Capítulo 4

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Eu desci de meu jatinho particular, usando meus óculos escuros para disfarçar a puta cara de ressaca, eu mal havia dormido na noite passada, e durante o vôo, fiquei ainda mais impossibilitada disso, quase nunca durmo nos vôos.

Fui de encontro ao meu motorista, ele me conduziria até a Mansão Montenegro, onde meus amados pais me esperavam.

Você está adentrando profundamente em minha vida, sinto que isso pode se tornar uma amizade especial, você não acha?

Posso prever toda a cena, mamãe estaria recebendo uma massagem, hoje é sexta-feira, ela sempre relaxa após a leitura e os ensaios do roteiro da semana, a rotina de atriz podia não ser algo fácil e suportável para outras pessoas, mas mamãe sabia como fazer aquilo, conseguia arrumar tempo para tudo que quisesse, isso era quase que um super poder (achava aquilo invejável).

Papai estaria fazendo coisas que sabe se lá Deus, trancafiado em seu escritório, quando eu bato á porta, as vezes ele finge não ouvir, penso que não me quer por perto, então volto mais tarde para tentar lhe dizer qualquer coisa sem importância, mas muitas vezes estou chapada demais para me lembrar do que ia dizer anteriormente. Ou ele poderia estar fora de casa, nas suas saídas semanais, que ninguém faz ideia de onde ele se mete.

—Bom dia Srita. Montenegro, está com uma aparência péssima, trouxe um pouco de maquiagem para que cubra suas olheiras, imaginei que se encontraria assim, sua mãe lhe diria mil coisas se a visse nesse estado— disse ele tão atencioso me entregando uma pequena nécessaire de couro, enquanto me olhava pelo retrovisor interno. Paulo era muito gentil comigo, ao meu ver, já era parte da família.

—Muito obrigada por se preocupar, e já lhe disse para me chamar apenas de Anelise… Está com fome?— minha cabeça tentava se concentrar na maquiagem, mas meu estômago implorava por comida de verdade.

—Um pouco, presumo que você também… O mesmo de sempre?

—Sim, e de pizza, não esqueça do…

—Caldo de cana, eu sei.

Eu sorri, ele me conhece tão bem.

—Pegue algo para você também, se mamãe perguntar digo que eu comi tudo sozinha.

Eu sabia que se dissesse para mamãe que comi dois pastéis e tomei dois copos de caldo de cana ela não estranharia e talvez nem reclamasse tanto, meus hábitos de vida me garantiam que não ficaria acima do peso, e isso era só o que a importava, manter meu peso e brilhar nas passarelas.

Comi junto de Paulo, como sempre fazíamos depois das minhas longas viagens, eu gostava da nossa relação, ele não era do tipo que me dava lições de moral toda hora, me divertia e tinha por mim um cuidado quase que paternal, eu sentia falta disso as vezes, do cuidado e do carinho, mas é como se quase sempre, faltasse algo, você me entende?

Quando terminamos a refeição, partimos direto para casa, sem mais pausas no caminho.

O dia está passando rápido hoje, não acha? 

Assim que chegamos pude assistir mais uma vez os portões enormes se abrindo, haviam muitos fãs, como sempre. Eu sentia um pouco de medo de descer do carro para cumprimentá-los. 

Alguns deles agiam como se eu não fosse humana, tirando fotos minhas sem parar, me cegando com os flashes de seus celulares, empurrando e machucando uns aos outros para que pudessem me dizer apenas um "oi".

Antes eu respondia alguns no Instagram, mas fui perdendo a vontade de interagir com a maioria, muitos faziam comentários estranhos e pareciam obcecados, me assustava.

O Último AtoOnde histórias criam vida. Descubra agora