse que tinha sido contratado por uma emissora para fazer a cobertura ao vivo do evento, mas eu sei bem que essa não era a versão real. Afinal, o que ele tanto quer esconder?

O Último AtoOnde histórias criam vida. Descubra agora