Já eram 3h da madrugada, coloquei um vestido preto de cetim, bem ajustado em minha cintura, um colar de pérolas enfeitava meu pescoço e um salto dourado me elevava. Peguei minha bolsa, recheada de notas de 200, estava vestida como a garotinha rica e mimada que eu era.
Liguei para aqueles que não sei se posso chamar de amigos, afinal, nem sequer respondem minhas mensagens, mas pasmem, quando disse do que se tratava, disseram que estariam lá.
Dirigi até lá no meu bebê favorito, o Lamborghini Huracán, preto fosco como uma noite sem estrelas, para combinar com meu vestido, é claro.
Nem sequer se importavam se eu mantinha ou não a droga do luto, foram direto ao que lhes interessava:
—Trouxe a parada Lise?
—Foi mal anjinho, a polícia confiscou meus doces.
—Porra, que merda. Vou dar um jeito de arranjar.
—Vai com calma Daniel, a Lise disse que quer ficar sóbria hoje.
Então todos caíram numa gargalhada estridente.
—A polícia te deu um susto, foi?
Riram ainda mais. Eu não me importo que rissem disso, hoje vou segurar a barra, amanhã quem sabe, mas hoje, mais uma vez, não vou usar nada.
Haviam várias pessoas lá, filhinhos de papai como eu, com seus carros grandes estacionados, carros estes tão caros que podíamos comprar aquela capital com o valor deles.
—Olha só, não achei que se interessasse por isso...vem cá, já superou a morte da mamãe, Richtofen?— dizia um dos rapazes, com seu peito estufado apontado na minha direção, ao lado do seu carro com um baseado entre os dedos. Por que todo mundo tem que me chamar dessa porra? Vão se foder todos vocês.
—Vai comer poeira seu merdinha.— aquilo me irritou, mas hoje eu ia descontar em outra coisa. Era dia de relembrar os velhos tempos, dia de racha.
—Quer mesmo correr com o Sanches? Esse cara é louco.— Ágata perguntou pra mim.
—Eu vou mostrar pra ele o que é loucura de verdade.
Me aproximei do tal Sanches, nunca ouvi falar naquele nome.
—Melhor ouvir sua amiga, vai perder sua pose quando eu te humilhar.
—Só tá dizendo isso porque tá com medo de perder pra uma mulher.
—Então tá, morena. Mas se eu ganhar, vou te levar pra minha casa. Aceita?— os amigos dele riram daquela ousadia inesperada.
—Negócio fechado. Se eu ganhar, vou furar os dois pneus do seu carro e você não corre mais com ele hoje.
—Isso é jogo sujo sua vadia…
—Deixa pra chorar depois.
Fui em direção ao possante, girando as chaves em meu dedo, é claro que ele não se demorou, entrou no seu também, tão potente quanto o Lamborghini.
Iríamos dar 3 voltas na avenida, o último a chegar era o perdedor.
Como nos filmes, a garota bonita se posicionava entre nós, pronta para dar a largada.
Liguei o som do carro, se for para ser pega pela polícia, que seja emocionante.
Supermassive ao fundo, nos encaramos pela janela, ele tentava me intimidar com o ronco do motor, mas aquilo não me assustava.
O sinal foi dado.
Arranquei em direção a avenida, mais uma vez estava imersa naquela sensação de liberdade, o vento cortando meu rosto, meu salto no acelerador.
Ele me ultrapassou, droga, preciso ir ainda mais rápido, pisei fundo, ele não vai ganhar essa porra.
Ele parecia apressado para ganhar, acelerava afim de beirar sua velocidade máxima.
Ele completou a primeira volta, eu completei em seguida, fazendo o pneu cantar… caralho, tô ficando pra trás…
Passei por cima dos meus próprios limites enquanto dirigia naquela velocidade, apesar da certa tristeza que me dominava, aquela situação me fazia sentir como a rainha daquela cidade, como se ela estivesse sobre o meu domínio, como se reinasse sobre ela.
A cidade era só um vulto, uma mistura de luzes e ruídos que eu mal ouvia por causa do motor e o som alto.
You set my soul alight.
Meus pensamentos se dissipavam pelo ar, a morte de Antonella, a verdade vindo á tona, papai e sua outra família, os amigos falsos…
Já se sentiu assim? Preso num sentimento tão incompreendido e tão abstrato. É como se eu estivesse entre a tênue linha do amor e da raiva que sentia por aquele cadáver que outrora fora minha mãe.
Sabe leitor, às vezes a vida parece não ter sentido, por isso é muito melhor viver ela assim… colocando um risco muito alto.
Fechei meus olhos por breves 5 segundos, sentindo o vento em meu rosto.
Abri os olhos novamente, droga! A curva da segunda volta…
Foi um drift lindo, o pneu cantando novamente, ainda mais alto do que da última vez, deu uma emoção a mais àquela cena.
Ele ainda estava à minha frente… DESGRAÇADO!
Eu não vim aqui pra perder, eu não jogo para perder, e não faria isso, muito menos na sua frente, hihi.
And the superstar's sucked into the supermassive…
Essa música… ela me deixa num estado de emoção diferente, um estado que só consigo com as drogas, porém agora sóbria.
Quem diria que eu ficaria dois dias sem consumir nada do tipo, a única coisa tóxica que estou em contato ultimamente, são essas pessoas que me rodeiam…
Já pensou se eu simplesmente atirasse o carro beirando seus 280 km/h contra aquela multidão de cuzões?
Foi inevitável conter o riso, um riso tão genuíno que me assustou… que tragédia.
Estamos quase terminando a terceira volta, ele segue na minha frente…
EU NÃO VOU DORMIR COM AQUELE BABACA, VAI ANELISE, CARALHO!
Meti o carro atrás do dele, se ele não sair da minha frente vou detonar aquela merda e nós dois vamos morrer, que se foda tudo isso.
Vamos Sanches, onde está a porra da sua loucura, seu imbecil de merda?
Atirei o carro contra o dele, acelerando ainda mais, ele buzinou alto na frente e jogou o carro para a outra pista, ultrapassei ele, finalizando com mais um drift.
Cheguei em sua frente, é claro.
Desci do carro e ajeitei meus cabelos, tirando uma mecha do meu olho, girei a chave nos dedos e tirei da minha bolsa um canivete assim que ele estacionou o seu carro. Ele bateu forte a porta, claramente com raiva, nada que me surpreenda.
—SUA FILHA DA PUTA, VOCÊ IA MATAR A GENTE?!
Eu cai numa gargalhada, isso é sério?
—Poxa, achei que sei lá, você era tipo o Coringa, sabe? Com uma insanidade á mil.— soltei um risinho, afim de provocá-lo.
—Vai logo sua puta… faz logo o que você quer… vadias como você só servem pra encher de bebida e comer.
A vontade agora não era furar apenas os pneus, mas tinha uma ideia melhor.
—Ah Sanches, foi ótimo correr com você, não vou furar seus pneus para você ter a chance de perder para mais alguém hoje, mas você pode pegar isso… como um prêmio de consolação…
Tirei da minha bolsa uma nota de duzentos reais e joguei em seu peito. É claro que ele tentou vir pra cima de mim, mas o seguraram.
Há tempos não sentia essa sensação.
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O Último Ato
Детектив / ТриллерAnelise Montenegro, uma jovem modelo do sul brasileiro, nasceu com a sorte de uma família rica, é claro que toda família tem seus defeitos, mas a sua sempre fora por todos considerada como bem estruturada. Ou pelo menos era isso que ela pensava, ant...